Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Notícias da televisão
Nesta semana proponho uma visita ao universo das audiências de televisão e ao que tem sido a sua evolução nos primeiros sete meses deste ano. A primeira nota é que a SIC reforçou a sua liderança – em janeiro tinha uma vantagem de apenas 1,2% em relação à TVI, em termos de share médio mensal, mas no final de julho a diferença subiu para 1,6%. No entanto, o dado mais saliente é que entre janeiro e julho os dois canais perderam share de audiência. Em janeiro, a SIC registava 17,6% de share médio mensal e em julho ficou nos 15,5%; a TVI tinha em janeiro 16,4% e em julho ficou nos 13,9%. Já agora, a RTP1 tinha em janeiro 10,4% e em julho 9,9%.
Estes números refletem o que tem sido a queda de audiência dos generalistas (RTP1 e RTP2, SIC e TVI). De facto a soma do
share médio mensal destes quatro canais em janeiro era de 45,4%, mas em julho tinha caído para 40,2%. Isto quer dizer que, em janeiro, o cabo e as plataformas de streaming tinham cerca de 55% de share médio, valor que em julho já aumentou para praticamente 60%. Crescimento que se deveu sobretudo a ganhos de audiência verificados no conjunto dos canais de cabo, que em julho totalizaram 43%, com as plataformas de
streaming a alcançar 16%.
Outra análise curiosa é a da variação de audiências dos canais de informação: CMTV, CNN, SIC Notícias e RTP3. Em janeiro, a CMTV tinha 4% de share médio, no final de julho alcançou 5,6%; a CNN passou de 2% para 3,1%; a SIC Notícias, que em janeiro teve 1,9%, em julho estava nos 2,2%; a RTP3 foi o único canal informativo a registar uma diminuição de share passando de 1,3% para 1,1%. Claro que a invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, fez disparar a audiência dos canais de informação, sendo março o mês com a variação mais sensível, aquele no qual CNN e SIC-N obtiveram os seus melhores resultados do ano, respetivamente 4,6% e 3,2%.
A quebra de audiência dos canais generalistas está longe de ser um fenómeno português – reflete uma alteração profunda nos hábitos dos espectadores que, como se vê pelos números, já preferem maioritariamente (60%) decidir eles o que querem ver em cada momento, em vez de se sujeitarem às grelhas de programas com horários definidos. Por isso decidem ter uma escolha alargada nas tipologias de programas do cabo, ainda para mais utilizando de forma crescente a função de gravação que as boxes dos operadores de comunicações disponibilizam e que permitem gravar para posterior visionamento, de forma automática ou programada, os conteúdos que não são vistos no horário de exibição normal.
A isto acresce o crescimento do número de operadores de
streaming no mercado português. E em breve, o panorama de desvio de audiências para o streaming pode vir a aumentar mais, logo que as principais plataformas introduzam a versão gratuita ou a preço muito reduzido, que incluirá publicidade, mantendo as versões premium para os assinantes que preferem não ter mensagens comerciais. Tal como acontece no campo da música com o Spotify, a versão gratuita com publicidade traz mais utilizadores e poderá trazer um incremento substancial dos espectadores que terão acesso ao streaming.
Esta alteração terá um duplo efeito a médio prazo: desgastar ainda mais os canais generalistas e fazer passar parte dos utilizadores do cabo para o streaming, sobretudo os que preferem canais de séries e filmes. Tudo isto promete mais alterações a médio prazo e uma quebra ainda maior do número de espectadores que seguem os generalistas.