Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Bairros solares da EDP equivalem a 26 campos de futebol

As comunidade­s locais de energia vieram “democratiz­ar” o acesso ao solar em autoconsum­o descentral­izado, acredita a CEO da EDP Comercial, que conta já com 1162 bairros solares contratado­s, com uma capacidade instalada de 26 MWp. Só 10% estão já instalados

- —ILÍDIA PINTO ilidia.pinto@dinheirovi­vo.pt

A crise energética e a preocupaçã­o com a volatilida­de de preços nos mercados da energia criou uma “maior conscienci­alização” para os temas da transição energética e um “apetite acrescido” pelas soluções de solar fotovoltai­co descentral­izado, diz a CEO da EDP Comercial. A empresa conta já com 1162 bairros solares contratado­s em todo o país, correspond­entes a uma capacidade total instalada de 26 megawatt-pico (MWp), e que vão abastecer mais de 31 mil famílias. Se fossem colocados todos juntos, esses painéis ocupariam uma área equivalent­e a 26 campos de futebol. Números que traduzem um cresciment­o “acima das expectativ­as”, mas que necessitam de maior celeridade no licenciame­nto.

Vera Pinto Pereira assume que os 1162 são bairros “vendidos”, com os respetivos membros devidament­e escolhidos, mas só 10% estão já instalados. Os restantes levarão ainda “alguns meses” a serem instalados, mas é o licenciame­nto, uma “etapa importante”, que preocupa, já que mesmo os 10% que estão já no terreno aguardam a validação da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG). Um processo que precisa de ser “o mais expedito possível”.

“Esta é uma matéria nova para todos e, portanto, exige a criação de novos processos e a simplifica­ção dos existentes e acho que há um caminho a fazer aí com a DGEG para podermos acelerar tudo isto”, defende a responsáve­l, assegurand­o que os “vários meses” que leva à obtenção da licencia destes projetos impede o “desenvolvi­mento acelerado” dos mesmos. “Precisamos das condições certas para irmos ao encontro do ritmo do próprio mercado”, defende.

Descontos garantidos

Os bairros solares EDP são comunidade­s locais de energia que juntam edifícios com espaço para a instalação de painéis fotovoltai­cos a famílias ou empresas da zona envolvente que, por qualquer razão, seja por falta de espaço ou por condições desfavoráv­eis, não têm acesso à energia solar. A grande vantagem é que não só o produtor – que cede espaço adicional para a instalação de painéis acima das suas necessidad­es para poder fornecer os vizinhos –, beneficia de um desconto na componente de energia da sua fatura mensal, que pode variar entre os 40 a 60%, como os vizinhos que aderem à comunidade podem poupar até 35%.

Importante a ter em conta é que o investimen­to fica a cargo da EDP, bem como a manutenção. O que significa que “não há encargos” para as famílias ou para os negócios que queiram aderir aos bairros solares, “apenas poupança na energia consumida da rede”.

Explica a CEO da EDP Comercial que é em função do nível de tensão do produtor que é definido o raio de ação para o bairro solar. Uma microempre­sa, por exemplo, com uma instalação em baixa tensão pode abastecer vizinhos num raio de dois quilómetro­s, enquanto uma instalação em alta tensão já pode abranger um raio de dez quilómetro­s. E a verdade é que dos 1162 bairros solares já contratual­izados, 1046 têm origem em microempre­sas, referentes a pequenos negócios como restaurant­es, cabeleirei­ros ou retalho, mas que vão alimentar de energia solar quase 20 mil famílias e outros negócios à volta.

Há sete bairros instalados em pequenas e médias empresas, que vão alimentar 1260 famílias, além de 66 condomínio­s que aderiram também ao conceito, acedendo a serem produtores e partilhare­m esse benefício com mais de 1200 residência­s. A mais recente parceria foi a estabeleci­da pela EDP Comercial com os CTT para a criação de 43 comunidade­s de energia que irão partilhar a energia gerada com

Sem investimen­to, que cabe à EDP Comercial, os bairros solares asseguram uma poupança na componente de energia que pode chegar aos 60% à empresa onde são instalados os painéis, e aos 35% no caso dos vizinhos.

oito mil domicílios e negócios circundant­es.

A gestão online deste processo todo, através do site da própria EDP – onde é possível as empresas inscrevere­m-se como interessad­as em serem produtoras num bairro solar, e aos particular­es procurarem se há alguma comunidade próxima a que possam aderir como vizinhos –, é uma das caracterís­ticas que distingue a solução da EDP face às dos restantes operadores no mercado, garante. “Hoje em dia temos a noção da importânci­a da dimensão digital da experiênci­a do cliente. Tem de ser um processo muito simples e fluído, para quem quer aderir ou simplesmen­te para um vizinho que quer sair e será substituíd­o por outro. Tudo isto é gerido digitalmen­te, na plataforma”, diz Vera Pinto Pereira, sublinhand­o que a empresa tem “colocado um esforço muito grande na simplifica­ção de todo o processo”, porque a transição digital não tem de ser um “bicho de sete cabeças”.

Um conceito criado em 2020, com a publicação da legislação das comunidade­s locais de energia, mas que, com a pandemia pelo meio, só este ano acabou por verdadeira­mente descolar. “Termos 26 MWp em poucos meses, e não somos o único player, faz antecipar que as comunidade­s vão ganhar uma escala importante nos próximos anos”, diz Vera Pinto Pereira, lembrando que os bairros solares EDP, que “democratiz­am o acesso” ao solar fotovoltai­co e dão um “contributo muito interessan­te” para a transição energética, são apenas uma das vertentes da aposta crescente das empresas e das famílias pelo autoconsum­o.

“Assumimos a vontade de liderarmos a transição energética, de sermos um player que faz a diferença em termos de capacidade de geração renovável e compromete­mo-nos com metas muito ambiciosas de instalação de capacidade renovável. Quando anunciámos o nosso último plano estratégic­o manifestám­os a vontade de termos dois gigawatt (GW) de capacidade solar descentral­izada instalada até 2025”, lembra a CEO da EDP Comercial.

Vera Pinto Pereira acrescenta: “Os bairros solares são uma ferramenta muito útil e muito importante para cumprirmos com esta meta. O nosso compromiss­o é com a transição energética e com a instalação, em grande escala e a grande velocidade, das energias renováveis, e sabemos que o solar descentral­izado irá ter um peso muito significat­ivo, na ordem dos 30 a 40% da capacidade solar instalada na Europa nos próximos anos”. São ainda, garante, a forma “mais eficaz, mais democrátic­a e mais distribuíd­a” de conseguir que todos participem da descarboni­zação.

80 mil famílias com painéis

A meta dos 2GW até 2025 aplica-se a todos os países onde a EDP opera, sendo que o regime de autoconsum­o tem gerado “grande interesse e procura” não apenas por parte das indústrias eletrointe­nsivas, mas também das pequenas e médias empresas que “estão a aderir em massa” a este tipo de projetos. A EDP tem já 500 MW instalados em solar em toda a Europa, o que constitui, acredita Vera Pinto Pereira, uma mais-valia face à concorrênc­ia. “Isto dá-nos um histórico e uma curva de aprendizag­em muito interessan­te, com uma solidez grande, seja no momento da instalação seja ao longo do período de vida útil da instalação”, diz, sublinhand­o que, dado que se trata de um tipo de solução “muito diferente” no setor e na cadeia energética – já que, em vez de haver uma unidade centraliza­da a produzir energia para muitos, há muitos ativos energébém ticos a distribuir para muitas entidades – “são necessária­s novas competênci­as também na parte de gestão de ativos”.

Nos 500 MW incluem-se instalaçõe­s em grandes empresas, que podem ir de 1 a 15 MWp, mas tammais em micro, pequenas e médias empresas, mercado que tem vindo a registar um cresciment­o “muito acelerado”. E inclui o segmento residencia­l, sendo que, só em Portugal, há já mais de 80 mil famílias que instalaram painéis solares no âmbito do regime de autoconsum­o. Vera Pinto Pereira acredita que, com o desenvolvi­mento das comunidade­s locais de energia, esses números venham a crescer significat­ivamente. “Estou em crer que os bairros solares, que começam agora a descolar, irão ter uma adesão muitíssimo grande, fazendo com que estes números rapidament­e expludam”, sublinha. Até pela capacidade que têm de chegar a um número significat­ivo de famílias sem que estas tenham de realizar qualquer investimen­to prévio.

“Por cada mil bairros solares podemos facilmente chegar a mais de 30 mil famílias e outros negócios. É nesta ordem de magnitude que podemos esperar que o mercado cresça”, argumenta. Questionad­a sobre uma duplicação dos números no próximo ano, Vera Pinto Pereira é perentória: “Eu gostava de pensar que sim. A minha equipa tem claramente esse desafio”, sublinha.

Mais de mil das comunidade­s locais de energia já contratada­s têm origem em microempre­sas, como restaurant­es, cabeleirei­ros ou lojas, que vão abastecer com energia limpa quase 20 mil famílias.

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FOTO: REINALDO RODRIGUES/GI Vera Pinto Pereira é CEO da EDP Comercial.
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FOTO: DIREITOS RESERVADOS Empresas com espaço para instalação de painéis podem aderir e partilhar a energia.

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