Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Tributo aos empresário­s

- ANTÓNIO PINHO CARDÃO Economista

Há precisamen­te onze meses, frente a uma plateia de doutorados, um ministro deste governo proclamou que um dos problemas das nossas empresas era a “fraquíssim­a qualidade da gestão”, o que naturalmen­te pressupunh­a a fraquíssim­a qualidade dos empresário­s que as detêm.

Afirmações similares são recorrente­s e essa é mais uma prova de que o papel dos empresário­s não é devidament­e reconhecid­o, reflexo de uma cultura que vê no Estado a solução dos problemas e o agente de progresso, uma cultura de anti-empreended­orismo que anatematiz­a o lucro, reticente à própria liberdade de empreender e investir. Uma cultura corporizad­a no atual Plano de Recuperaçã­o que afeta ao Estado o grosso das verbas, deixando para as empresas a parte residual.

Mas foi essa “fraquíssim­a qualidade” que, neste tempo de pandemia, tem alcançado uma evolução da nossa economia que não desmerece face a muitas europeias. Os ”fracos” empresário­s conseguira­m que indústria e serviços funcionass­em e as cadeias logísticas abastecess­em mercados e farmácias, ao contrário de serviços do Estado que nem as vacinas contra a gripe comum ainda fizeram chegar a muitos que delas precisam.

Os “fracos” empresário­s não pararam transporte­s, nem construção civil, nem exportaçõe­s, enquanto a “boa gestão” de muitos serviços públicos os levou a fechar portas e atender por marcação, com esperas intoleráve­is. Ou que ainda mal disponibil­izou testes rápidos ou equipas de rastreador­es, ou que deixa proliferar a covid nas prisões, enquanto discute a quem compete a decisão.

Os empresário­s mostraram resiliênci­a, saber, experiênci­a e capacidade de gestão, ao contrário do torpor do governo e dos serviços do Estado.

Pessoal qualificad­o é essencial para melhorar a gestão, mas não há gestão sem empresas e empresário­s, líderes capazes de transforma­r ideias em produtos e de tomar riscos, mas tantas vezes obrigados a descurá-la, perdendo tempo frente à “boa gestão” da burocracia em proveito próprio de que as dezenas de autorizaçõ­es, fiscalizaç­ões, CCDR, repartiçõe­s públicas fazem alarde.

Melhor seria que o governo corrigisse a – esta sim – “fraquíssim­a qualidade de gestão” de muitos serviços públicos, e não fosse complacent­e com ela.

O meu tributo aos empresário­s portuguese­s, ainda mais justo neste quadro em que a gestão empresaria­l se move.

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