Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
“A covid custa-nos diretamente 2,5 milhões de euros, fora a quebra de receitas”
Impacto da pandemia na Universidade de Coimbra está em linha com resultados de inquérito internacional, diz o reitor.
Aulas virtuais, investimento em nova tecnologia, quebra de receitas, mais despesas. O impacto da covid nas universidades do mundo inteiro é pesado e duradouro. Isto mesmo é o que revela um inquérito realizado a mais de 700 reitores de universidades de 90 países do mundo inteiro, divulgado nesta quarta-feira, 25 de novembro, pelo Santander Universidades. Em linha com as conclusões deste documento, o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, admite que, só neste ano, os gastos diretos com a pandemia já somaram 2,5 milhões de euros.
As contas são fáceis de fazer. “Os nossos custos diretos com a covid, em investimento a vários níveis na operação da universidade, não andarão longe de um milhão de euros”, contou Amílcar Falcão. “Na operação da ação social é pior: iremos ter certamente um défice na ordem de 1,5 milhões de euros”, concluiu.
É uma análise que vai ao encontro das previsões de 45% dos dirigentes académicos que responderam ao Inquérito Global às Respostas da Liderança [Universitária] à covid, levado a cabo pelo Banco Santander, em conjunto com a Associação Internacional de Presidentes Universitários (IAUP, na sigla inglesa), e a que responderam diversas universidades portuguesas.
A tal percentagem de 45% de dirigentes “prevê a necessidade de aumentar o apoio financeiro a alunos e de um maior investimento em infraestruturas relacionadas com a capacidade tecnológica das universidades”, lê-se no documento.
O reitor da Universidade de Coimbra, concretiza um pouco melhor como é que se chega a gastos destes. Na Universidade de Coimbra, “temos 26 edifícios e todos, neste momento, estão equipados com cancelas em que as pessoas, à entrada, têm um cartão de identificação que tem de ser validado”, explica o reitor. Para isso, segundo conta Amílcar Falcão, é preciso passar por uma validação da temperatura corporal. “Portanto, é todo um processo que envolve pessoas, envolve as cancelas, envolve toda a parte de hardware, digamos assim, e, portanto, isso custou-nos bastante dinheiro”, avançou.
Para além disso, há todas as “despesas com máscaras, com álcool-gel e com as sinalizações”. E como a U.Coimbra também faz rastreios à covid, diz o seu dirigente máximo que estes também representam um gasto.
“Também desenvolvemos já uma aplicação autónoma para o funcionamento das aulas, no regime presencial ou não-presencial, que é uma aplicação da Universidade de Coimbra que nós sentimos necessidade de desenvolver e que está a ser, neste momento, aplicada”, adiantou o responsável.
Ora, precisamente, os resultados do inquérito Respostas da Liderança à covid demonstram que a pandemia vai ter um forte impacto económico, tanto no que diz respeito às matrículas – 59% esperam reduções na inscrição de estudantes – quanto a necessidades acrescidas de infraestruturas das universidades.
O reitor afirma que as aulas presenciais vão continuar a ser prevalentes na Universidade de Coimbra, até porque os seus cursos estão assim acreditados, sublinha. Haverá é cursos mais ou menos híbridos, consoante as circunstâncias e as áreas do saber.
Na perspetiva deste líder universitário, a pandemia, com tudo o que tem de negativo, “acelerou um conjunto de coisas que seguramente iriam demorar muito mais tempo a acontecer e que assim são factos consumados”. Refere-se Amílcar Falcão à transição para a realidade digital. “Na Universidade de Coimbra, acelerámos muito o nosso processo de digitalização e de desmaterialização”, diz o responsável.
No seu entender, vai ter de haver uma rápida adaptação das instituições à nova realidade. “E não estamos a falar só de aulas, estamos a falar das provas académicas, da administração, da forma como nós fazemos as compras, como lidamos com os projetos, etc.”, explicou.
“São este tipo de coisas que eu creio que vão acelerar muito rapidamente e que vieram para ficar, não vamos voltar atrás. Se calhar, se nós fizéssemos isto (que já tínhamos essa intenção) como antes demorávamos quatro ou cinco anos. Assim, demorou menos”, afirmou o reitor da Universidade de Coimbra.