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Suécia inova com prédios de madeira contra a poluição

Os novos edifícios de madeira têm a capacidade de captar o carbono da atmosfera e armazená-lo. A tecnologia inovadora já está em mais de 20% dos novos prédios suecos.

- —CARLA AGUIAR

E se, afinal, a tradição mais ancestral de construir casas for também a via mais futurista e ecologista para as cidades da nova era? Isso mesmo é o que já está a acontecer na cidade sueca de Skelleftea que, tirando partido da abundância florestal da costa de Bothnian, ousou construir prédios de apartament­os em madeira.

A inovação consiste em pegar na tradição das casas suecas e elevá-la literalmen­te a outro patamar. Porquê? A madeira com captação de carbono é um novo material que, ao contrário do cimento, não só não é nocivo para o meio ambiente como é capaz de capturar o dióxido de carbono e armazená-lo definitiva­mente.

A cidade escandinav­a está apostada em tornar a indústria de construção local livre de materiais nocivos para o ambiente. E há muitas razões para o fazer.

O setor da construção foi responsáve­l por mais de 38% das emissões globais de carbono relacionad­as com a energia - só em 2015, indicam dados das Nações Unidas. E a produção de cimento, em particular, é o maior emissor industrial de CO2 do mundo.

Porque não se está a investir maisem materiais alternativ­os para a construção ou na reciclagem do cimento também em países como Portugal, que não dispõem da mesma quantidade de madeira? A diretiva europeia 2008/98/EC impõe uma taxa de 70% para valorizaçã­o de resíduos de construção não perigosos, mas os resíduos de construção e demolição estão ainda longe de ser um modelo de transição ecológica, na medida em que uma parte significat­iva desses resíduos não recebem ainda o tratamento e destino adequados.

Segundo o Euronews, a madeira com captação de carbono representa já mais de 20% de todos os novos prédios de vários andares na Suécia. Até recentemen­te os regulament­os municipais na Suécia só permitiam a construção em madeira até aos dois andares, mas essa limitação foi ultrapassa­da e é agora o material de eleição no país com a maior percentage­m de floresta da Europa.

A construção em madeira faz parte da paisagem de Skelleftea, que tem usado a abundância das florestas para construir os seus edifícios. Uma ponte que atravessa o rio local ou um parque de estacionam­ento de três andares no centro da cidade mostram que não há, afinal, limites.

É essa tradição verde que a liderança municipal quer manter viva para as novas gera

ções, com as estimativa­s apontarem para um cresciment­o populacion­al de 72 para 80 mil habitantes até 2030.

“Em toda esta mudança que estamos a passar, com todas as novas pessoas a mudarem-se para cá, sentimo-nos seguros de que temos este novo material ecológico”, diz Evelina Fahlesson, a Vice Presidente da Câmara da cidade, em declaraçõe­s ao Euronews. “Se não tivéssemos esta tradição, em que se tornaria a cidade? Em algo totalmente diferente”.

O edifício mais emblemátic­o desta nova era da madeira com captação de carbono é o Centro Cultural Sara, com 20 andares e 75 metros de altura, inaugurado em setembro de 2021 na cidade. Os responsáve­is da Sweedish Wood garantem que o edifício conseguirá capturar mais de 9 milhões de quilos de CO2 ao longo da sua vida útil para além de ser uma estrutura inteligent­e com autonomia energética, a partir de painéis solares.

Aquela que é a segunda torre de madeira mais alta do mundo, alberga seis palcos de teatro, uma biblioteca, duas galerias de *

arte, um centro de conferênci­as e um hotel com 205 quartos. E é construída a partir de mais de 12 mil metros cúbicos de madeira - colhida em florestas a apenas 60 km da cidade.

“Todos pensavam que éramos um pouco loucos ao propor um edifício como este em madeira”, diz Robert Schmitz, o arquiteto responsáve­l pela construção. “Mas fomos bastante pragmático­s, por isso dissemos que se não se pode fazer tudo em madeira, então podemos, pelo menos, fazer uma parte dessa forma. Mas durante o processo de conceção, todos nós dissemos que é mais eficiente construir tudo em madeira”.

Já Tomas Alsmarker, chefe de inovação da empresa Swedish Wood, citado no mesmo artigo, considera que o país tem assistido a uma enorme mudança nos materiais de construção ao longo dos últimos cinco anos. E conclui: “Para todos os edifícios até oito andares, a questão não é se é possível fazê-lo em madeira. A questão devia ser: porque não construir em madeira?”.

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O centro cultural Sara, em Skelleftea, é uma torre inteligent­e toda construída em madeira.

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