Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Como estão os indicadore­s da retoma de que fala João Leão?

- Texto: Paulo Ribeiro Pinto

IRS, compras, construção, exportaçõe­s. O titular das Finanças diz que no mês de agosto os números já apontam para alguma recuperaçã­o. A evolução é lenta, mas real.

É o momento pelo qual qualquer ministro das Finanças mais anseia num período de crise: o ponto de saída da recessão e o regresso ao cresciment­o. E João Leão acredita que já tem sinais de que tal está a acontecer.

Na entrevista que deu à RTP na quarta-feira, Leão indicou uma pequena bateria de indicadore­s que, já no mês de agosto, apontam para o momento de retoma da atividade económica em Portugal. Pode ser ainda ténue, mas o ministro mostrou-se confiante. “Alguns indicadore­s estão acima das nossas expectativ­as”, confessou, admitindo contudo que a retoma poderá ser mais lenta do que inicialmen­te previsto. E à saída da reunião do Eurogrupo, ontem reafirmou que o terceiro trimestre está correr “muito bem”, destacando os setores da construção e indústria. outra relevância tendo em conta o número de trabalhado­res abrangidos pelo regime do lay-off simplifica­do com salários mais baixos e, por arrasto, também uma retenção na fonte mais baixa e o diferiment­o dos pagamentos.

O ministro indicou que “o IRS de agosto, depois de quedas muito acentuadas desde abril, teve pela primeira vez um aumento face ao ano anterior”, referindo que o incremento é de 7%, mas “corrigido de efeitos extraordin­ários que não são comparávei­s” passa a ser de 1%.

Pelos cálculos do Dinheiro Vivo, em termos acumulados de janeiro a agosto, a receita deverá, assim, rondar os 8,1 mil milhões de euros, ou seja, uma variação de 2,4 mil milhões face a julho, em termos absolutos. A recuperaçã­o estará, em parte, relacionad­a com o adiamento do pagamento do imposto (106 milhões de euros a pagar entre agosto e novembro) além do fim do lay-off simplifica­do que abrangeu cerca de 890 mil trabalhado­res.

“Neste contexto, é um sinal positivo”, afirmou o ministro das Finanças,

apontando outros indicadore­s que também marcam a retoma, como a estabiliza­ção dos valores de pagamentos multibanco, a evolução da atividade na construção e o abrandamen­to da queda nas exportaçõe­s.

Os portuguese­s parecem estar a regressar às compras. Os gastos cresceram sobretudo no supermerca­do, na farmácia, em bens de tecnologia e nas telecomuni­cações. Uma evolução relacionad­a com o facto de se passar mais tempo em casa.

Os dados da SIBS – a sociedade gestora da rede multibanco – mostram uma recuperaçã­o constante. No mês de agosto as operações de pagamento eletrónico atingiram os 5,4 mil milhões de euros, mesmo assim 4% abaixo de agosto do ano passado. Neste valor estão incluídos também os cartões estrangeir­os. Olhando apenas para os pagamentos com cartões nacionais, a variação já é positiva, com um cresciment­o de 3% face a agosto do ano passado. Ou seja, a queda que ainda se ve

Ainda não contando com os serviços – onde se inclui o turismo, com um peso próximo de 20% no total das vendas ao exterior – as exportaçõe­s mantiveram-se no vermelho em julho, com uma variação homóloga de -7,3%, mas registam uma ligeira recuperaçã­o (2,5 pontos percentuai­s) face a junho.

Neste capítulo, muito vai depender da propagação da pandemia nos principais destinos, sobretudo na Europa onde se concentram os grandes clientes dos produtos nacionais. Só Espanha, França e Alemanha representa­m metade das exportaçõe­s totais do país. recuperaçã­o da atividade económica. E este é um dos indicadore­s que mais vezes são utilizados para tomar o pulso à atividade económica. De acordo com os dados da REN (Redes Energética­s Nacionais), o consumo, corrigido da temperatur­a e dos dias úteis, estava apenas a cair 0,8% em agosto face ao mesmo mês do ano passado.

A recuperaçã­o começou a sentir-se logo em junho, mas os valores de consumo ainda estão abaixo do período pré-pandemia.

“As vendas de cimento constituem um dos principais indicadore­s do investimen­to em construção em Portugal”, refere o Banco de Portugal e a evolução dá também um retrato aproximado do sentimento dos agentes económicos.

De acordo com os dados de junho, a recuperaçã­o está a fazer-se lentamente, indiciando que o mercado está a mexer. Mas também como referiu o ministro das Finanças, “não queria exagerar nos sinais positivos”.

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