Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Animob Sustentabilidade agrícola é emprestar gado para limpar terrenos
Projeto de mobilidade animal propõe-se a regenerar solos, reduzir custos da atividade pecuária e prevenir incêndios usando gado.
Engenheiro zootécnico, instrutor de surf, tratador zoológico e driver de churrasqueira é tudo o que um empreendedor pode ser. Durante as entregas que fazia pela zona de Mafra, João Xavier começou a reparar que grande parte dos terrenos não tinham qualquer tipo de gestão e que as explorações animais eram de pequena dimensão e sem margem de rotatividade para pasto. Em meados de 2021, equacionou uma forma de mudar esta realidade: a solução passaria por transportar animais de propriedade em propriedade. Em causa estaria não só a valorização do recurso, através da atribuição de outras funções além da produção alimentar, como também a redução do custo da atividade pecuária, a prevenção de incêndios e uma gestão regenerativa dos solos.
A Animob, nome atribuído ao projeto, que ainda se encontra em fase de teste, propõe-se a fazer a mudança num “setor bastante resiliente, que precisa de ganhar noção” de que o caminho faz-se em direção à sustentabilidade, diz o seu fundador, em entrevista ao Dinheiro Vivo, destacando que “os animais são máquinas de limpeza que não estamos a aproveitar”. Empresas de exploração vegetal, agrícola e energética são os potenciais clientes.
O objetivo é fazer um “mapeamento de todas as explorações agropecuárias da região e saber o número de efetivos que têm”, criando uma rede de parcerias que oferece aos produtores uma opção de redução dos custos da alimentação, com acesso a novas pastagens. Desta forma, dispensa-se o uso de feno e ração, que viram os preços inflacionar com o conflito na Ucrânia. Toda a logística fica a cargo da empresa, embora o seguro de transporte de caprinos, aves e ovinos seja um ponto a trabalhar.
Para contratar a limpeza de terrenos, que funcionará por subscrição anual, com mensalidades fixas adaptadas às características das propriedades, os clientes precisarão de aceder à plataforma e preencher o formulário. “Tendo em conta as respostas, a empresa vai considerar o melhor produtor”, assegura João Xavier. “Este não é um serviço pontual”, sendo os seus “benefícios a longo prazo”. “Trata-se de uma gestão regenerativa, com impacto no solo, que recupera a microbiologia e a biodiversidade. Ao longo do ano, a Animob faz a gestão quando for necessária”, refere.
Rumo à aceleração
Depois de integrar a incubadora municipal Mafra Business Factory, que foi primordial “no sentido das parcerias” (essenciais, aos
Projeto incubado na Casa do Impacto está em fase de teste e destina-se a empresas de exploração agrícola e energética. Oferece aos criadores uma opção de redução de custos com a alimentação animal, através do acesso a novas pastagens.
olhos do responsável), a ideia rumou à Casa do Impacto, ao concorrer ao programa de aceleração para projetos ambientais, Triggers. A startup conquistou o segundo lugar, com direito a um prémio de dez mil euros. A Galp e a Ageas Seguros foram duas das empresas que constituíram o painel de júris e que “rapidamente reconheceram potencial ao projeto”, afirma o fundador.
“Foram seis meses intensos, em que todas as semanas tínhamos um tópico diferente para desenvolver e incorporar no projeto”. A presença nas incubadoras fez com que fossem superadas todas as expectativas de crescimento, especialmente no que toca ao marketing e à comunicação da Animob, revela o jovem empresário rural.
O investimento feito até agora concentrou-se na compra do material preciso para os projetos-piloto: uma cerca móvel, eletrificador, abrigo e bebedouros. Segundo avança o responsável, ainda não foi definido um plano financeiro a cinco anos, contudo, esse é o seu objetivo até ao final do ano. Sem a estrutura dos custos, não é possível detalhar “o que será preciso a nível de investimento daqui para a frente”. Mas aquilo que João Xavier sabe é que ser-se empreendedor a solo não é tarefa fácil e que “requer muito tempo”. Por este motivo, “o mais importante neste momento seria encontrar alguém que acreditasse na ideia e que quisesse entrar no projeto, idealmente como cofundador”, para poder equilibrar as funções, diz o ideólogo, que até já colocou na internet um anúncio.
Para além de ter mais um ano de incubação na Casa do Impacto, a Animob encontra-se pré-selecionada para o programa Plus, “que vai libertando financiamento à medida que o projeto avança”, ficando cada vez mais perto do objetivo de criar um novo ecossistema de partilha de terreno e gado.