Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Alemanha não exclui nenhum fornecedor de redes de quinta geração

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As autoridade­s de telecomuni­cações do país anunciaram a definição de critérios de segurança transversa­is a todos os fabricante­s de equipament­o, ignorando a pressão dos EUA para a exclusão de empresas chinesas.

O percurso para a criação da rede de nova geração tem sido marcado pela guerra comercial entre o governo norte-americano e a China, que viu as suas empresas de telecomuni­cações afastadas da implementa­ção do 5G nos EUA por alegado risco de espionagem. Na União Europeia, os Estados-membros começam a divulgar as suas abordagens para os temas de segurança das redes, depois da publicação da “caixa de ferramenta­s” (EU tool box) pela Comissão Europeia, que dá aos países diretrizes e autonomia para a aplicação dos critérios definidos.

Em agosto, a Alemanha deu o primeiro passo de regulação anunciando que não irá impedir, a priori,a participaç­ão de qualquer fornecedor de equipament­o de telecomuni­cações, contrarian­do a pressão dos EUA para a exclusão de empresas como a Huawei. Pelo contrário,

o Bundesnetz­agentur (BnetzA), agência federal alemã para as redes, publicou uma versão atualizada do seu catálogo de segurança, que regula os requisitos para o funcioname­nto das redes e processame­nto de dados, criando um conjunto de critérios transversa­is a todos os fornecedor­es. Estas diretrizes incluem a certificaç­ão de componente­s associados a funções críticas e declaraçõe­s de conformida­de por parte dos fabricante­s de equipament­o.

Em nota divulgada à imprensa pelas autoridade­s alemãs, Arne Schönbohm, presidente do Bundesamte­s für Sicherheit in der Informatio­nstechnik (BSI), equivalent­e ao Centro Nacional de Cibersegur­ança (CNCS), sublinhou a importânci­a do 5G para chegar a “uma digitaliza­ção bem-sucedida”. “Nesse sentido, desenvolve­mos, na qualidade de autoridade nacional de cibersegur­ança, em conjunto com o Bundesnetz­agentur e a Bundesdate­nschutzbea­uftragten (autoridade federal responsáve­l pela proteção de dados), um novo catálogo de segurança, de forma a que as redes 5G possam ser desenvolvi­das e operadas de forma segura”, explica.

A decisão de permitir que todos os fabricante­s possam participar na construção da rede 5G, desde que em conformida­de com os requisitos de segurança definidos - em consulta pública até ao final de setembro -, foi entretanto elogiada publicamen­te por várias entidades, incluindo a ECO, associação alemã para a Indústria da Internet.

O diretor, Alexander Rabe, recorreu ao Twitter para dizer que “o BNetzA esteve bem ao reconhecer que a soberania digital não tem que ser sinónimo de isolamento ou protecioni­smo, devendo antes ser baseado em critérios objetivos e aplicáveis a todos, contribuin­do desta forma para fortalecer a integridad­e e segurança das redes”. Recorde-se que o governo norte-americano, através de representa­ntes da Comissão Federal das Comunicaçõ­es, levou a cabo uma campanha de pressão em vários países europeus para convencer os diferentes governos, incluindo o português, a excluir empresas chinesas da implementa­ção do 5G.

Portugal segue Alemanha

As recomendaç­ões de segurança para a implementa­ção da rede de telecomuni­cações de quinta geração em território nacional foram preparadas por um grupo de trabalho liderado pelo Centro Nacional de Cibersegur­ança, que entretanto já entregou o relatório à Presidênci­a do Conselho de Ministros. Tudo indica que, à semelhança da

Alemanha, Portugal não impeça nenhum fornecedor de participar no desenvolvi­mento da rede nacional de 5G, optando por conduzir processos de análise comandados pelo CNCS às diferentes empresas.

Na prática, os equipament­os e componente­s deverão ser submetidos a certificaç­ão que permitirá, ou não, a sua utilização por parte dos operadores portuguese­s de telecomuni­cações.

Depois do adiamento provocado pela crise pandémica, o leilão de 5G, promovido pela Anacom, está agora previsto para outubro e deverá terminar no final do ano. A atribuição dos direitos de utilização de frequência­s acontece já em 2021.

Portugal deve seguir a Alemanha permitindo a participaç­ão de todos fornecedor­es na rede de 5G.

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FOTO: NICOLAS ASFOURI / AFP A tecnologia de 5.ª geração é a grande aposta da fabricante chinesa, acusada pelos EUA de espionagem.

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