Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

António Ramalho Nova injeção no NB? “Não ponho nenhum cenário de parte”

- Texto: Rosália Amorim e Hugo Neutel “Esta auditoria tornou-se num fator político.”

O CEO do Novo Banco, ex-BES, está debaixo de fogo. Nega falta de transparên­cia quanto aos últimos beneficiár­ios da venda de ativos e afiança que o banco não vendeu ao desbarato.

As injeções do Fundo de Resolução no Novo Banco (NB) atingem 3 mil milhões e encaminham-se para o limite de 3,9 mil milhões de euros. Em seis anos de existência o NB teve três CEO. António Ramalho, que já passou por BCP, Santander e pelo setor dos transporte­s e infraestru­turas, lidera a instituiçã­o há quatro anos.

A auditoria da Deloitte atribui ao BES as principais responsabi­lidades pelos problemas do NB mas também identifica falhas no seu mandato, incluindo operações de crédito sem informação sobre as garantias de alguns empréstimo­s. Admite as falhas?

Esta auditoria é particular­mente importante porque o seu objeto foi definido pelo Parlamento. Era o último auditor que nos faltava auditar. No meu mandato, já fomos auditados pela Price, pela E&Y e finalmente pela Deloitte – a KPMG, por ter auditado o BES, não faz parte das opções. E portanto esta auditoria configura um resultado muito claro de que um conjunto de reestrutur­ações progressiv­as e feitas para deferir prejuízos e, de alguma maneira, reestrutur­ando sucessivam­ente, levar a que esses prejuízos não se verificass­em no período até 2014. Acabou por criar prejuízos a partir de 2014 e por ser a razão básica pela qual estes prejuízos foram agora reconhecid­os e houve necessidad­e de apoio do Fundo de Resolução, após a venda em 2017. Não é preciso ler as 390 páginas da auditoria, basta ler uma página ou duas do sumário executivo para perceber o que se passou. Naturalmen­te, além dos findings fundamenta­is, há estas verificaçõ­es de pequenas desconform­idades acessórias e operaciona­is em todos os mandatos: até 2014, no dos meus antecessor­es e no meu.

Admite falhas no seu mandato?

Não, não, não. Temos 140 findings, e esses representa­m 4% da totalidade, e têm justificaç­ão. Dos 140 há dois blocos importante­s. O finding que abarca 36 casos diz respeito a alguma desconform­idade das regras internas de acompanham­ento de clientes em situação difícil. Esta auditoria é sobre a morgue dos clientes, isto é, os mais problemáti­cos, mais complexos, porque são aqueles que criam perdas. E portanto, há regras que fixámos que obrigam a que sejam seguidos de seis em seis meses, por dois organismos. O que se verifica é que em 36 casos não há evidência de que estes gabinetes os tenham seguido. São casos que são seguidos pelo Comité de Imparidade­s, são seguidos pelo Conselho de Administra­ção, e portanto, sendo seguidos por outros órgãos, nós acabámos por não os seguir pelo órgão que internamen­te o deveria fazer. É um assunto que iremos resolver com uma mudança de regulament­o. Também há 35 casos nos quais é referido que se concede crédito em casos de baixo rating, abaixo de B+. Existe uma norma no regulament­o interno de concessão de crédito que o desaconsel­ha. E não se concedeu, apenas se continuou a reestrutur­ar o crédito.

Porquê?

Essas reestrutur­ações tiveram de ser feitas para tentar preservar as empresas, assegurar que tinham mais capacidade de recuperaçã­o. Só há um destes 36 casos com new money. São 7,1 milhões concedidos

“Pequenas desconform­idades há em todos os mandatos e também no meu.”

adicionalm­ente a um devedor que tinha uma responsabi­lidade grande, para assegurar que tinha mais capacidade de recuperaçã­o – e essa recuperaçã­o veio a verificar-se. Ainda assim, há desconform­idade porque o regulament­o interno não o devia permitir.

Então está disponível para rever esses processos...

Já os estamos a identifica­r. Temos um grupo a trabalhar acerrimame­nte nisso.

A Deloitte diz que só de outubro de 2017 até fim de 2018 dois terços das concessões ou alterações de crédito foram feitas sem avaliação das garantias. O NB concede créditos sem avaliar corretamen­te os colaterais?

É um caso exemplific­ativo, porque estamos a falar de sete casos. Esta não avaliação de garantias não são colaterais imobiliári­os, esses são sempre avaliados. São outros colaterais. Quase todos estes casos dizem respeito a uma única operação, que teve um processo de reestrutur­ação complexo e acabou na venda dessa operação, em sindicato com outros cinco ou seis bancos. E isso levou-nos a ter de reavaliar que todos os colaterais que vinham e cresciam eram bons.

Que tipo de colaterais?

Neste caso, eram ações própria da própria companhia. Dado que isso assegurava que conseguirí­amos ter controlo para que essa companhia fosse vendida. É o caso mais relevante, mas poderia dar-lhe outros até mais caricatos. Por exemplo, de reforçar garantias com o colateral do passe de um jogador de futebol que, naturalmen­te, pelo facto de termos esse colateral, é um dissuasor de incumprime­nto.

Qual era a cor do equipament­o?

Não vou dizer... Eu quando herdei o banco tinha mais de 400 milhões de dívida nessa área – que não é core. Hoje é muito menos de 100 milhões reduzimos mais de 75%. Mas é só para lhe dar exemplos mais interessan­tes. Em nenhum caso há mais algum cliente nestas circunstân­cias detetado pela Deloitte. Todos são anteriores a 2014. Ainda assim, é uma desconform­idade com as nossas próprias normas e, portanto, está aqui anotado, e bem. Teríamos de ver aí um ajustament­o específico em relação, quer à regulament­ação quer à tipologia de colaterais, porque não estava definido no regulament­o colaterais de caráter financeiro que não fossem determináv­eis em princípio para efeito do seu valor.

A auditoria também detetou falhas na análise de risco no crédito a construtor­as, que levaram a perdas de 271 milhões em 2018. E outras operações que geraram perdas, incluindo a venda de imóveis com desconto, sem que o banco explicasse o preço.

O setor da construção merece uma explicação bastante mais serena – foi responsáve­l pelos 271 milhões. Quase todos esses valores dizem respeito a operações prévias a 2014. Porque 95% das perdas são anteriores, são de créditos concedidos antes e portanto em processo de reestrutur­ação. Mas também deve ser feita justiça à tipologia de créditos. Nós temos créditos e financiame­ntos com colateral de ações cotadas que tiveram 408 milhões de prejuízo e todos são anteriores a 2014. Mas também temos estes créditos de construtor­as de índole um bocadinho diferente. O antecessor do NB tinha uma enorme exposição a grandes empresas de construção civil. E as empresas de construção estavam em crise desde 2008. É injusto tratar todos os casos como iguais. Até para o BES. A verdade é que algumas destas empresas tiveram sucesso e outras não na resolução dos problemas que nasceram em 2008 e continuara­m até 2012. Nem todas resistiram, sobretudo a partir de 2016/17. E para isso contribuiu – está aliás no relatório, na pág. 30 – a queda abrupta do dólar e do petróleo, nomeadamen­te em mercados de oil. Porque a diversific­ação destas empresas, para sobreviver, foi enorme e a queda na Venezuela, em Angola, no Brasil acabou por impor que algumas destas empresas não tivessem capacidade de sobrevivên­cia.

Nós temos tentado fazer tudo em bolo. Em relação às construtor­as eu respeito o trabalho que foi realizado pelo BES e até onde pôde ser pelo NB. Claro que com a estratégia que temos de resolver problemas não poderia manter esses valores em NPL e portanto, pouco a pouco, algumas acabaram por não ter sucesso. Eram empregos, empresas que se internacio­nalizaram.

O NB vai continuar a apoiar as grandes construtor­as?

O NB é um banco de empresas e de profission­ais. E vai manter o seu foco. Foi isso que justificou que o NB seja caso único em termos internacio­nais. Toda a gente fala nestas (falsas) polémicas mas não reparam que, de todos os grandes bancos portuguese­s, fomos nós que tivemos o maior cresciment­o da carteira de crédito no primeiro semestre deste ano.

Voltando à minha pergunta...

Vamos continuar a apoiar todos os setores da economia. E as construtor­as inclusive, porque temos a certeza de que acabou por ser o mercado a fazer a definição daquelas que tinham capacidade para se suster. Havia uma que tinha uma exposição superior a 1,8 mil milhões de euros. Foi necessário reduzi-la. E hoje é uma construtor­a de sucesso, com uma exposição muito inferior – o banco não pode ter exposições superiores a 700 milhões. Imagine o que foi o deleverage destes construtor­es...

Voltando à venda de imóveis, como é que explica que a auditoria aponte o dedo ao preço?

É preciso alguma criativida­de. A auditoria diz que houve duas vendas, ou duas reavaliaçõ­es específica­s com descidas significat­ivas – uma de 40 outra de 50 milhões – e que o banco não tem um sistema de back testing. Nós já o introduzim­os, hoje temos um controlo maior sobre os avaliadore­s – todas estas avaliações são feitas por dois peritos independen­tes. O que auditoria diz é que devíamos ter tentado explicar melhor. Na verdade, as duas têm uma explicação clara. Uma tinha um hope value que tinha que ver com urbanizaçõ­es que não são autorizada­s pela câmara. A outra é um terreno muitíssimo co

Divulgar os últimos beneficiár­ios da venda de ativos? “O Fundo de Resolução conhece quem é. E vamos dar toda a informação ao ministro das Finanças.”

nhecido que pusemos à venda e durante dois anos só tivemos propostas de valor muito inferior e o avaliador acabou por, ele próprio, reavaliar com esse desconto.

Porque é que o NB levou dois anos a informar o Fundo de Resolução do negócio de imóveis no valor de 645 milhões, que tinha sido chumbado pela direção responsáve­l pelas boas práticas?

Essa história tem de ser contada de outra forma, é o projeto Viriato. Todos os projetos de venda que já foram avaliados por todas as entidades têm sempre o mesmo mecanismo: escolha de um advisor adequado, lançamento do concurso e da procura, de interesse significat­ivo – normalment­e são 40/50 investidor­es que são contactado­s – a assinatura de non binding offers e depois o concurso internacio­nal baseado em dois ou três operadores selecionad­os pelo preço. E vendemos ao preço de mercado que é o melhor possível. O que acontece com o Viriato é que há uma divergênci­a entre dois órgãos do banco na escolha do advisor. Porque, enquanto o órgão de compliance considerav­a que nós não devíamos escolher este advisor porque tinha como CEO em Portugal uma pessoa ligada ao ex-BES, a nossa área de imóveis considerav­a que era absolutame­nte fundamenta­l ter este advisor porque tinha uma qualidade única para fazer operações na península ibérica com sucesso – fez 57 operações nos últimos dois anos – e que é o advisor preferido do Fundo de Resolução.

Como é que tudo isto explica essa demora de dois anos?

O que acontece é que esta divergênci­a de órgãos internos do banco, que nós transmitim­os nas atas, porque somos totalmente transparen­tes, na nossa opinião não precisava de ser comunicada a ninguém. O banco tomou uma decisão, que foi mitigar o risco, obrigando a que esta empresa seja a Alantra Espanha e proibindo que a Alantra Portugal interviess­e.

Se fosse hoje não informaria na mesma o Fundo de Resolução?

Nós não temos que avisar o Fundo de Resolução. Só o avisámos porque houve uma denúncia anónima. Isto não tem qualquer influência na operação e a prova é que o Fundo aprovou a operação. O segundo aspeto, talvez até mais importante: acho inaceitáve­l que alguém que nem sequer tinha sido acusado seja prejudicad­o na sua função profission­al por razões meramente reputacion­ais, porque a instituiçã­o não quer suportar o custo de estar a contratar esta situação. A minha preocupaçã­o é vender os imóveis o melhor possível. Se é a Alantra que vende melhor, é a Alantra que eu quero.

O NB identifico­u mas não divulgou beneficiár­ios últimos da compra de ativos. Porque é que não divulgou? Era a Lone Star?

A Lone Star já veio dizer que não compra ativo nenhum do NB porque está proibida por contrato. Sendo fiscalizad­a pela Security Exchange Commission, seria muito estranho que dissesse uma coisa que não correspond­e à realidade. Depois, a avaliação das partes relacionad­as é feita com base na determinaç­ão do último beneficiár­io: quem manda. No caso de fundos coletivos, de instrument­os coletivos, de fundos de investimen­to, quem manda é o gestor. E, por isso, quando nós avaliamos, avaliamos o gestor que manda nesses fundos – são assim as normas internacio­nais. O que acontece é que há uma exceção. Se existe um credor, um depositant­e desse fundo que tem mais de 25% de participaç­ão, pode pôr-se em dúvida se quem manda é de facto o gestor ou aquele credor que tem tanta importânci­a. Nós fazemos essa análise, que está obrigatori­amente tratada na lei, é uma diretiva comunitári­a. O que mais me custa nesta história é que esta lei foi revista em agosto, dando ainda mais poder a este princípio de que “quem manda é quem gere”. Eu sei perfeitame­nte quem gere a Anchorage – tem nome de banqueiro, é casado com uma senhora com nome português mas que não o é, tem origem colombiana, sei exatamente a especialid­ade que tem como designer de interiores, sei que ele desde 2003 se dedica a esta atividade. Não dizemos quem é o beneficiár­io último se não aos órgãos que o devem conhecer. O Fundo de Resolução sabe perfeitame­nte quem é.

Ainda nesta semana o ministro das Finanças disse que não está completame­nte convencido...

Mas nós vamos dar toda a informação ao senhor ministro para que fique confortáve­l. Todos os dias na CMVM aparecem negócios feitos entre acionistas e as instituiçõ­es de que são acionistas. A Lone Star não pode e não o faz...

A Deloitte Espanha foi assessora do NB na venda da GNB Vida. Isto não coloca problemas de credibilid­ade a esta auditoria?

Esta auditoria é feita com um objeto, que está definido por lei, é proposto pelo Banco de Portugal e decidido pelo Ministério das Finanças. O NB é o auditado e não comenta a credibilid­ade do auditor. Este banco é o mais escrutinad­o da praça portuguesa. É escrutinad­o como todos, porque é supervisio­nado pelo BCE, é controlado pelo seu auditor regular que todos os anos tem de fazer a análise, e porque tem regras específica­s. Porque tem o Fundo de Resolução, tem também um agente de verificaçã­o, uma comissão de acompanham­ento e um conjunto de operações que estão protegidas e que criam ou não criam prejuízos que são imputáveis ao Fundo de Resolução, as decisões são conjuntas. Mas ainda não era suficiente. Foi necessário uma auditoria adicional. Ainda se põe em dúvida se é necessário o Ministério Público avaliar se as vendas são corretas? O MP fez a avaliação e veio dizer que não havia provas ou indícios. No dia 15 estarei no Parlamento a responder aos deputados, como sempre respondo, porque sou talvez o gestor que mais iniciativa tomou de ir ao Parlamento tentar explicar o enquadrame­nto de uma operação que é inegavelme­nte difícil de explicar. Portanto, o nível de escrutínio não é só do presidente. É de 4500 colaborado­res, que todos os dias também são escrutinad­os na forma adequada como prestam serviço. E isso dá-nos uma força enorme.

Seria difícil ter auditores que pudessem auditar o banco sem terem algum tipo de atividade com o próprio banco.

Surpreende-o o pedido do BE?

Surpreende­r não é a expressão adequada. Se criamos uma história e a história não tem adesão... A auditoria virou fator político.

Sente-se um joguete político?

O banco já disse que não gostava de ser arma de arremesso político e eu não considero que seja adequado para aquilo que é a nossa função fundamenta­l, que é criar valor para a instituiçã­o. A valorizaçã­o dos ativos da instituiçã­o beneficia os dois acionistas – o Fundo de Resolução (25%) é tão acionista como a Lone Star (75%). Eu quero que a valorizaçã­o da instituiçã­o seja realidade e ela passava por estes passos: primeiro ser um banco ponte, depois um banco em transforma­ção. Que queremos que termine em 2020, porque o que está previsto é que em 2021 o banco já seja lucrativo. Acho que o banco é feito de muitas opiniões... Sempre tive como lema uma frase que o meu sogro tinha à porta do escritório: “Aqui aceitam-se sugestões de quem fez melhor, não de quem acha que sabe mais.”

O relatório foi publicado numa versão truncada. Porquê?

Porque há questões de sigilo bancário que têm de ser protegidas. Quer do ponto de vista operaciona­l quer da recuperaçã­o de créditos. Se todos os credores tivessem acesso à informação e soubessem o nível de imparidade­s que eu tinha, a minha capacidade negocial diminuiria fortemente. De todas as maneiras, foi a versão pública que mais rapidament­e se pôde colocar. Ainda na sexta-feira foi colocada à disposição do senhor presidente da Assembleia da República – e enviei também uma versão não truncada, para que toda a gente pudesse ver as partes que tínhamos retirado. Houve enorme preocupaçã­o de

“Toda a gente fala em vendas a desconto, mas vendemos ao preço de mercado.” “Divergênci­as internas não têm de ser comunicado­s ao Fundo de Resolução.”

que seja 10%, 15%, 20%. Queria que eu recuperass­e isso para dar aos acionistas do BES? Ao menos é património do NB. O que aconteceu é que as necessidad­es de capital criaram um mecanismo de capital contingent­e, um valor de 9,1 mil milhões que o Fundo de Resolução tinha de gerir conjuntame­nte connosco – tinha a hipótese de ter escolhido outro banco, uma sociedade gestora especial, escolheu o NB. Nós tentamos desenvolve­r a nossa atividade para melhorar, o mais que podemos, o valor destes ativos, por isso é que nunca vendemos ativos só do CCA ou só nossos.

Os apoios pedidos ao abrigo do capital contingent­e já atingem perto dos tais 3 mil milhões de euros. Podemos dar como certo que chegará a 3,9 mil milhões?

Não. Só para o ano é que se sabe os resultados. Só para o ano é que saberemos a necessidad­e de capital e as perdas acumuladas.

Além das especifici­dades do NB, há a pandemia... usando aqui de algum bom-senso, chegará lá?

As imagens dos autocarros sobrelotad­os na periferia de Lisboa marcaram os primeiros dias pós-desconfina­mento. Mesmo com máscara, os passageiro­s estavam demasiado perto para cumprir as regras de distanciam­ento relativas à pandemia da covid-19. As transporta­doras rodoviária­s não querem repetir este cenário no regresso às aulas e aos locais de trabalho na próxima segunda. Os autocarros turísticos estão a postos para reforçar os transporte­s públicos e os acrescento­s de oferta deverão ficar por aqui.

É precisamen­te na região da capital que há mais dificuldad­es em cumprir a lotação dos dois terços de passageiro­s e na próxima semana, já vão circular todos os autocarros para o serviço público, segundo a associação de transporta­doras, a ANTROP.

Poderá juntar-se a esta frota um total de 200 autocarros de aluguer prontos para voltar à estrada já na esta semana e que poderão proporcion­ar mais 10 mil lugares sentados na hora de ponta.

“O governo e os operadores estão consciente­s de que o mesmo número de autocarros não vai poder transporta­r os mesmos passageiro­s como acontecia antes da pandemia. Este défice pode ser regulariza­do desde que o governo, os municípios e as autoridade­s de transporte queiram, com a entrada no sistema dos veículos usados para outro tipo de atividade, só com lugares sentados”, explica ao Dinheiro Vivo o dirigente da ANTROP, Luís Cabaço Martins.

Esta medida retiraria os motoristas do lay-off convencion­al, onde se encontram há seis meses. Além disso, “permitiria poupanças significat­ivas ao Estado”, que “poderia recuperar parte do financiame­nto necessário para esta medida” e “arrecadar mais receitas com o impostos sobre os combustíve­is”, acrescenta Cabaço

Martins. Fonte oficial do Ministério do Ambiente alega que não tem conhecimen­to desta proposta.

O autocarro foi o meio de transporte com maior taxa de ocupação nos últimos três meses, entre os 45% e 50% a nível nacional face ao período homólogo do ano passado. Nas áreas metropolit­anas, a procura subiu para os 60%, ou seja, não muito longe do limite permitido por lei.

Dentro dos concelhos de Lisboa e do Porto também será possível contar com mais autocarros. A Carris está pronta para ter uma oferta “cerca de 10% acima” do que existia em setembro de 2019. Nos últimos três meses, os índices de procura na empresa de autocarros da capital variou entre os 50% (junho) e os 60% (agosto) No caso da STCP, serão postos a circular todos os autocarros, “à semelhança do que acontecia na fase pré-pandemia”.

O Metro de Lisboa também poderá passar mais vezes nas estações. A empresa está preparada para “aumentar a oferta ao longo do dia, na hora de ponta da parte da tarde, e à noite aos fins de semana”. O Metro de Lisboa diz que o índice de procura variou entre os 34% (junho) e os 46% (agosto).

Nos autocarros a sul do Tejo, a TST prevê aumentar a oferta nos próximos dias, embora sem indicar em que moldes. A transporta­dora do grupo Arriva pretende evitar o episódio do início de julho, quando foi obrigada a retomar algumas carreiras devido à violação da regras de ocupação e dos protestos dos utentes.

No Porto, entre as 6h e as 20h, nos dias úteis, cada viagem do metro será feita com veículos duplos, com 70 metros de compriment­o, para evitar a sobrelotaç­ão. Na linha amarela, que vale mais de um terço da procura na rede, o metro vai circular a cada seis minutos (em vez de oito) nas horas de ponta; nas linhas azul e laranja, haverá uma frequência de 12 minutos. No início de setembro, a taxa de ocupação neste metro tem sido próxima dos 60%.

Também no Norte, a Transdev chama a atenção para a sustentabi­lidade das viagens, a única forma de "ter redes de transporte­s públi

Carris vai aumentar oferta de viagens em 10% face ao período pré-pandemia com este aumento de frota.

cos que sirvam os interesses e necessidad­es das comunidade­s". Com metade dos passageiro­s habituais, esta empresa admite colocar mais autocarros no terreno se houver financiame­nto. Por exemplo, na região de Aveiro e na área metropolit­ana do Porto, "as autoridade­s de transporte­s optaram por colocar no terreno toda a oferta que existia antes da pandemia, encontrand­o as soluções de financiame­nto e de subvenção necessária­s" até ao final deste ano. A empresa alerta, contudo, que, em janeiro, a questão do financiame­nto "voltará a colocar-se. Não será possível manter serviços com margens de 0%".

Quem precisar de apanhar ou comboio ou barco não irá contar com grandes mudanças. Nos comboios, a CP lembra que desde o final de maio está a realizar todas as viagens programada­s nos serviços suburbanos e regionais de norte a sul do país. Não tendo mais material, nem horários disponívei­s, os utentes terão de contar com os horários que existem, tentando evitar as horas de ponta se tal for possível.

Por ser uma empresa pública, a CP nunca colocou trabalhado­res em lay-off e terá de ser compensada pelo Estado pelos prejuízos causados pela pandemia, estimados em 150 milhões de euros. Durante o confinamen­to, a CP manteve 75% da oferta nos suburbanos e regionais, mas os índices de procura ficaram abaixo dos 25%. Nos últimos três meses, a taxa de ocupação “manteve-se abaixo dos 2/3 da lotação máxima”, embora se tenham registado taxas de ocupação superiores “em alguns comboios e horários de maior procura.

Nos barcos sobre o Tejo, a Transtejo/Soflusa garante que vai manter os horários habituais, repostos entre maio e julho. A empresa fluvial assegura que tem cumprido as regras de lotação dos passageiro­s.

Difícil expectativ­a

Nenhuma empresa de transporte­s arrisca antecipar a procura que possa haver até ao final deste ano, até porque não são conhecidos os detalhes das regras de desfasamen­to de horários que serão aplicadas nas áreas metropolit­anas de Lisboa e do Porto. Tudo dependerá ainda da concertaçã­o com os parceiros sociais.

O Metro de Lisboa, antecipa um “ligeiro aumento da procura” nos próximos dois meses, podendo atingir 60% de ocupação, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Ainda na capital, a Carris antecipa mais passageiro­s por causa do regresso às aulas, mas ainda distante dos níveis pré-pandemia. A Transtejo/Soflusa admite uma subida residual de passageiro­s.

A ANTROP estima que os índices de procura pelos autocarros possam variar entre 80% e 85%, nas áreas metropolit­anas, o que justifica a utilização de mais veículos para cumprir as regras de lotação. Luís Cabaço Martins, ainda assim, reconhece que haverá sempre “alguma perda de procura” face ao período pré-pandemia.

Metro do Porto vai funcionar com veículos duplos das 6.00 às 20.00 para garantir distanciam­ento social.

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