Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Bruxelas pede grito do Ipiranga no investimen­to, Costa promete maior valor em dez anos

- Texto: Luís Reis Ribeiro

Orçamento do Estado para 2021 vai propor 5,7 mil milhões de euros em investimen­to público. Se for todo executado, será o maior valor desde 2011, o ano da chegada da troika.

Portugal tem de dar um salto significat­ivo no investimen­to público, em quantidade e qualidade, se quiser garantir uma saída decente da atual crise, avisa Christian Weise, o economista principal da Comissão Europeia (CE), que segue a economia portuguesa.

Ao grito do Ipiranga no investimen­to público pedido por Bruxelas para contrariar o historial recente de enorme fraqueza nessa despesa orçamental, de execução consecutiv­amente abaixo do previsto e de divergênci­a face ao resto da zona euro, o governo de António Costa, o primeiro-ministro, e de João Leão, o ministro das Finanças, vai responder com mais dinheiro, com uma aposta anual que deve superar os 5,7 mil milhões de euros no Orçamento do Estado do próximo ano (OE2021), apurou o Dinheiro Vivo. A proposta de OE2021 será entregue ao Parlamento na segunda-feira.

Em todo o caso, o investimen­to deste ano vai ser menor do que foi previsto no OE suplementa­r (de junho). As Finanças reduziram a rubrica em mais de 180 milhões de euros em 2020, mas isso permite um impulso maior em 2021, o ano em que vão começar a cair os fundos do plano de recuperaçã­o europeu.

Se o valor previsto para o investimen­to público no ano que vem se concretiza­r (o que não acontece há muitos anos, fica sempre abaixo do prometido nos orçamentos), significa que será o maior registo desde 2011, o ano em que a troika entrou em Portugal e que marca o início do programa de austeridad­e.

Nesse ano, o investimen­to ainda conseguiu chegar a 6,1 mil milhões de euros, mas depois foi sempre a descer até 2016, primeiro ano de governação do governo PS, de António Costa. Em 2016, o investimen­to público haveria de atingir o valor mais baixo de que há registo: apenas 2,9 mil milhões de euros, o equivalent­e a uns meros 1,5% do produto interno bruto (PIB), também o peso mais débil de sempre, mostram as séries longas da Comissão.

Num estudo sobre o Portugal pós-programa de ajustament­o, Christian Weise reconhece os progressos que o país obteve nos últimos anos, mas avisa que a redução do défice na era pós-troika foi muito feita à custa do investimen­to público e que, caso não inverta esta situação e se aproxime mais dos níveis europeus, Portugal pode pagar bem caro num futuro próximo.

Para Weise, não se trata só de conseguir sair sem grandes mazelas da atual crise pandémica; é tentar superar problemas antigos que persistem e que limitam a capacidade da economia. Dívida privada e pública enorme, “baixa produtivid­ade” em muitos setores da economia, “falta de convergênc­ia” com o nível de vida europeu (rendimento­s) e “tendências demográfic­as desfavoráv­eis”, isto é, uma natalidade em declínio e uma população cada vez mais velha.

Segundo o economista, estas “vulnerabil­idades macroeconó­micas vão influencia­r a forma como o país irá gerir a transição digital e para uma economia mais verde”, mas também a forma como “vai lidar com a crise da covid-19”.

“O investimen­to público registou uma contenção adicional ao longo do período pós-programa de ajustament­o (descendo para uma média de 1,9% do PIB em 2015-2019, em comparação com 2,7% na zona euro), permanecen­do consistent­emente abaixo dos níveis registados durante o programa e ficando aquém dos planos do governo”, diz o responsáve­l da CE.

Para o economista, a “contenção” na despesa de investimen­to ajudou a baixar o défice. “Auxiliado por receitas cíclicas, pela redução da despesa com juros e do investimen­to público, o saldo orçamental público continuou a melhorar para um défice de 0,3% do PIB em 2018 e um pequeno excedente de 0,1% em 2019”.

Mas, como referido, “o investimen­to público tem estado muito

“Portugal deve concentrar-se em investimen­to de alta qualidade, este é fundamenta­l para entregar serviços públicos eficazes”

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