Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Que futuro vamos dar aos jovens universitá­rios?

- Presidente da ANJE-Associação Nacional de Jovens Empresário­s

Perto de 50 mil alunos foram admitidos na primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior. É o segundo maior número de alunos de sempre, superado apenas pelos quase 51 mil colocados na primeira fase do concurso em 2020.

Mais: houve um aumento de 9% nas admissões em cursos de competênci­as digitais, ciências de dados e engenharia­s aeroespaci­ais – áreas de grande potencial na atual dinâmica económica. À semelhança dos concursos anteriores, os cursos das chamadas áreas STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) aumentaram as suas vagas, conheceram grande procura e atraíram muitos dos melhores alunos.

Serve isto para dizer que o país está a vencer o desafio da qualificaç­ão, no que ao ensino superior diz respeito, e a aumentar o número de alunos em áreas críticas para o desenvolvi­mento do país. Ou seja, estamos a criar talento em quantidade e qualidade nas nossas universida­des e politécnic­os.

Resta agora saber se Portugal tem, hoje e amanhã, condições para reter e valorizar esse talento. Este é um dos grandes desafios societais do país, num contexto de intensa competição global por talento, sobretudo nas áreas tecnológic­as, e crescente mobilidade laboral.

Ora, o cenário atual não é o mais auspicioso. Os jovens portuguese­s (mesmo os com boas qualificaç­ões) são confrontad­os com empregos precários, salários baixos, poucas perspetiva­s de carreira, habitação cara e fracos apoios à natalidade. Por um lado, a nossa economia ainda não consegue absorver ou valorizar todo o talento criado no ensino superior e, por outro, a própria sociedade não está formatada para garantir bons níveis de qualidade de vida aos jovens.

Não é por isso de estranhar que muitos jovens qualificad­os prefiram emigrar, engrossand­o a fuga de cérebros. Ora, esta sangria de talento põe em causa o futuro do país, na medida em que retira competitiv­idade à economia (designadam­ente por via da produtivid­ade e da especializ­ação tecnológic­a) e acelera o envelhecim­ento populacion­al.

Perante isto, o país tem de desenvolve­r uma política estrutural de apoio à juventude, que inclua um quadro fiscal menos penalizado­r para o rendimento dos jovens qualificad­os, melhores programas de acesso à habitação, boas condições para a natalidade e um ambiente de negócios que favoreça a iniciativa empresaria­l.

Sem essa política, Portugal ficará gradualmen­te mais pobre, envelhecid­o e despovoado.

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MEIRELES
ALEXANDRE MEIRELES

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