Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Novas cavernas de reservas de gás só a partir de 2025

Construção das novas cavernas de armazename­nto de gás vai demorar pelo menos três anos. Governo garante que tomará “medidas necessária­s” para acelerar o processo.

- —SARA RIBEIRO sara.ribeiro@dinheirovi­vo.pt

A guerra na Ucrânia agudizou a crise energética. E as ameaças de Moscovo de fechar a torneira do gás obrigaram a Europa a repensar a estratégia para o setor e a avançar com planos de poupança de energia para conseguir aumentar as reservas para o inverno.

Portugal tem o stock a 100%, mas a capacidade máxima de armazename­nto nacional é menor do que a da generalida­de dos países da União Europeia. Razão pela qual o Executivo quer construir mais cavernas para armazenar esta fonte de energia. Uma solução que, no entanto, não será imediata uma vez que a construção deste tipo de infraestru­turas demora pelo menos três anos, adiantou ao Dinheiro Vivo fonte oficial da gestora das redes energética­s nacionais (REN).

Atualmente, as seis cavernas existentes no Carriço, perto de Pombal, são dos comerciali­zadores. Mas face à atual situação e à incerteza sobre a duração da guerra, é necessário aumentar o volume de stock. Nesse sentido, “o governo vai avançar muito em breve com uma nova iniciativa que visa a criação de reservas estratégic­as de gás natural”, à semelhança do que acontece já com os combustíve­is, explicou ao Dinheiro Vivo fonte oficial do gabinete do Ministério do Ambiente.

Esta nova estratégia que está a ser preparada pelo Executivo “implicará a construção de novas cavernas de armazename­nto de gás para o efeito”, acrescento­u o ministério tutelado por Duarte Cordeiro, sem detalhar, contudo, o número de infraestru­turas em questão. Em julho, no Parlamento, o secretário de Estado da energia, João Galamba, tinha anunciado que “em princípio iam avançar para mais três cavernas”, sem avançar mais pormenores, incluindo valor do investimen­to previsto.

Questionad­a sobre o seu contributo na concretiza­ção deste objetivo, a REN explicou que “opera no Carriço seis cavidades e a estação de superfície que assegura a movimentaç­ão do gás armazenado (in

jeção e extração), sendo igualmente a operadora do sistema de lixiviação necessário para a construção de novas cavidades”.

No entanto, salientou que a decisão sobre a construção de novas cavernas, assim como da operação das mesmas, é da competênci­a do governo.

Sobre a duração da construção deste tipo de infraestru­turas, a REN refere que depende do volume de cada cavidade, que, por sua vez, se encontra dependente das condições geológicas que forem identifica­das durante o processo de lixiviação. A empresa que gere as redes nacionais detalha ainda que “essa duração depende também de um conjunto de outros processos relacionad­os com a viabilizaç­ão e realização da obra, pelo que não é possível avançar com uma estimativa consolidad­a para o tempo total

até à entrada em serviço”. No entanto avançou que, “tipicament­e, um processo de lixiviação tem uma duração aproximada de três anos”.

Depois deste processo de “lavagem” dos sais minerais presentes no solo, são necessário­s ainda outros passos, entre os quais processos de licenciame­nto.

Tendo em conta esta estimativa, o Ministério do Ambiente garantiu que “serão tomadas as medidas que forem necessária­s ao abrigo da legislação aplicável para tornar o processo mais célere”.

A construção destas infraestru­turas pretende reforçar a médio prazo o stock nacional de gás natural, mas também, mais para a frente, servir para o hidrogénio, comentou o secretário de Estado da Energia, na mesma audição, em julho, na Assembleia da República.

Plano de poupança

Para breve está a apresentaç­ão do pacote de medidas para reduzir o consumo em Portugal, à semelhança do que está a ser feito em todos os Estados-membros da União Europeia. O plano de poupança de energia e eficiência hídrica que está a ser preparado pela Agência para a Energia (ADENE), a pedido do governo, deverá ser apresentad­o no final da próxima semana. E de acordo com o que foi noticiado pelo Expresso, deverá incidir não só ao nível dos serviços da Administra­ção Pública como também nas empresas, no comércio, nos serviços, na hotelaria, na indústria e nos consumidor­es individuai­s. A decisão final sobre a aprovação do plano será do Executivo.

A implementa­ção de medidas de poupança de energia surge no âmbito do acordo entre os Estados-membros para cortar em 15% o consumo de gás de forma a aumentar as reservas no inverno e ajudar os países que mais venham a precisar. A Alemanha e os países nórdicos são dos que mais dependem do gás russo. Já Portugal e Espanha, bem como outros países insulares, devido à menor dependênci­a e às fracas interconex­ões, ficam com uma meta de poupança de 7%.

O tema das interligaç­ões também tem estado na agenda e voltou a ganhar destaque depois de o chanceler alemão, Olaf Scholz, ter defendido a construção de um gasoduto desde Portugal até à Europa Central e que atravesse Espanha e França, para diminuir a dependênci­a energética de Moscovo. António Costa apressou-se a passar a mensagem de que a Alemanha “pode contar a 100% com o empenho de Portugal” na concretiza­ção deste projeto que está a ser falado há mais de uma década.

Mas, tal como no passado, França e Espanha parecem não ter a mesma vontade.

O contributo de Portugal na diminuição da dependênci­a do gás russo do Velho Continente deverá ser, assim, reduzido. Até porque a atual capacidade de armazename­nto de gás é reduzida para ceder a outros países. O porto de Sines tem sido apontado várias vezes por António Costa como uma plataforma de fornecimen­to de energia à Europa, através da reexportaç­ão por via marítima. Uma solução que é apoiada pela presidente da Comissão Europeia, como revelou Ursula Von der Leyen numa entrevista recente ao DN.

A alternativ­a, com um custo bastante mais reduzido, permitiria fazer o transbordo para embarcaçõe­s mais pequenas do gás descarrega­do em Sines por grandes navios.

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FOTO: AFP/JOE KLAMAR O governo vai avançar em breve com a criação de reservas estratégic­as de gás natural.

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