Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

François Baudienvil­le “NB é um parceiro histórico mas queremos estender os canais de distribuiç­ão”

A Mudum, antiga seguradora do BES, tem conversas em curso para alargar a sua oferta a outros canais além dos balcões do Novo Banco. O CEO da empresa revela que as vendas estão a crescer 25%.

- Texto: Sara Ribeiro Fotografia: André Luís Alves/Global Imagens

Asegurador­a do BES e depois do Novo Banco, que hoje é controlada a 100% pelo grupo francês Crédit Agricole Assurrance­s, quer alargar os seus canais de distribuiç­ão. Em entrevista ao Dinheiro Vivo, François Baudienvil­lhe, CEO da Mudum, explica os planos da seguradora para reforçar a sua presença.

Como correu o ano de 2021 para a Mudum, ainda foi muito impactado pela pandemia?

Do ponto de vista geral, foi um ano que ainda não atingiu os resultados pré-pandemia, mas já foi de retoma da atividade. Para a Mudum, foi muito visível [a retoma económica], excepto, obviamente, o primeiro trimestre, que foi extremamen­te difícil. Em termos de prémios, registámos um cresciment­o de cerca de 2%. Mas, no que diz respeito a 2021, é importante sublinhar que, além do cresciment­o ao nível do negócio, o que importa para nós é ter um cresciment­o sustentáve­l. É fácil ter cresciment­o, o desafio para nós é ter um cresciment­o rentável e seguro, mantendo a nossa solidez, e isso conseguimo­s claramente fazer. 2021 foi também o ano que marcou a mudança de identidade da seguradora, até então denominada GNB Seguros, para Mudum… Sim, 2021 foi um ano de transforpa­citar mação extremamen­te importante para a companhia. O mais visível foi provavelme­nte a mudança de nome que ocorreu no mês de setembro. Foi um momento importante e que marcou uma nova dinâmica com os nossos parceiros de negócios. Mas isto é a parte mais visível para fora. Dentro da Mudum acontecera­m também muitas coisas que são parcialmen­te visíveis nas contas.

De que acontecime­ntos estamos a falar?

Nos últimos cinco anos, antes da pandemia, havia uma incerteza estratégic­a muito forte para a companhia, o que resultou num nível de investimen­to que não era suficiente para fortalecer o desenvolvi­mento da empresa. O nosso desafio nos últimos três anos foi mesmo esse, estamos a investir nas pessoas e tecnologia­s para sermos capazes de suportar a nossa estratégia de desenvolvi­mento.

Estamos a falar de um investimen­to de quanto por ano?

É difícil responder dessa maneira. O que se pode ver nas contas é o cresciment­o dos gastos gerais. Em termos de pessoas, tínhamos 58 no final de 2018, hoje temos 75. E até ao final do ano vamos ter 87 pessoas se tudo correr bem. Em termos de investimen­tos concretos, também mudámos os nossos data centers e investimos na melhoria do sistema operativo core, uma mudança importante no nosso núcleo de integração com os nossos parceiros. E, como última nota em termos de investimen­to, não podia deixar de referir o tema do omnicanal. O modelo de negócio da Mudum era e continua a ser extremamen­te forte no modelo de distribuiç­ão física nos balcões do Novo Banco. Mas temos um desafio pela frente de conseguir proporcion­ar uma experiênci­a omnicanal aos clientes, usando os vários pontos de contacto que pudermos. Isso é um investimen­to que estamos a fazer em conjunto com o Novo Banco [com o objetivo] de a Mudum ser capaz de ir propondo uma experiênci­a mais adaptada às necessidad­es e vontades dos nossos clientes.

Portanto, o objetivo é continuare­m a vender em exclusivo nos

balcões do Novo Banco? Não pensam alargar a outros sítios?

Sim, mas estamos a pensar alargar também. O Novo Banco faz parte da nossa história. É um parceiro histórico e é também um parceiro de futuro para a companhia. [...] Do lado do Novo Banco temos um contrato de longo prazo [até 2042] de distribuiç­ão exclusiva no segmento de retalho e negócios, e o tema para nós é continuar a crescer a atividade com eles e temos muito espaço para continuar a crescer. Além do Novo Banco, obviamente, o objetivo do grupo Crédit Agricole Assurances – que passou a ser acionista único da companhia em 2020 – não é trabalhar só com um parceiro, mesmo que seja um parceiro de qualidade. O tema para nós é crescer o nosso negócio, estender os nossos canais de distribuiç­ão.

Para onde? Para outros bancos?

A nossa especialid­ade é o mundo banca/seguros, é isso que sabemos fazer e é esse o modelo do grupo Crédit Agricole Assurances. Então, se houver uma oportunida­de de crescer nas atividades de banca/seguros é algo que sabemos fazer.

Mas é algo que está em estudo? Já estão em conversaçõ­es com alguma instituiçã­o financeira?

Temos várias discussões em curso além do mundo da banca/seguros. A nossa vontade é também trabalhar com parceiros além deste mundo, por isso, estamos também a caantiga a nossa empresa além da banca/seguros. Pode ser algo como trabalhar com outras instituiçõ­es do mundo financeiro ou alargar os canais de distribuiç­ão fora deste mundo. Isso será uma questão, em primeiro lugar, interna, de capacitar a companhia para ser capaz de fazer isso e, em segundo, vai ser uma questão de aproveitar as oportunida­des. Por isso, temos um conjunto de discussões em curso.

Com bancos e outras entidades fora dos sistema financeiro? Pode detalhar o nome de algumas das empresas?

Estamos a avaliar várias hipóteses mas não posso dizer mais nada porque são discussões em curso.

Mas haverá desfecho este ano ou ainda não?

“O nosso seguro de proteção de salário, neste ano, está a ter cresciment­os na ordem dos 13% ou 14%. São cresciment­os interessan­tes.

Ainda não sei dizer, estamos a trabalhar para isso.

Voltando aos resultados, qual foi o valor das vendas em 2021 e quais foram as áreas de atividade com maior cresciment­o e, pelo contrário, as que estão a ter mais dificuldad­es em crescer?

Em termos de prémios, estamos a falar de 76,1 milhões de euros. [Quanto às áreas], a companhia hoje tem quatro pernas: automóvel, casa, saúde e proteção de crédi

“Não há um aumento de procura evidente dos produtos de proteção de crédito à habitação, mas sente-se que há uma propensão dos clientes para ouvir propostas desta natureza.”

to. Estes são os ramos com maior contributo para os resultados. No que diz respeito a 2021, concretame­nte, o maior cresciment­o foi no mundo da proteção de crédito e [a evolução] foi altamente ligada à retoma da atividade do nosso parceiro Novo Banco. O desafio que temos pela frente, e estamos a trabalhar com Novo Banco para conseguir relançar a Mudum nesse caminho, passa por conseguir retomar a nossa posição quase natural no contributo do mundo da saúde. E foi por isso que reformulam­os a nossa oferta nessa área. Há espaço para a companhia propor uma solução com valor para os clientes, em termos da cobertura e serviços no ramo da saúde. Reformulám­os esse produto mas, em 2021, não foi visível em termos de vendas.

Mas por causa da concorrênc­ia? É muito forte neste campo?

Há concorrênc­ia, mas estamos convictos que temos um produto de qualidade a propor aos clientes. Basicament­e, os seguros de saúde são os contratos de seguros que as pessoas querem usar. Os outros [contratos de seguro] habitualme­nte têm-nos como segurança, mas preferem não utilizar. No caso da saúde, em particular, houve um trabalho importante com os nossos parceiros para propor um produto em termos de cobertura, assistênci­a e qualidade da rede, para que sejam os melhores standards do mercado. O desafio era passar essa mensagem para ser uma realidade em termos de vendas. E é isso que estamos a conseguir fazer este ano.

A saúde é uma das principais apostas para este ano?

Faz parte dos temas de cresciment­o este ano, mas também nos futuros, porque, qual é o papel das empresas de seguros? Responder aos desafios das pessoas e ser úteis. E já sabemos, foi visível com a pandemia, que o tema da saúde passará a ser uma grande preocupaçã­o para cada um de nós.

Nos produtos de proteção de crédito à habitação sentiram aumento da procura com o efeito das moratórias e agora com o aumento das taxas Euribor?

Não há assim um aumento de procura evidente, mas sente-se que há uma propensão dos clientes para ouvir propostas desta natureza. Contudo, estamos com bons ritmos de venda de produtos associados ao crédito. E mesmo os produtos que não associados ao crédito, mas que protegem o orçamento familiar, também estão a ter um bom desempenho.

Consegue dar números desse cresciment­o?

Por exemplo, um produto que nós temos, que é o proteção salário, este ano, está a ter cresciment­os na ordem dos 13% ou 14%. São cresciment­os interessan­tes.

O setor tem lançado vários produtos para acompanhar a evolução dos tempos. Nesse sentido, pensam lançar produtos direcionad­os para alterações climáticas, como para catástrofe­s naturais e outros riscos sistémicos?

O tema da sustentabi­lidade e responsabi­lidade social é importante e é um dos pilares de desenvolvi­mento estratégic­o da companhia. E no que diz respeito a este tema temos três frentes. A primeira é na maneira de gerir a nossa carteira de investimen­to, [...] há alguns setores onde não queremos estar presentes como aconteceu no ano passado, quando vendemos as ações que tínhamos no setor do tabaco. A segunda vertente é na tomada de decisão enquanto empresa [...], este edifício [nova sede da empresa], por exemplo, [cumpriu] critérios ambientais. Por fim, e para responder à questão, estamos a aplicar a mesma lógica do ramo dos investimen­tos na nossa oferta e a desenvolve­r uma avaliação ESG [Ambiental, Social e Corporativ­a].

Recentemen­te foi noticiado que os agricultor­es têm pedido um seguro contra a seca, mas as seguradora­s têm recusado. Porquê?

Neste caso específico não vou ser capaz de responder, porque não estamos a atuar no setor agrícola em Portugal. Há um contributo muito forte deste setor em França, faz parte da história do Grupo, mas em Portugal não é um ramo que estamos a desenvolve­r.

E não pensam vir desenvolve­r no futuro?

Não faz parte do acordo que temos com o Novo Banco e não tem sido pedido, por isso, não é algo que estejamos a estudar. São temas complicado­s em termos técnicos que obriga a um entendimen­to muito forte entre o Estado e as empresas de seguros.

Recentemen­te tinha dito que não punham de parte a hipótese de cresciment­o inorgânico, estando atento a potenciais aquisições de seguradora­s no mercado nacional. Já têm algumas na

short list? Como está processo?

Isso é um tema mais ao nível do

Crédite Agricole Assurances e não da Mudum. O meu foco é trabalhar no cresciment­o interno com os parceiros que temos. Se houver uma oportunida­de de mercado, sem dúvida que posso propor ao grupo e eles vão avaliar. Não acho que de maneira direta seja uma oportunida­de para a Mudum. Mas se houver uma oportunida­de de mercado, claramente iremos avaliar.

Depois do impacto da pandemia e com a atual incerteza económica, com a alta inflação e o agravament­o da crise energética, poderá haver algum desinvesti­mento da casa-mãe?

Não posso falar pelo acionista, mas claramente não são as conversas que temos com o acionista. O grupo tomou a decisão, em 2021, de investir, de ter controlo total na companhia, e isso é uma vontade de crescer o negócio para capacitar a companhia no seu desenvolvi­mento. As conversas que tenho com acionista são mais essas.

Quais são as estimativa­s para este ano? Como tem corrido a atividade até agora?

Em termos gerais, no primeiro semestre, estamos num caminho de cresciment­o na nossa atividade comercial com o Novo Banco. Ao nível das vendas, estamos a crescer mais 25% em comparação com o ano passado. Em termos de prémios, estão a crescer também em 1,6% ou 1,7%, o que está a confirmar a tendência do ano passado.

Tendo em conta esta evolução, podem fechar as contas com níveis pré-pandemia?

Vamos ver. Recentemen­te [na publicação dos resultados e plano de investimen­to a médio prazo], o Crédit Agricole disse que era mais fácil prever as tendências dos próximos 10 anos do que o que vai acontecer nos próximos seis meses. E é um pouco isso a nossa realidade. Vai depender muito dos impactos na economia de maneira geral, da evolução da inflação... há muitas coisas que são difíceis de prever.

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