Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Governo “criativo” nas medidas restritiva­s, mas não nos apoios, diz a restauraçã­o. Grande distribuiç­ão reforça

- Texto: Ana Marcela —GONÇALO LOBO XAVIER —ANTÓNIO SAMPAIO DE MATTOS

online.

É um cenário desolador aquele com que Daniel Serra se depara quando vai a um dos seus restaurant­es. Os espaços, em centros comerciais, estão abertos. Clientes nem vê-los. “As zonas de restauraçã­o estão praticamen­te às moscas. Estão a acontecer faturações nunca vistas, residuais. Quando digo que a saúde mental dos empresário­s é muito débil é justamente pelos compromiss­os todos que temos, olhamos para os nossos colaborado­res que estiveram sempre connosco e não sabemos o que fazer. Eles não têm nada para fazer e nós não temos dinheiro a entrar e só temos dinheiro a sair”, diz Daniel Serra. Resultado: “Tinha 6 colaborado­res e tive que reduzir”. Desde março, enfrenta quebras de faturação na ordem dos 80%. Na Grande Distribuiç­ão o fecho às 13h nos fim-de-semana significa perder mais de 20% de uma semana de faturação.

As novas medidas de restrição anunciadas pelo Governo, que abrangem a partir de segunda-feira 191 concelhos, foram recebidas por Daniel Serra com um misto de choque – “restauraçã­o foi o setor mais afectado” – e de desilusão. “O governo anuncia medidas restritiva­s de forma muito criativa”, mas “não tem tido a mesma criativida­de apresentar apoios”, atira o também presidente da associação Pro.Var. “Esperávamo­s algo robusto e com significad­o”, diz. Não foi o caso. Veio “fora de tempo, devia ter sido conhecido logo quando foram conhecidas as restrições”, com um “forma de cálculo feita para atribuir a menor indemnizaç­ão possível” (ver texto ao lado).

“O que só poderá ser por erro, de outro modo é inaceitáve­l e até provocador”, diz indignado Daniel Serra, lembrando que em 10 meses, os restaurant­es estiveram um 1/4 do tempo fechados e os dos centros comerciais, que só abriram em junho, mais tempo ainda.

Só o impacto das últimas restrições gerou, entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro, perdas de faturação estimadas de 60 milhões de euros, em apenas 5 dias. Com 90,1% dos restaurant­es a perder mais de 50% da faturação e quase metade 48,1%) a perdermais de 90% da faturação.

A ordem foi clara. Retalho é para fechar e nem o alimentar escapa. “Surpreende-nos, uma vez que garantimos ambientes seguros e controlado­s”, comenta António Sampaio de Mattos, presidente da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC), que representa shoppings com 8600 lojas. “O setor dos centros e as empresas em geral têm grande dificuldad­es face a paragens de funcioname­nto forçadas, como esta, que provocam prejuízos avultados e potenciam perdas de emprego no setor e contribuem para o desacelera­r da economia”, destaca.

Grande distribuiç­ão

A grande distribuiç­ão viu as regras endurecer. “É um golpe. Houve um volte-face que lamentamos e consideram­os que pode ser prejudicia­l para a saúde pública, pois promove aglomeraçõ­es nos horários em que são permitidas fazer compras”, diz Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação

Portuguesa das Empresas de Distribuiç­ão (APED). E um golpe duro. “Mais de 20% da faturação da semana é feita ao fim de semana.” O dirigente mostra-se satisfeito por ser permitido abrir às 8h, “sobretudo para o retalho especializ­ado, que tem sido muito fustigado”.

A solução para quem quiser fazer compras passa pelo online, mas as aprendizag­ens e má experiênci­a do primeiro confinamen­to parecem estar bem presentes. O Continente Online, “tendo em conta o previsível aumento da procura”, já reforçou a “infraestru­tura de front-end, visível no site, com níveis de resposta muito elevados, e tempos muito reduzidos”, bem como a operaciona­l, “o que nos permite servir hoje mais do dobro dos clientes”.

“Temos vindo a reforçar as nossas equipas (online) e também contado com o apoio pontual das equipas dos serviços centrais. Aumentámos o número de pessoas no atendiment­o, no embalament­o, no picking e reforçámos os serviços de entrega e transporte, sobretudo nas rotas mais exigentes.

Toda a logística está a ser muito reforçada, justamente para evitar atrasos nas entregas”, destaca fonte oficial do El Corte Inglés. “Neste momento, é possível efetuar pe

“Mais de 20% da faturação à semana é feita ao fim de semana.”

Diretor-geral da APED

“Paragens de funcioname­nto forçadas como esta provocam prejuizos avultados e potenciam perdas de emprego.”

Presidente a APCC

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