Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
ALOJAMENTO LOCAL PREÇOS DISPARAM 30% E RECEITAS JÁ SUPERAM 2019
Aumento de preços e procura galopante do turismo ajudam contas a recuperar desde abril. Novos registos já estão acima do pré-pandemia e a região Norte destaca-se. Mas ALEP já alerta para a incerteza no inverno.
O ano começou morno com e com algumas nuvens cinzentas no turismo mas, apesar do arranque menos otimista, a verdade é que no fim de junho tinham sido já batidos recordes de receitas no alojamento. Apesar de o número de hóspedes estar ainda aquém do pré-pandemia, o aumento dos preços nos últimos meses tem ajudado às contas do setor. Seja pela inflação ou pela expressiva procura que se manifestou às portas do verão, os preços por noite no país estão mais caros e o Alojamento Local (AL) tem beneficiado dos bons ventos. Nos primeiros seis meses do ano, este segmento somou 162 milhões de euros em proveitos totais, ou seja, o total das receitas amealhadas não só com dormidas mas com os serviços complementares pagos pelos hóspedes.
Os números, avançados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nesta semana dão conta de um aumento de 3,9% face ao mesmo período de 2019. Ao isolar apenas as receitas que resultam exclusivamente do alojamento, verifica-se um salto maior, de 5% face ao pré-pandemia, para 145 milhões de euros. A GuestReady, maior gestora de AL do país, confirma os bons números e revela que no passado mês de julho a média das receitas das mil propriedades que gere em Portugal estavam já 25% acima do mesmo período em 2019. “A recuperação foi acentuada a partir de abril e, a partir daí, começámos bater recordes em comparação com 2019, que tinha sido o nosso ano mais forte. Setembro também estará em linha, já temos reservas que o permitem confirmar”, refere o managing director da empresa em Portugal e Espanha, Rui Silva. Apesar de a taxa de ocupação ter subido ligeiramente face àquele que foi o melhor ano de sempre para o turismo do país, para 90% (86% em 2019), o responsável garante que são os preços que têm alavancado a retoma. “Não é na ocupação que se nota a melhoria, é na receita e no preço diário que se verifica uma recuperação acentuada”, garante, adiantando que em agosto as tarifas diárias aumentaram, em média, 30% face ao cobrado nesta altura em 2019.
Lisboa mais cara e Norte em destaque
A Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) concorda que o segundo semestre do ano foi um balão de oxigénio para o setor e confirma que os preços têm subido nos meses de verão. Por exemplo, na capital, onde vigora a suspensão de novos registos em 14 das 24 freguesias da cidade desde março, a oferta caiu 20% o que motivou um aumento das tarifas na ordem dos 15%, segundo a associação. A GuestReady atesta o cenário. “Com o aumento da procura a oferta não expandiu e obviamente que beneficia os que já estão em operação. Há alturas em que não temos nada disponível. Lisboa tem estado esgotada, principalmente nos fins de semana temos as casas todas ocupadas”, adianta Rui Silva. A ganhar palco está o Norte do país, onde a atividade cresce pujante quer em procura quer em oferta. Aqui, o mercado nacional tem sido presença assídua. “São os portugueses que têm ido para zonas mais remotas e não urbanas. Os estrangeiros estavam com sede de cidade e os portugueses este ano estão a recorrer muito mais o AL e estão a ir para zonas mais remotas, como são exemplos as regiões de Viana do Castelo, Braga, Gerês ou Douro”, enumera o managing partner da GuestReady.
O peso do mercado doméstico na operação do grupo em Portugal subiu para 8% quando em 2019 se fixava em 1%.
A procura a Norte tem sido acompanhada também pela corrida aos novos registos de propriedades. No primeiro semestre, o número de novos AL aumentou 60% em Bragança, face a 2019, subiu 52% em Viana do Castelo e cresceu 31% em Vila Real, de acordo com os cálculos realizados pelo Dinheiro Vivo através dos dados disponíveis no Registo Nacional de Estabelecimentos de Alojamento Local (RNAL). A ALEP explica que este é o resultado de uma tendência que ganhou forma nos últimos dois anos. “O destaque está a ir para a região Norte nas cidades mais pequenas e no interior, toda a linha do Douro e Paiva. Durante a pandemia descobriram-se as zonas fora das grandes cidades e isso incentivou muitos proprietários a transformar segundas habitações ou casas de campo em AL. Na primeira vaga o mercado interno acorreu a estas regiões, depois seguiram-se os nómadas digitais e, agora, estas unidades estão disponíveis para receber turistas”, enquadra o presidente da ALEP, Eduardo Miranda.
Os dados do RNAL destacam ainda o crescimento de novos registos em Portalegre (+100%), Évora (+35%) e Guarda (+28%). A ALEP aponta também o aumento da oferta no Algarve, em 20%, em especial em Albufeira, que foi acompanhado também pela subida dos preços. “A oferta de AL cresceu mais nas zonas o o público-alvo é estrangeiro e, aqui, os preços subiram acima dos 15%. O normal era que, havendo a mesma procura, os preços baixassem mas isso não aconteceu. É um sinal positivo; mesmo com mais oferta o mercado tem-se aguentado”, analisa Eduardo Miranda. O presidente da associação que representa o AL no país, congratula-se com a recuperação que “superou a expectativas” que o setor tinha no início do ano. O dirigente acredita que as receitas extra serão fundamentais para amparar o aumento dos custos dos proprietários e ajudarão os operadores a acelerar o pagamento das dividias contraídas à banca durante a pandemia. O incremento do rendimento do setor terá ainda uma terceira finalidade, diz Eduardo Miranda, que assenta na concretização de ajustes salariais “permitindo às empresas maiores serem mais atrativas”.
Inverno otimista mas com cautela
O fim de verão marca também o início da época baixa e do abrandamento nas viagens. Ainda assim, os proprietários estão mais otimistas para os próximos meses. “Esperamos que setembro e outubro sejam meses muito bons. No passado, o tempo médio que antecedia uma reserva era de 32 dias. Este ano já temos reservas para janeiro e fevereiro de 2023”, justifica o porta-voz da GuestReady. Já o presidente da ALEP refreia os ânimos e alerta que é ainda precoce prever o futuro. “Tem de ser visto com algum cuidado. Há sinais preocupantes para o inverno e para 2023. Ainda é uma incógnita, mas os indicadores do aumento da inflação, dos custos, dos transportes e combustíveis, que afetam diretamente as viagens aéreas, podem ter um efeito na procura no inverno. É muito cedo para se fazer previsões”, acredita.
A oferta de AL em Lisboa caiu 20%, devido ao travão de novos registos que vigora desde março. Preços na capital subiram à luz da procura.