Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Bundles A internet é (cada vez mais) um lugar pago
O Google Fotos passa a ser pago, a Apple lança pacote de serviços e as tecnológicas expandem negócio com 1001 subscrições.
Armazenamento na cloud para fotos, vídeos e documentos. Streaming de vídeo e música. Exercício. Mobilidade. Redes sociais. A internet – cujo projeto académico que lhe deu origem foi proposto há 30 anos (foi a 12 de novembro de 1990 – é um lugar estranho (diferente do mundo natural), onde passamos mais tempo e com cada vez mais serviços pagos mensalmente.
Nesta semana, os 1,2 mil milhões de utilizadores do Google Fotos foram surpreendidos com a notícia que o serviço de armazenamento ilimitado de fotos e vídeos, que muitos usavam como o seu arquivo pessoal, vai deixar de ser gratuito a 1 de junho. Durante cinco anos, milhões habituaram-se à versão gratuita, que salvava as memórias fotográficas. A cobrança agora “vai permitir acompanhar o ritmo da crescente da procura por armazenamento”, diz a Google. Os utilizadores mantêm 15 GB gratuitos (que incluem Gmail e documentos do Drive) e pagam a partir de 1,99 euros/mês (ou 19,99 euros por ano) para terem mais 100 GB.
Com processos anti-concorrenciais na Europa e nos EUA a decorrer, a galinha dos ovos de ouro da Google, a publicidade, pode ser afetada e esta decisão está em linha com a tendência crescente das tecnológicas em ter serviços mensais pagos, que começam a ser arrumados em bundles, ou pacotes e que permitem receitas recorrentes.
Nesta semana, a Apple estreou em Portugal o Apple One, que fornece espaço na cloud, música, videjogos e vídeo em streaming por 11,95 euros por mês – nos EUA há também incluído o serviço de exercício e de acesso a revistas e jornais. “É uma alteração de paradigma que vemos agora na era digital, onde deixamos de ter posse e passamos a ter acesso periódico e que será o mercado a legitimar”, diz-nos Tito Rodrigues, especialista legal da Deco Proteste.
Também, nesta semana, a Vodafone incluiu o Amazon Prime (streaming de vídeo) na sua oferta para novos clientes. Tito Rodrigues explica que, “no caso das operadoras, a inclusão de HBO ou Amazon em certos pacotes, além de ser marketing para angariar clientes serve para tornar os serviços mais atrativos”.
Os consumidores têm cada vez mais serviços cativantes em conteúdos “e que trazem conforto”, mas também espaço de cloud onde a Microsoft, Apple, Amazon (rainha dos bundles com o Prime) e Google têm primazia. Em breve podem-se juntar serviços de subscrição mensal de mobilidade (a Uber e outras estarão a preparar pacotes com km de utilização com vários serviços) e de redes sociais, com o Twitter a admitir estar a testar uma parte do serviço pago (como o LinkedIn já faz).
Os serviços pagos crescem e aumentam as receitas recorrentes dos gigantes tecnológicos, mas também os dados recolhidos. Tito Rodrigues deixa uma preocupação sobre esta área, admitindo que o regulamento europeu RGPD inclui de forma ampla a transferência de dados pessoais entre plataformas e uma espécie de testamento digital, mas “falta um lado de operacionalização que ainda não se verifica”. No caso do testamento digital, o utilizador pode escolher o que acontece aos seus dados, por exemplo, do Google Fotos. “Há um longo caminho a fazer”, admite.
Apple One é o bundle que surgiu em Portugal este semana e inclui cloud, música, vídeo e videojogos.