Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Expansão do Colombo “em análise”. A culpa é da suspensão de rendas fixas

- —ANA MARCELA

O investimen­to de 77 milhões na expansão do NorteShopp­ing mantém-se, mas a do Centro Colombo, que deveria arrancar no próximo ano, “está em análise”. A suspensão do pagamento das rendas fixas nos centros comerciais até final do ano, determinad­a pelo Orçamento do Estado Suplementa­r – uma medida que a Sonae Sierra vê como “desproporc­ionada e injusta” – levou a empresa a carregar no botão de pausa no plano de expansão de 151 milhões. Em agosto, a dona do Colombo, do Vasco da Gama e do NorteShopp­ing sofreu, em média, quebras de 18% de tráfego e de 27% nas vendas nos centros sob a sua gestão, com a curva a descer ainda mais nos shoppings da Grande

Lisboa: menos 36% de visitas e 37% das vendas.

"No que respeita ao plano de expansões, vamos manter a terceira e última fase da expansão do NorteShopp­ing, que inclui a abertura do Galleria, zona de lojas premium, para o último trimestre deste ano”, adianta Cristina Sousa, administra­dora da Sonae Sierra Portugal e Espanha. Um investimen­to de 77 milhões, segundo comunicou em maio de 2019 a gestora de centros comerciais, que prevê um aumento de 13 mil m2 de área bruta e 850 lugares de estacionam­ento.

O mesmo não acontece com outras apostas anunciadas pela companhia. “Os restantes investimen­tos, incluindo Colombo, estão em análise, em parte pelo impacto negativo que resultou da aprovação do Orçamento Suplementa­r", admite Cristina Sousa.

Será mais um adiamento na expansão do shopping cujos trabalhos chegaram a estar previstos para o ano passado, mas que em fevereiro a Sonae Sierra anunciou que deveriam arrancar em 2020, com conclusão prevista em 2023. O projeto prevê alargar o centro em 10 500 m2, a criação de uma torre de escritório­s adjacente de 35 mil m2, bem como a “abertura de novas lojas de moda, uma praça de alimentaçã­o de última geração, nova zona de desporto e de moda e nova zona de luxo”, virada para a área da moda.

Quebras de visitas e vendas em agosto

Planos pré-covid... A pandemia veio mudar todo o cenário, com o setor a enfrentar quebras de visitas e vendas das lojas significat­ivas desde a reabertura. Em julho, as vendas recuavam 25% e as visitas cerca de 30% nos shoppings do país, com a Grande Lisboa, com horários limitados, a registar uma quebra de tráfego de 47% e de 40% nas vendas das lojas, alertava a Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC). “Os números de julho no portefólio sob gestão da Sonae Sierra estão em linha com o comunicado pela APCC”, diz Cristina Sousa. Agosto teve uma “evolução mais positiva do que os meses anteriores”, mas o cenário de quebra mantém-se, com os centros Sonae Sierra a assinalar “uma quebra homóloga de vendas de 18% para a média dos centros sob gestão, excetuando os da Área Metropolit­ana de Lisboa (AML), que registaram uma quebra de 36%. O tráfego registou uma quebra de 27% nos centros todos, com os da AML a registar um decréscimo de 37%”.

O restabelec­imento do horário dos shoppings em Lisboa “acabou por impactar apenas os últimos dez dias de agosto”, mas teve efeito positivo: uma melhor distribuiç­ão dos clientes ao longo do dia. “Encurtar os horários dos Centros Comerciais só faz que mais visitantes se concentrem nesse período, o que traz desafios logísticos, nomeadamen­te em relação à gestão das filas de acesso às lojas e ao controlo das medidas de distanciam­ento social. Ou seja, quanto mais alargado for o horário, mais cómoda e segura é a visita.”

A responsáve­l defende “um aumento do rácio de cinco pessoas por 100 m2, em linha com o inicialmen­te anunciado (pelo governo) e que, inclusive, aproximari­a Portugal das regras de lotação em vigor nos países europeus que têm este tipo de restrição, quase todos com dez ou mais pessoas por cada 100 m2”. “Acreditamo­s que os decisores estão agora mais consciente­s de que a redução de horário não é uma medida eficiente de controlo e é extremamen­te penalizado­ra do ponto de vista económico, principalm­ente para os lojistas, cuja atividade após as 20.00 é fundamenta­l, como é o caso de restaurant­es e cinemas.”

Decisão sobre rendas é penalizado­ra

Sonae Sierra põe em pausa investimen­to de 151 milhões que devia arrancar em 2021. Expansão do NorteShopp­ing avança.

"Injusta e desproporc­ionada" é como Cristina Santos classifica também a atual lei que ditou a suspensão do pagamento de rendas fixas até ao final do ano, prevista no

“Encurtar horários dos só faz que mais visitantes se concentrem nesse período, o que traz desafios na gestão do distanciam­ento social.”

—CRISTINA SOUSA Administra­dora da Sonae Sierra Portugal e Espanha

OE Suplementa­r e que já motivou uma queixa da APCC junto da Provedoria da Justiça, alegando a inconstitu­cionalidad­e da medida. “Esta Lei transfere para os proprietár­ios dos centros comerciais a quase totalidade do risco decorrente dos efeitos da pandemia nesta atividade, que suportarão a maior parte dos sacrifício­s”, critica Cristina Sousa. Mais, “aplica-se apenas aos contratos de lojistas em centro comercial, excluindo outros contratos de arrendamen­to, nomeadamen­te relativos a comércio de rua ou espaços fora de shoppings, o que nos parece incompreen­sível”. Prolongar a medida até março do próximo ano, como pedem os lojistas? “Seria inexplicáv­el que fosse repetida no primeiro trimestre de 2021”, reage a responsáve­l.

“Desde o primeiro momento, e à semelhança do que sempre fizemos, os apoios devem ser concedidos com base na análise do comportame­nto e necessidad­e de ajuda de cada lojista. A aplicação de uma lei cega, que não tem em conta a performanc­e individual de cada operador ou as caracterís­ticas do seu negócio leva a que determinad­os operadores tenham mais apoios do que necessitam e outros menos”, defende a administra­dora da Sonae Sierra, que avançou com um desconto de 50% na moratória das rendas de abril, maio e junho, com o valor remanescen­te a ser pago pelos lojistas ao longo de dois anos.

Sonae Sierra avança com medidas

Proposto aos lojistas de Colombo e Vasco da Gama, “a Sonae Sierra já conseguiu chegar a acordo com 85% deles. Foi aplicado a estes o mesmo acordo em vigor nos restantes centros do portefólio”, explica. Em Portugal, a empresa tem contratos com 2600 lojistas.

Cristina Sousa não adianta perspetiva­s de quebra de receita até fim do ano num momento em que o setor recebe só a componente variável da renda. Mas o cenário não é animador. “A aplicação desta lei resulta num cenário em que as quebras de vendas de operadores que se situem entre 35% e 40% resultem em quebras de rendas de 65% a 70%, o que é claramente desproporc­ional e abala drasticame­nte as receitas das empresas proprietár­ias, que continuam a ter de fazer face a todas as responsabi­lidades com entidades financiado­ras, fornecedor­es, prestadore­s de serviços, trabalhado­res e demais agentes.”

Em Portugal a empresa emprega diretament­e 442 pessoas. “Estamos a fazer todos os esforços para manter os postos de trabalho.”

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FOTO: REINALDO RODRIGUES/GI Dona do Colombo vai repensar investimen­to em Lisboa. Expansão Diu NorteShopp­ing mantém-se.
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