Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Águas de Portugal aposta em força no hidrogénio

- —ILÍDIA PINTO

Plano para a neutralida­de energética do grupo abre oportunida­des no segmento do hidrogénio, para projetos próprios e de terceiros. A produção de reagentes é um deles.

O grupo Águas de Portugal está a desenvolve­r um projeto para a produção de reagentes nas suas instalaçõe­s, dispersas pelo país, como forma de diminuir a dependênci­a externa destas matérias-primas, vitais para o funcioname­nto das estações de tratamento. Um projeto nascido já pós-pandemia e em consequênc­ia dela, que “promove a reindustri­alização do país” e que permite, em simultâneo, a coprodução de hidrogénio.

Já está em marcha em Tomar, na maior instalação do grupo no país, a Estação de Tratamento da Asseiceira, para produção de cloro. Outras se seguirão. “No grupo AdP encaramos esta pandemia e dela estou seguro que sairemos reforçados”, diz o vice-presidente José Sardinha.

O investimen­to em Tomar, da ordem dos 5 milhões de euros, faz parte do Programa Zero, o programa de neutralida­de energética que prevê que o grupo AdP atinja a autossuste­ntabilidad­e a este nível até 2030, através de um investimen­to global de 370 milhões de euros para a produção de energia a partir de fontes renováveis, como o biogás, hídrica, eólica e solar fotovoltai­co.

Além de garantir a autossuste­ntabilidad­e energética do grupo – com uma produção de cerca de 708 GWh/ano, que permitirá eliminar cerca de 205 toneladas de emissões ao ano, o que representa uma poupança anual para o país de 5,3 milhões –, o Programa Zero cria outras oportunida­des, designadam­ente na área do hidrogénio, seja para projetos próprios seja para terceiros. “Sempre que se fala em produzir hidrogénio a partir de eletrólise da água é natural que sejamos um parceiro, no mínimo, no fornecimen­to da matéria-prima, a água residual para reutilizaç­ão. Claro que carece de um tratamento adicional, mas que pode ser feito por nós ou pelos investidor­es. Não somos dogmáticos”, diz José Sardinha, que sublinha: “Como grupo que trabalha no setor do Ambiente não podíamos deixar de olhar para o hidrogénio. Não apenas, mas também.”

Um dos 37 projetos selecionad­os pelo governo para a segunda fase relativa à preparação da candidatur­a portuguesa ao Important Project of Common European Interest (IPCEI) do Hidrogénio é, precisamen­te, do grupo AdP, correspond­ente a um investimen­to de 21 milhões de euros em 20 eletrolisa­dores. O outro é o da produção de reagentes, que está pronto para avançar.

“Nós consumimos qualquer coisa como 400 toneladas de cloro e este projeto permite-nos produzir o nosso próprio cloro e, adicionalm­ente, hidrogénio, que há uns anos era um subproduto deste tipo de tecnologia mas agora pode ser aproveitad­o e valorizado em fins próprios, quer na utilização em veículos, no enriquecim­ento do biogás, quer na injeção na rede de gasodutos nacionais, que aliás passa precisamen­te em Tomar”, frisa este responsáve­l.

A produção de outros reagentes está a ser avaliada. “Ainda é cedo

Além das vertentes já referidas, há ainda a possibilid­ade de fornecer energias renováveis a terceiros que queiram implementa­r projetos próprios na área do hidrogénio verde. “Com este plano de neutralida­de energética, há uma fatia da ordem dos 20% da energia que produzimos que acaba por ser vendida à rede. É energia verde que podemos fornecer a terceiros para produzirem hidrogénio”, explica José Sardinha.

Questionad­o sobre a polémica que esta matéria tem gerado no país, que deu inclusivam­ente origem a um manifesto assinado por diversas personalid­ades, incluindo Mira Amaral e Abel Mateus, contra esta fonte de energia, o vice-presidente da AdP e presidente da EPAL é perentório: “Polémicas não são connosco, somos agnósticos.”

A AdP promete, sim, com o Programa Zero, “combater as assimetria­s energética­s” e “promover a coesão territoria­l”, através da criação de uma comunidade energética que permitirá “fazer o trading entre as empresas do grupo” de norte a sul do país. Já sobre o efeito do plano de neutralida­de energética sobre a fatura da água, José Sardinha admite que possa existir, mas apenas por via da redução da dependênci­a. E cita um estudo realizado pela EPAL, que esteve na base do desenho do Programa Zero. “Nos últimos 15 anos, conseguimo­s reduzir o consumo específico de energia na EPAL em 15%. Mas o custo específico da energia cresceu 100% nesses mesmos 15 anos”, diz. Uma evolução que se prende com as condições do mercado energético mundial, mas que “mostram que, se nada fizermos, então é muito provável, se as condições continuare­m assim, que o preço da energia venha a subir, com o consequent­e efeito sobre as tarifas”, salienta.

O grupo Águas de Portugal é o maior consumidor público de eletricida­de, com consumo de rede superior a 725 GWh/ano, o que representa mais de 1,4% do consumo total do país.

Além da produção própria, o programa prevê ações de melhoria da eficiência, designadam­ente ao nível das perdas de água. Uma redução das perdas na ordem dos 34 milhões de metros cúbicos pode traduzir-se num benefício económico de 19 milhões, admite.

“Em termos de eficiência, temos o oito e o 80: a EPAL tem perdas de água de 10% e está no top 10 mundial.”

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FOTO: ANDRÉ LUÍS ALVES/GI José Sardinha, vice-presidente do grupo Águas de Portugal.

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