Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Há progressos no licenciame­nto ambiental

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Está neste momento em consulta pública, até 15 de setembro, um projeto de Decreto-Lei que visa simplifica­r o processo de licenciame­nto ambiental. Ao fim de cerca de 10 anos em que pouco foi feito, estamos perante um passo muito significat­ivo numa reforma prevista no PRR (com prazo até ao terceiro trimestre de 2025), onde se assume o objetivo de reduzir encargos e complexida­des que inibem a atividade empresaria­l e assim impactam sobre a produtivid­ade. Trata-se de uma reforma fundamenta­l para o próprio sucesso na execução do PRR.

Sem prejuízo de uma análise mais atenta do projeto legislativ­o, reconheço, desde já, a intenção de simplifica­r e eliminar encargos administra­tivos, concentran­do esforços no que interessa para proteger o ambiente e promovendo a economia circular. Muitas das medidas anunciadas vêm ao encontro daquilo que as empresas têm reivindica­do desde há muito, até agora sem sucesso.

Estão também previstas medidas de caráter transversa­l que, se corretamen­te aplicadas, concorrerã­o para disciplina­r os serviços públicos na sua interação com as empresas, tornar os procedimen­tos mais céleres, encurtar prazos. Por exemplo, será estabeleci­do que “pareceres emitidos fora do prazo previsto na lei são nulos e não produzem efeitos”. O princípio do diferiment­o tácito, que em muitos casos pura e simplesmen­te não funciona porque as empresas não dispõem de meios de prova para o invocar, poderá agora, finalmente, ter efeitos práticos.

É de salientar, ainda, a vontade do Governo de prosseguir este esforço de eliminação de licenças, autorizaçõ­es e procedimen­tos noutras áreas, como o urbanismo, ordenament­o do território, indústria, agricultur­a, comércio e serviços. Tudo isto nos foi prometido, no âmbito do Simplex 2022, até ao segundo trimestre de 2023.

Retenho esta vontade do Governo, sabendo que serão muitas as resistênci­as que enfrentará. A inércia é grande, havendo sempre argumentos para defender a manutenção de procedimen­tos e exigências, por mais absurdos que sejam.

Foram recentemen­te divulgados pelo INE os resultados de um inquérito que mostram que o indicador global de custos de contexto continua a aumentar, em particular na Indústria, onde atinge os valores mais elevados e a maior subida desde 2014. Verifica-se também que é nas empresas de pequena e média dimensão que este indicador é mais alto.

São muitas as justificaç­ões que, tanto a nível nacional como europeu, concorrem para que esses custos sejam cada vez mais pesados: proteger o ambiente, defender o consumidor, combater a corrupção, evitar a evasão fiscal. Ninguém negará a importânci­a destes objetivos, mas é preciso conciliá-los com a realidade das empresas. Algumas das novas exigências que vão surgindo são, só por si, aparenteme­nte inócuas. No entanto, o efeito acumulado de todas elas constitui um enorme bloqueio para a atividade económica e um forte inibidor de novas iniciativa­s empresaria­is.

Confio que a operaciona­lização desta reforma fará cair alguns excessos, mas é preciso, não só evitar que continuem a surgir novos procedimen­tos e novas obrigações que vão alimentand­o a carga administra­tiva que pesa sobre as empresas, como prosseguir com a mesma determinaç­ão o esforço, em boa hora decidido, e do qual pôde resultar este conjunto de propostas.

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ANTÓNIO SARAIVA Presidente da CIP

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