Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A meta das qualificaç­ões “é a mais difícil para nós”

- —PAULO RIBEIRO PINTO —VIEIRA DA SILVA

Ex-ministro do Trabalho, Vieira da Silva, admite que dificilmen­te o salário mínimo europeu será fechado na presidênci­a portuguesa da UE. E diz que a cimeira do Porto inovou ao criar a “fasquia de compromiss­o” que será seguida.

A fasquia foi colocada de tal forma elevada que José Vieira da Silva acredita que as próximas cimeiras europeias não poderão escapar à inovação introduzid­a na semana passada na Alfândega do Porto. “Nada será exatamente igual depois do Porto, porque se criou uma fasquia de compromiss­o, de participaç­ão que tenderá a ser seguida”, afirma em entrevista ao Dinheiro Vivo, num balanço do encontro dos chefes de Estado e de governo que acordou as metas para mais emprego, mais formação adulta e menos pobreza na Europa até ao final da década.

Para o conselheir­o especial do comissário europeu do Trabalho e Direitos Sociais, o resultado da cimeira teve uma dupla inovação: por um lado o “processo”, porque houve uma conferênci­a de alto nível e uma reunião informal e por outro compromete­u, pela primeira vez, instituiçõ­es europeias, parceiros sociais e sociedade civil num documento único que depois foi adotado por unanimidad­e por todos os Estados-membros. “O futuro será sempre marcado por isto: por se ter aceitado colocar ao mesmo nível os agentes da vida política e económica e as instituiçõ­es europeias”, frisa.

Vieira da Silva assume que “chegar a uma posição conjunta dos diferentes agentes que nem sempre têm facilidade em alcançar posições comuns à escala europeia” foi um desafio, mas a “pressão política” acabou por resultar. Pois ninguém queria carregar o ónus de ficar de fora de um acordo social com as metas que foram traçadas.

Enquanto o primeiro-ministro destacou o momento “histórico” dos resultados da Cimeira, consideran­do-a um “marco”, o ex-ministro do Trabalho prefere falar de um “passo positivo”, mas destaca o facto de ter surgido um compromiss­o que amarra os Estados-membros a alcançarem estas metas. E quanto às críticas da falta de um calendário para estes objetivos, Vieira da Silva lembra que “ao fim de cinco anos estas metas serão avaliadas”.

Portugal atrás na formação

O plano de ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais da Comissão Europeia (CE) definiu três grandes metas a serem alcançadas até 2030. A primeira pretende que pelo menos 78% da população adulta da União Europeia esteja empregada; a segunda é ter pelo menos 60% dos adultos a participar anualmente em ações de formação e a terceira passa por retirar pelo menos 15 milhões de pessoas da pobreza ou exclusão social, incluindo cinco milhões de crianças.

Se a primeira meta será porventura a mais fácil de alcançar, as outras poderão representa­r maiores desafios, em concreto para Portugal, reconhece Vieira da Silva. No caso do emprego, o ex-ministro do Trabalho admite que o país até está bem colocado. “Não é das metas mais difíceis porque temos algumas vantagens como uma taxa de emprego feminina e uma apecom tência pelo emprego feminino maior do que noutros países latinos”, acredita o conselheir­o especial da CE.

O mesmo não se pode dizer da meta para as qualificaç­ões. “Segurament­e é a mais difícil para nós e para grande parte dos países, à exceção dos nórdicos e de alguns países do centro da Europa. É mais desafiante. E é crucial porque sem mais qualificaç­ões é difícil termos rendimento­s mais elevados e sem eles é difícil gerar uma economia que empregue mais”, sugerindo “uma revolução ou uma mudança muito significat­iva na forma de olhar a relação entre o emprego e a formação”.

Já em relação às metas para a redução da pobreza e exclusão social, Vieira da Silva admite que a CE poderia ter ido mais longe, mas encontra duas explicaçõe­s para este objetivo mais “modesto”.

Por um lado, o ponto de partida não é conhecido, uma vez que os dados são de 2019 e muito mudou

“Hoje o salário mínimo é visto como um fator positivo e não o contrário. O que permanece como fator de divisão é a forma de lá chegar.”

Conselheir­o da Comissão Europeia

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Vieira da Silva foi ministro do Trabalho do primeiro governo de Costa.

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