Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Patrícia Vasconcelos “2021 vai ser um ano ainda mais duro, sem turismo nem aeroportos”
A CaetanoBus vai fechar o ano com vendas de 87 milhões, que espera manter em 2021. O salto começa em 2022 e, com a aposta no hidrogénio, estima faturar 300 milhões em 2025.
Chegou à Salvador Caetano em 2012, para liderar a reestruturação da Cobus, a unidade de autocarros para aeroporto do grupo que é líder mundial do setor. Oito anos depois, Patrícia Vasconcelos foi chamada a liderar a CaetanoBus para desenvolver novo processo de reorganização interna. Vem cortar gorduras, mas também tornar a estrutura mais eficiente. E aposta tudo na mobilidade limpa e, em especial, no hidrogénio verde que, acredita, é o futuro.
Assumiu em maio a presidência executiva da CaetanoBus, é um ano difícil para começar projetos novos, não?
Sem dúvida, mas, às vezes, é com as crises que se conseguem fazer as mudanças necessárias. Como em tudo, há sempre um lado positivo.
Vem para reestruturar a Caetano Bus como fez na Cobus?
Também. Mesmo sem a crise, a CaetanoBus iria precisar de uma reestruturação. Com a crise, precisa, como todas as empresas, de se redimensionar e reorientar. Precisa de processos mais simples, mais smart. É uma empresa com muita tradição, com muita experiência dentro de porta, mas que não se foi adaptando às novas tecnologias, em termos de processo interno. Sempre foi muito aberta às tecnologias, em termos de inovação de produto, disruptiva até, mas internamente continuou a fazer como sempre fez. Chega-se a um ponto em que estes produtos completamente diferentes, com tecnologias de produção também diferentes, já não são compatíveis com a forma como se fazia antigamente, sem as máquinas e os equipamentos necessários.
Estamos a falar de investimento em digitalização e automação?
Sim. Muito investimento na fábrica em si, em meios de produção, mas também em formação de pessoas, para as adaptar a estas novas formas de fabricar e aos novos produtos.
Vai haver despedimentos?
Temos sempre lutado contra despedimentos. Reduzimos alguma coisa na produção, sobretudo através da não renovação de contratos a prazo, pela queda que tivemos da atividade, com a pandemia, mas estamos a investir em pessoas por causa do futuro que a Caetano Bus tem pela frente na mobilidade elétrica. Estamos a crescer em áreas core, contratando para a engenharia de processos, a prototipagem e o pós-venda.
Estamos a falar de uma renovação geracional?
E de negócio. Nós temos pessoas com muito conhecimento na produção de autocarros a diesel, mas que não dominam a componente de eletricidade e de mecatrónica para os novos produtos elétricos e de hidrogénio. São essas pessoas que temos de ir buscar.
Não há forma de os reciclar? Quantas pessoas contrataram e quantas saíram?
Estamos a fazer formação interna, sim, mas com a redução do volume de negócio tivemos que reduzir. No ano passado tínhamos 950 pessoas, mas produzimos quase 700 unidades. Este ano vamos produzir 425. Diria que acabaremos o ano com 850 pessoas e que, em 2021, ficaremos ela por ela.
Faturaram 101 milhões em 2019. Quais são as perspetivas para 2020?
Apontamos para 87 milhões de euros e 425 autocarros. Destes, 150 são Cobus, metade do que estava previsto no início do ano. Somos líderes de mercado mundial nos autocarros de aeroporto e a Cobus teve, em 2018 e 2019, os melhores anos de sempre. E entramos em 2020 com uma carteira de encomendas como nunca. Depois veio a pandemia e foi tudo por aí abaixo. Desde março que não entra uma única encomenda para um autocarro de aeroporto. Sentiu-se alguma melhoria agora em setembro, mas com a segunda vaga foi tudo por água abaixo. Estamos completamente parados nesse segmento de aeroporto. E no turismo também. Temos aqueles autocarros da National Express, que fazem a ligação dos aeroportos aos centros das cidades, e também aí não temos uma única encomenda.
E 2021?
Ainda vai ser mais duro. Os investimentos que estavam previstos nos aeroportos e no turismo pararam todos e não será antes do final de 2021 que o setor irá recuperar. Felizmente, os municípios têm mantido os concursos públicos na parte do negócio dos autocarros urbanos e é disso que vamos vivendo. Houve o grande concurso para a Área Metropolitana de Lisboa, vai sair agora também para a Área Metropolitana do Porto e, felizmente, conseguimos colocar aí alguma produção. Mas nunca conseguimos compensar tudo o que estamos a perder no turismo e aeroportos.
“Entrámos em 2020 com uma carteira de encomendas como nunca na Cobus. Com a pandemia foi tudo por água abaixo.”
Dos 425 autocarros produzidos em 2020, quantos são elétricos e a hidrogénio?
“Os investimentos previstos no turismo e aeroportos pararam todos e não será antes do final de 2021 que o setor recupera.”
São 82 autocarros que são zero emissões. Mas também temos muitos CNG (gás natural comprimido). Tudo o que foi para a Carris e para a STCP em 2019 foi a gás.
Quem é que ainda encomenda