Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Tributo aos empresários
Há precisamente onze meses, frente a uma plateia de doutorados, um ministro deste governo proclamou que um dos problemas das nossas empresas era a “fraquíssima qualidade da gestão”, o que naturalmente pressupunha a fraquíssima qualidade dos empresários que as detêm.
Afirmações similares são recorrentes e essa é mais uma prova de que o papel dos empresários não é devidamente reconhecido, reflexo de uma cultura que vê no Estado a solução dos problemas e o agente de progresso, uma cultura de anti-empreendedorismo que anatematiza o lucro, reticente à própria liberdade de empreender e investir. Uma cultura corporizada no atual Plano de Recuperação que afeta ao Estado o grosso das verbas, deixando para as empresas a parte residual.
Mas foi essa “fraquíssima qualidade” que, neste tempo de pandemia, tem alcançado uma evolução da nossa economia que não desmerece face a muitas europeias. Os ”fracos” empresários conseguiram que indústria e serviços funcionassem e as cadeias logísticas abastecessem mercados e farmácias, ao contrário de serviços do Estado que nem as vacinas contra a gripe comum ainda fizeram chegar a muitos que delas precisam.
Os “fracos” empresários não pararam transportes, nem construção civil, nem exportações, enquanto a “boa gestão” de muitos serviços públicos os levou a fechar portas e atender por marcação, com esperas intoleráveis. Ou que ainda mal disponibilizou testes rápidos ou equipas de rastreadores, ou que deixa proliferar a covid nas prisões, enquanto discute a quem compete a decisão.
Os empresários mostraram resiliência, saber, experiência e capacidade de gestão, ao contrário do torpor do governo e dos serviços do Estado.
Pessoal qualificado é essencial para melhorar a gestão, mas não há gestão sem empresas e empresários, líderes capazes de transformar ideias em produtos e de tomar riscos, mas tantas vezes obrigados a descurá-la, perdendo tempo frente à “boa gestão” da burocracia em proveito próprio de que as dezenas de autorizações, fiscalizações, CCDR, repartições públicas fazem alarde.
Melhor seria que o governo corrigisse a – esta sim – “fraquíssima qualidade de gestão” de muitos serviços públicos, e não fosse complacente com ela.
O meu tributo aos empresários portugueses, ainda mais justo neste quadro em que a gestão empresarial se move.