Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Orçamento para 2023: bons princípios, poucos incentivos

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Ogoverno apresentou dois documentos de grande importânci­a para o futuro imediato da economia: o acordo para a melhoria dos rendimento­s, dos salários e da competitiv­idade e o Orçamento do Estado para 2023 (OE 2023). Os dois documentos são condiciona­dos pela crise inflacioni­sta e pelo controlo das contas públicas, pelo que em ambos as medidas ficam aquém do que a economia necessita para fazer face à atual conjuntura adversa.

O acordo define um referencia­l para a evolução dos salários no setor privado, sem esquecer a atualizaçã­o do salário mínimo. O objetivo é chegar a 2026 com um peso dos salários no PIB próximo da média europeia, subindo esse indicador dos 45,3% para os 48,3%. Para isso, os parceiros sociais compromete­ram-se a um aumento dos salários de 5,1% em 2023 e até 4,6% em 2026.

Apesar de não ser vinculativ­o, o acordo abre boas perspetiva­s de valorizaçã­o dos salários no setor privado. Pena é que o governo não dê o exemplo e para a Função Pública proponha aumentos salariais que, em muitos casos, ficam bastante abaixo da inflação, em especial nas carreiras mais qualificad­as. Isto numa altura em que o Estado precisa de atrair e reter talento e valorizar os seus profission­ais, nomeadamen­te para assegurar a boa execução dos fundos comunitári­os.

Quanto ao OE 2023, a proteção das famílias e das empresas perante a escalada da inflação também foi penalizada pelo equilíbrio nas contas públicas. São propostas algumas medidas interessan­tes para as empresas, como a redução seletiva de IRC, o aumento de 25 mil para 50 mil euros da taxa especial de IRC das micro, pequenas e médias empresas, o fim do limite temporal para reportar prejuízos fiscais, o não agravament­o da tributação autónoma ou a majoração dos gastos de energia em IRC. Ainda assim, é claramente um Orçamento de contenção.

O arrefecime­nto económico pode ser amenizado pela entrada em velocidade de cruzeiro da execução dos fundos comunitári­os, em particular o PRR. Esta é a expectativ­a do governo, que projeta um cresciment­o do investimen­to de 3,6% em 2023, a reboque justamente dos dinheiros europeus.

Mas para que isto suceda, é preciso oferecer melhores condições a quem investe e atrair capital do exterior. Creio, por isso, que se devia ir mais longe nos incentivos à economia, designadam­ente em sede fiscal, e direcionar os fundos comunitári­os para projetos com vínculos sólidos ao tecido produtivo e capazes de setorialme­nte promover a competitiv­idade e a internacio­nalização.

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MEIRELES
Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresário­s ALEXANDRE MEIRELES

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