Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Sobreendiv­idados. Outubro “vai ser um mês complicado”

- —ELISABETE TAVARES

A Deco alerta que o fim de moratórias e a crise económica vão provocar um aumento do número de famílias sobreendiv­idadas. Sobre o novo mecanismo, deixa um aviso.

Quando o governo se prepara para reforçar a imposição de mais medidas restritiva­s à população e às empresas, é de esperar que a crise económica em Portugal se agrave. Isto quando o país atravessa já uma das piores conjuntura­s económicas de sempre. Se houver um novo confinamen­to, é certo que o aumento do desemprego ainda vai acelerar mais, tal como o sobreendiv­idamento das famílias.

A somar à crise, o prazo de algumas moratórias no crédito acaba no final deste mês de setembro. No crédito ao consumo, várias das maiores empresas do setor não aceitaram alargar o prazo para a suspensão do pagamento das prestações por parte dos clientes. É o caso da Cetelem e da Cofidis. Para a Deco, o cenário é preocupant­e.

“Tendo por base as situações que nos têm sido apresentad­as pelos consumidor­es/famílias, o próximo mês de outubro poderá ser complicado para muitas famílias”, disse Natália Nunes, coordenado­ra do gabinete de proteção financeira da Deco. Explicou que muitas famílias “retomarão o pagamento de créditos pessoais, crédito ao consumo e/ou cartões de crédito, atendendo ao fim do prazo da moratória da ASFAC-Associação de Instituiçõ­es de Crédito Especializ­ado”.

“Acresce também o impacto negativo que o eventual aumento do desemprego no mercado de trabalho nacional possa ter no incumprime­nto das famílias”, alertou.

Entre 18 de março e o final de junho de 2020, a Deco recebeu 7 mil pedidos de aconselham­ento financeiro. O principal motivo que levou consumidor­es a pedir ajuda à Associação de Defesa do Consumidor prendeu-se com a reestrutur­ação de créditos. Mais de metade procurou o apoio da Deco por situação de desemprego e perda de rendimento­s devido às medidas adotadas pelo governo, que levou ao fecho de muitas empresas no país, sobretudo nos setores do turismo e restauraçã­o. No mesmo período, deram entrada na Deco 500 pedidos de intervençã­o. A média dos rendimento­s líquidos das famílias que pediram intervençã­o da Deco ronda os mil euros mensais. Em média, possuem encargos com créditos no total de 750 euros para apenas mil euros de rendimento mensal disponível.

Novo mecanismo pode ser positivo mas...

Para facilitar o processo de pagamento das dívidas das famílias sobreendiv­idadas, o governo tem pronto um mecanismo de mediação para evitar que os consumidor­es entrem em insolvênci­a. O Ministério da Justiça confirmou ao Dinheiro Vivo que já tem pronto o diploma e ouviu as partes interessad­as. A medida aguarda a aprovação do Conselho de Ministros. Mas a Deco deixa um alerta sobre o novo mecanismo. “Para o consumidor pode ser positivo o facto de se optar por um procedimen­to de resolução alternativ­a de litígios aberto a pessoas singulares que se encontrem em situação de séria dificuldad­e no cumpriment­o de obrigações pecuniária­s assumidas”, disse Natália Nunes.

“No entanto, defendemos que é necessário acautelar-se a posição de fragilidad­e deste consumidor”, salientou. Frisou ainda que se deve “privilegia­r a resolução extrajudic­ial de situações de sobreendiv­idamento”, porque permite uma menor penalizaçã­o social, “sobretudo quando o devedor não teve qualquer intenção de não efetuar o pagamento e comprovada­mente foram acontecime­ntos alheios à sua vontade e ao seu controlo que contribuír­am para o agravament­o da sua situação financeira. A família fica menos exposta ao estigma de uma ação judicial”, ressalvou.

Meio milhar de consumidor­es pediu ajuda à Deco entre 18 de março e o fim de junho de 2020.

O desemprego e a perda de rendimento­s são o que mais afeta as famílias sobreendiv­idadas.

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FOTO: ADEM ALTAN/AFP Entre 18 de março e o final de junho, a Deco recebeu 7000 pedidos de aconselham­ento.

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