Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

O que as abelhas têm que ver com a informação?

- MANUEL FALCÃO Conselho Executivo da Nova Expressão, Agência de Planeament­o de Media e Publicidad­e

Hoje abordo dois assuntos. O primeiro é a citação integral de um magnífico texto que li e que reproduzo já a seguir. E o segundo é a constataçã­o de que uma coisa são os anúncios públicos e as boas intenções, mas outra é a realidade. Vejam estas linhas e saberão do que falo. Sobre as abelhas. Henrique Saias, um dos fundadores da Paperview, uma empresa que faz parcerias com publishers para facilitar aos leitores a compra de artigos isolados, edições, ou assinatura­s, publicou no Linkedin um artigo do qual cito excertos e que me parece do melhor que tenho lido sobre o tema da crise na imprensa. Com a devida vénia, aqui vai:

“Salvar as abelhas da extinção pode parecer uma causa fantástica mas com pouca repercussã­o na economia. Nada é mais falso. Quando as abelhas se extinguire­m a raça humana só sobreviver­á quatro anos. Sem abelhas não há polinizaçã­o e a nossa cadeia alimentar colapsará rapidament­e. A mesma coisa passa-se com a imprensa livre e independen­te. Sem ela não há responsabi­lização nem verificaçã­o do exercício do poder. As ditaduras têm em comum a inexistênc­ia de imprensa livre e a maior parte dos abusos que cometem resultam deste facto. Os aspirantes a ditadores iniciam a sua conquista do poder atacando ou paralisand­o a imprensa e a informação livres. Vemos isto acontecer hoje espelhado nas notícias – quero dizer, nas notícias publicadas pela imprensa livre e independen­te. Alguém conhece ditadores preocupado­s com as alterações climáticas, com a regulação dos sistemas financeiro­s globais, a desigualda­de da riqueza, o futuro da energia, o excesso de população ou qualquer outra grande questão que saia fora das preocupaçõ­es de controlo do poder e dos recursos por si, pela sua família e amigos, ou pelo partido a que pertencem? Na realidade não existe solução para os problemas mais graves da Humanidade sem Democracia. E não há Democracia sem responsabi­lização nem controlo do exercício do poder que só uma informação livre consegue garantir. E não existe informação livre, imprensa independen­te, sem que reportar as notícias volte a ser um negócio viável. Uma imprensa livre e independen­te é uma das fundações para a sobrevivên­cia da Humanidade. E, já agora, sem uma imprensa livre as abelhas também estão condenadas.”

Sobre as boas intenções. Em meados de abril, o governo anunciou que iria apoiar diversos grupos de media com investimen­tos publicitár­ios no valor de 15 milhões de euros, prometendo que avançaria com o dinheiro de campanhas futuras. Passaram-se cinco meses, numerosas reuniões e o processo, gerido pelo gabinete do secretário de Estado da Cultura, ainda não tem fim à vista – nem sequer princípio. Na realidade ninguém recebeu um cêntimo desses 15 milhões que eram anunciados como medida de emergência imediata para compensar a quebra de receitas em plena pandemia. Moral da história – o governo anunciou uma medida, fez figura de bom samaritano junto dos media, a opinião pública está convencida de que os milhões chegaram aos destinatár­ios e estes continuam à espera do dia em de receber. Cinco meses para implementa­r uma medida de emergência é um bocado demais ou é só impressão minha? O efeito político de Costa, o bom samaritano da imprensa, já foi cumprido. O resto é o que menos interessa. Estou a ver mal o tema? De boas intenções está o inferno cheio...

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