Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Como estão os indicadores da retoma de que fala João Leão?
IRS, compras, construção, exportações. O titular das Finanças diz que no mês de agosto os números já apontam para alguma recuperação. A evolução é lenta, mas real.
É o momento pelo qual qualquer ministro das Finanças mais anseia num período de crise: o ponto de saída da recessão e o regresso ao crescimento. E João Leão acredita que já tem sinais de que tal está a acontecer.
Na entrevista que deu à RTP na quarta-feira, Leão indicou uma pequena bateria de indicadores que, já no mês de agosto, apontam para o momento de retoma da atividade económica em Portugal. Pode ser ainda ténue, mas o ministro mostrou-se confiante. “Alguns indicadores estão acima das nossas expectativas”, confessou, admitindo contudo que a retoma poderá ser mais lenta do que inicialmente previsto. E à saída da reunião do Eurogrupo, ontem reafirmou que o terceiro trimestre está correr “muito bem”, destacando os setores da construção e indústria. outra relevância tendo em conta o número de trabalhadores abrangidos pelo regime do lay-off simplificado com salários mais baixos e, por arrasto, também uma retenção na fonte mais baixa e o diferimento dos pagamentos.
O ministro indicou que “o IRS de agosto, depois de quedas muito acentuadas desde abril, teve pela primeira vez um aumento face ao ano anterior”, referindo que o incremento é de 7%, mas “corrigido de efeitos extraordinários que não são comparáveis” passa a ser de 1%.
Pelos cálculos do Dinheiro Vivo, em termos acumulados de janeiro a agosto, a receita deverá, assim, rondar os 8,1 mil milhões de euros, ou seja, uma variação de 2,4 mil milhões face a julho, em termos absolutos. A recuperação estará, em parte, relacionada com o adiamento do pagamento do imposto (106 milhões de euros a pagar entre agosto e novembro) além do fim do lay-off simplificado que abrangeu cerca de 890 mil trabalhadores.
“Neste contexto, é um sinal positivo”, afirmou o ministro das Finanças,
apontando outros indicadores que também marcam a retoma, como a estabilização dos valores de pagamentos multibanco, a evolução da atividade na construção e o abrandamento da queda nas exportações.
Os portugueses parecem estar a regressar às compras. Os gastos cresceram sobretudo no supermercado, na farmácia, em bens de tecnologia e nas telecomunicações. Uma evolução relacionada com o facto de se passar mais tempo em casa.
Os dados da SIBS – a sociedade gestora da rede multibanco – mostram uma recuperação constante. No mês de agosto as operações de pagamento eletrónico atingiram os 5,4 mil milhões de euros, mesmo assim 4% abaixo de agosto do ano passado. Neste valor estão incluídos também os cartões estrangeiros. Olhando apenas para os pagamentos com cartões nacionais, a variação já é positiva, com um crescimento de 3% face a agosto do ano passado. Ou seja, a queda que ainda se ve
Ainda não contando com os serviços – onde se inclui o turismo, com um peso próximo de 20% no total das vendas ao exterior – as exportações mantiveram-se no vermelho em julho, com uma variação homóloga de -7,3%, mas registam uma ligeira recuperação (2,5 pontos percentuais) face a junho.
Neste capítulo, muito vai depender da propagação da pandemia nos principais destinos, sobretudo na Europa onde se concentram os grandes clientes dos produtos nacionais. Só Espanha, França e Alemanha representam metade das exportações totais do país. recuperação da atividade económica. E este é um dos indicadores que mais vezes são utilizados para tomar o pulso à atividade económica. De acordo com os dados da REN (Redes Energéticas Nacionais), o consumo, corrigido da temperatura e dos dias úteis, estava apenas a cair 0,8% em agosto face ao mesmo mês do ano passado.
A recuperação começou a sentir-se logo em junho, mas os valores de consumo ainda estão abaixo do período pré-pandemia.
“As vendas de cimento constituem um dos principais indicadores do investimento em construção em Portugal”, refere o Banco de Portugal e a evolução dá também um retrato aproximado do sentimento dos agentes económicos.
De acordo com os dados de junho, a recuperação está a fazer-se lentamente, indiciando que o mercado está a mexer. Mas também como referiu o ministro das Finanças, “não queria exagerar nos sinais positivos”.