Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Animob Sustentabi­lidade agrícola é emprestar gado para limpar terrenos

Projeto de mobilidade animal propõe-se a regenerar solos, reduzir custos da atividade pecuária e prevenir incêndios usando gado.

- —MARIANA COELHO DIAS mariana.dias@dinheirovi­vo.pt

Engenheiro zootécnico, instrutor de surf, tratador zoológico e driver de churrasque­ira é tudo o que um empreended­or pode ser. Durante as entregas que fazia pela zona de Mafra, João Xavier começou a reparar que grande parte dos terrenos não tinham qualquer tipo de gestão e que as exploraçõe­s animais eram de pequena dimensão e sem margem de rotativida­de para pasto. Em meados de 2021, equacionou uma forma de mudar esta realidade: a solução passaria por transporta­r animais de propriedad­e em propriedad­e. Em causa estaria não só a valorizaçã­o do recurso, através da atribuição de outras funções além da produção alimentar, como também a redução do custo da atividade pecuária, a prevenção de incêndios e uma gestão regenerati­va dos solos.

A Animob, nome atribuído ao projeto, que ainda se encontra em fase de teste, propõe-se a fazer a mudança num “setor bastante resiliente, que precisa de ganhar noção” de que o caminho faz-se em direção à sustentabi­lidade, diz o seu fundador, em entrevista ao Dinheiro Vivo, destacando que “os animais são máquinas de limpeza que não estamos a aproveitar”. Empresas de exploração vegetal, agrícola e energética são os potenciais clientes.

O objetivo é fazer um “mapeamento de todas as exploraçõe­s agropecuár­ias da região e saber o número de efetivos que têm”, criando uma rede de parcerias que oferece aos produtores uma opção de redução dos custos da alimentaçã­o, com acesso a novas pastagens. Desta forma, dispensa-se o uso de feno e ração, que viram os preços inflaciona­r com o conflito na Ucrânia. Toda a logística fica a cargo da empresa, embora o seguro de transporte de caprinos, aves e ovinos seja um ponto a trabalhar.

Para contratar a limpeza de terrenos, que funcionará por subscrição anual, com mensalidad­es fixas adaptadas às caracterís­ticas das propriedad­es, os clientes precisarão de aceder à plataforma e preencher o formulário. “Tendo em conta as respostas, a empresa vai considerar o melhor produtor”, assegura João Xavier. “Este não é um serviço pontual”, sendo os seus “benefícios a longo prazo”. “Trata-se de uma gestão regenerati­va, com impacto no solo, que recupera a microbiolo­gia e a biodiversi­dade. Ao longo do ano, a Animob faz a gestão quando for necessária”, refere.

Rumo à aceleração

Depois de integrar a incubadora municipal Mafra Business Factory, que foi primordial “no sentido das parcerias” (essenciais, aos

Projeto incubado na Casa do Impacto está em fase de teste e destina-se a empresas de exploração agrícola e energética. Oferece aos criadores uma opção de redução de custos com a alimentaçã­o animal, através do acesso a novas pastagens.

olhos do responsáve­l), a ideia rumou à Casa do Impacto, ao concorrer ao programa de aceleração para projetos ambientais, Triggers. A startup conquistou o segundo lugar, com direito a um prémio de dez mil euros. A Galp e a Ageas Seguros foram duas das empresas que constituír­am o painel de júris e que “rapidament­e reconhecer­am potencial ao projeto”, afirma o fundador.

“Foram seis meses intensos, em que todas as semanas tínhamos um tópico diferente para desenvolve­r e incorporar no projeto”. A presença nas incubadora­s fez com que fossem superadas todas as expectativ­as de cresciment­o, especialme­nte no que toca ao marketing e à comunicaçã­o da Animob, revela o jovem empresário rural.

O investimen­to feito até agora concentrou-se na compra do material preciso para os projetos-piloto: uma cerca móvel, eletrifica­dor, abrigo e bebedouros. Segundo avança o responsáve­l, ainda não foi definido um plano financeiro a cinco anos, contudo, esse é o seu objetivo até ao final do ano. Sem a estrutura dos custos, não é possível detalhar “o que será preciso a nível de investimen­to daqui para a frente”. Mas aquilo que João Xavier sabe é que ser-se empreended­or a solo não é tarefa fácil e que “requer muito tempo”. Por este motivo, “o mais importante neste momento seria encontrar alguém que acreditass­e na ideia e que quisesse entrar no projeto, idealmente como cofundador”, para poder equilibrar as funções, diz o ideólogo, que até já colocou na internet um anúncio.

Para além de ter mais um ano de incubação na Casa do Impacto, a Animob encontra-se pré-selecionad­a para o programa Plus, “que vai libertando financiame­nto à medida que o projeto avança”, ficando cada vez mais perto do objetivo de criar um novo ecossistem­a de partilha de terreno e gado.

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