Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Cem anos depois, a Avenida dos Aliados abre-se ao luxo

- —JOANA PETIZ e LEONEL DE CASTRO (fotografia)

Aos hotéis seguiram-se as lojas incluindo Tod’s e Burberry. O novo centro do consumo de alto segmento no Porto cresce, quase imune à pandemia. E a digitaliza­ção tem dado um empurrão.

Passado o centenário daquela avenida da baixa portuense, talvez quem espreite os Aliados não adivinhe que ali está a consolidar-se o centro das marcas de luxo a norte. Entre tapumes e gruas – instrument­os de uma reabilitaç­ão que lhe recupera o esplendor da inauguraçã­o, em 1917 –, já é possível descobrir algumas das melhores marcas nacionais e internacio­nais. Boutique dos Relógios Plus, David Rosas, Fátima Mendes, mas também a Tod’s e a Burberry, duas das assinatura­s mais fortes do grupo Brodheim, que está a apostar em força nesta localizaçã­o.

“A cidade do Porto voltará a concentrar um número importante de turistas e a Avenida dos Aliados será, por excelência, uma escolha”, assegura Lídia Simão, sales executive manager do grupo Brodheim.

Em entrevista ao Dinheiro Vivo, a responsáve­l conta que as duas lojas, inaugurada­s respetivam­ente em dezembro e já neste março, fazem parte de “um movimento natural do pré-covid”. “O grupo Brodheim procurava há muito tempo um local que fosse inspirador para estas prestigiad­as marcas na cidade do Porto. A Avenida dos Aliados é considerad­a a localizaçã­o de luxo onde de futuro se concentrar­á o maior número de lojas premium nesta cidade, por isso fizemos essa escolha.” Que recaiu, nos casos de ambas as marcas, no edifício Aliados 107, antiga sede do jornal Comércio do Porto.

Sendo a Avenida dos Aliados uma localizaçã­o A+++, as rendas são sempre negociadas acima da média do mercado, pela sua visibilida­de, tráfego e prestígio. “A nossa renda mensal ronda os 43€/m2”, esclarece Lídia Simão.

A subida dos Aliados a este estatuto premium começou há quase uma década, com a chegada de hotéis como o Interconti­nental, no Palácio das Cardosas – onde se instalou também a Fashion Clinic de Paula Amorim –, o Astória ou o Monumental Palace. Mas rapidament­e se seguiram as griffes e, naturalmen­te, os clientes – nem todos estrangeir­os, o que tem sido uma vantagem relativame­nte à Avenida da Liberdade, em Lisboa, garante Lídia Simão.

“Logo quando abrimos a Tod’s e a Burberry tivemos uma afluência superior à que esperávamo­s, as vendas excederam as nossas expectativ­as iniciais.” Como é natural, a covid quebrou o ritmo de visitas e descoberta das lojas, mas isso “foi menos significat­ivo no Porto do que em Lisboa (cujas vendas dependem 80% das compras de estrangeir­os)”, diz. “O Porto é a segunda cidade a nível nacional, em termos de concentraç­ão de poder de compra e a procura turística também se estava a intensific­ar antes da pandemia”, lembra a sales executive manager do grupo Brodheim. “E temos vindo a recuperar”, reconhece. “Em agosto, registámos vendas inferiores ao nosso budget de 35% na Tod’s e de 45% na Burberry do Porto.”

3,5 milhões de investimen­to

Com um business plan construído a cinco anos, que permite à Brodheim “ter algum jogo de cintura”, a representa­nte de marcas premium investiu 3,5 milhões de euros nestes dois espaços, construído­s, mais do que meras lojas, enquanto conceito de luxo. Um movimento que a Brodheim, que abriu também em fevereiro uma Emporio Armani no Aeroporto de Lisboa, pretende prosseguir “logo que esta situação da covid seja ultrapassa­da, de uma forma natural, com intenções de abertura de lojas

das marcas que representa­mos noutras localidade­s do país”.

Se mesmo nas mais duras crises não faltam clientes neste segmento, desta vez o confinamen­to e o fecho de fronteiras obrigaram a alguma reinvenção. “Foi importante existir uma digitaliza­ção”, reconhece Lídia Simão, explicando que o grupo Brodheim, pelo seu perfil de representa­ção de marcas premium, se empenhou em disponibil­izar aos seus clientes uma experiênci­a de compra em que a qualidade e o serviço exigido por este segmento não foram descurados, combinando a conveniênc­ia e a facilidade de comprar que o digital permite.

Serviço à medida

“Criámos novos serviços, como o conversati­onal shopping, em que os nossos clientes passaram a poder comprar através de WhatsApp ou por chamada e simplesmen­te recolher a sua compra na loja dos Aliados, sem ter de sair do carro ou optando por entrega em casa”.

O grupo teve a vantagem de ter antecipado a digitaliza­ção, não sendo assim apanhado de surpresa. “Já tínhamos feito este movimento para o online com o lançamento da plataforma Betrend.pt, onde se podem encontrar marcas como a Vans, Timberland, Armani Exchange, DKNY, Nixon, entre outras.” No caso das marcas de luxo que representa, o grupo tem de responder à vontade de clientes que “apreciam a qualidade, o serviço e os valores intangívei­s da marca, de uma forma diferente dos restantes consumidor­es. Têm uma relação emocional com as marcas das quais gostam, as suas love brands, e naturalmen­te têm o poder de compra necessário para poder usufruir das mesmas”.

Os resultados ainda não são partilháve­is, mas esta digitaliza­ção permitiu já, admite a responsáve­l, chegar a mais jovens. “Sentimos cresciment­o de clientes mais novos, mesmo porque tem sido parte da estratégia das marcas do Grupo Brodheim. A Tod’s, por exemplo, cresceu 4% entre millennial­s e a Burberry 11% na geração Z.”

Conservar clientes estrangeir­os é outra vantagem das vendas digitais. “As marcas de luxo têm um peso significat­ivo de estrangeir­os, uma média de 65%, enquanto que nas restantes marcas da Brodheim acontece o inverso”.

“No contexto do nosso grupo e dependendo das marcas, temos vindo a ter resultados muito variados”, pelo que prefere não avançar números. Mas admite, apesar de tudo, que este será um ano difícil para o setor da moda. Mesmo no segmento luxo.

históricas. Os portuguese­s deixaram de comprar e de investir. E isso nota-se quando se olha para o contributo de cada uma das componente­s do PIB.

Famílias gastaram menos

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FOTO: DR A nova Burberry abriu na primavera no edifício 107 Aliados.
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FOTO: ORLANDO ALMEIDA/GLOBAL NOTÍCIAS Os portuguese­s simplesmen­te deixaram de fazer compras, durante a pandemia, exceto de comida.

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