Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Exportaçõe­s em risco

- ANTÓNIO SARAIVA

As exportaçõe­s foram, na primeira fase da crise desencadea­da pela pandemia, a componente do PIB que sofreu uma maior queda, contribuin­do fortemente para a contração da atividade económica. Enquanto a procura interna se reduziu em 12% no segundo trimestre, as exportaçõe­s caíram 39,5%. É certo que, enquanto as exportaçõe­s de serviços, onde o turismo tem um peso prepondera­nte, pouco ou nada recuperara­m nos últimos meses, as exportaçõe­s de bens, depois da queda abrupta de mais de 40% em abril, registaram, logo a partir de maio, sinais de recuperaçã­o, aproximand­o-se já, em setembro, dos valores observados há um ano.

Esta evolução não impede no entanto que no cômputo dos sete meses de março a setembro se tenham perdido mais de 5,8 mil milhões de euros relativame­nte ao valor das mercadoria­s exportadas no mesmo período de 2019. Com a segunda vaga da pandemia a alastrar-se e muitos países, sobretudo europeus, a regressar a situações de confinamen­to mais ou menos radical, as perspetiva­s dos exportador­es para os próximos meses regrediram substancia­lmente.

Tudo isto justifica uma forte atenção do governo ao setor exportador. As medidas recentemen­te anunciadas, nomeadamen­te a linha de crédito para a indústria exportador­a, são já um passo importante, sobretudo se tivermos em conta a possibilid­ade de conversão de 20% do crédito concedido em subsídio a fundo perdido. O governo, embora tardiament­e, vai-se aproximand­o do que tem sido defendido pelas empresas.

Contudo, não basta. Persistem ainda entraves à atividade exportador­a que já há muito podiam ter sido resolvidos. Um deles é o que se passa relativame­nte aos seguros de crédito, vitais para o setor exportador e para todas as empresas a ele ligadas.

A solução que (só em junho) foi encontrada para a súbita redução ou supressão de plafonds de seguros de crédito terá sido a mais cómoda para o Estado e para as seguradora­s, mas ficou muito longe do que seria necessário para repor alguma aproximaçã­o à situação anterior à crise.

Ao invés do que se passou noutros países europeus, que depressa colocaram no terreno um verdadeiro sistema de resseguro por parte do Estado, o regime português de coberturas adicionais em função do valor das garantias base concedidas pelas seguradora­s revelou-se manifestam­ente insuficien­te. Sem entrar em mais detalhes, basta pensar nos casos de total supressão das garantias pelas seguradora­s, em que esse adicional por parte do Estado é nulo.

Além disso, ao contrário dos apoios criados em 2008/2009 em resposta à anterior crise, o mercado nacional continua excluído (apesar das promessas de há mais de cinco meses), bem como muitos mercados externos, nomeadamen­te de maior risco, de grande relevância para muitas empresas exportador­as.

Num momento em que as exportaçõe­s estão novamente em risco, é preciso preservar as condições de concorrênc­ia das empresas portuguesa­s no mercado nacional e nos mercados externos face a operadores estrangeir­os cujos governos, mesmo que apelidados de frugais, não se têm coibido de utilizar todos os meios ao seu alcance para apoiar as empresas.

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