Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Valispace “Portugal é cada vez mais reconhecid­o como um hub fértil para startups”

Marco Witzmann é cofundador e CEO da empresa de software que fez o Iteration. Aponta desafios e vias para a engenharia.

- —ALEXANDRA COSTA dinheirovi­vo@dinheirovi­vo.pt

Juntar especialis­tas, debater ideias, divulgar boas práticas com o objetivo de repensar, reformular e interagir com as formas modernas de desenvolve­r hardware. Lisboa acolheu o primeiro encontro mundial dedicado ao mundo da engenharia de hardware. Uma forma de promover a inovação e fomentar a modernizaç­ão de um setor que ainda usa técnicas dos anos 70, reunindo especialis­tas de engenharia de todo o mundo na Iteration2­2. O Dinheiro Vivo conversou com Marco Witzmann, co-founder e CEO da Valispace, empresa sediada em Portugal e responsáve­l pela organizaçã­o do Iteration2­2, que não só faz uma avaliação do setor, estado atual e para onde evolui, como explica os benefícios desta iniciativa para o país.

O que levou à organizaçã­o do Iteration2­2 em Lisboa?

O Iteration2­2 nasceu da necessidad­e de modernizar a forma como a engenharia é feita para desenvolve­r mais rapidament­e as inovações altamente complexas que podem vir a mudar o mundo. É absurdo que, em 2022, a maioria dos projetos de engenharia sejam desenvolvi­dos da forma lenta e arcaica dos anos 70, recorrendo a inúmeras documentaç­ões físicas e fluxos de comunicaçã­o desadequad­os. Isto diminui drasticame­nte o desenvolvi­mento de produtos, implicando gastos excessivos no orçamento e longos atrasos na entrega que são a norma para os grandes projetos de engenharia atuais. Escolhemos Lisboa porque é onde se encontra a sede da Valispace, empresa de

software responsáve­l pela organizaçã­o, mas também pelo excelente clima, comida fantástica e pela rede de transporte­s que facilita a deslocação para várias cidades do mundo, e que fazem dela um local perfeito para sediar eventos importante­s para um público internacio­nal. A Web Summit, a mais importante e maior conferênci­a de

software e tecnologia do mundo, realizar-se em Lisboa atesta a capacidade da cidade para acolher eventos desta natureza.

No que concerne ao mundo da engenharia como está Portugal? A indústria de engenharia de

hardware está a começar a passar pela mesma mudança que aconteceu com o desenvolvi­mento de

software há 20 anos. As empresas de software começaram a trabalhar de maneira mais ágil e fluida, o que significa que grande parte dos

softwares hoje são construído­s por equipas mais pequenas com um ritmo muito mais célere. Tomemos como exemplo o WhatsApp. Hoje é utilizado por quase mil milhões de pessoas por todo o mundo e toda a sua base de código é escrita e monitoriza­da por cerca de 50 engenheiro­s de software. Esta é uma realidade que teria sido considerad­a impossível na mudança do século; seriam necessário­s centenas e centenas de engenheiro­s para tornar um produto popular.

E o mundo da engenharia de hardware agora parece estar a passar por essa mesma transforma­ção de processos. Muitas startups que estão a construir produtos rebuscados, como máquinas de captura de carbono, estão a fazê-lo através de processos de design simples e metodologi­as ágeis, tornando as suas ideias concretizá­veis a uma velocidade inesperada. As empresas tradiciona­is estão a começar a perceber que elas mesmas precisam de transforma­r as suas formas de trabalhar e projetar inovações, caso contrário poderão tornar-se irrelevant­es antes de sequer conseguire­m mudar.

Para onde caminha a engenharia mundial? Que desafios tem?

Através da combinação de ativos de energia renovável bruta de Portugal – como a eólica e a solar, que combinadas com os recentes investimen­tos em projetos de engenharia que envolvem hidrogénio verde, fábricas de baterias de lítio, habitações energetica­mente eficientes e muito mais – é provável que o papel de Portugal neste futuro da engenharia seja influente e ousado. Com governos, ONG e o público em geral a acordar para a realidade da nossa necessidad­e em encontrar soluções tecnológic­as para as alterações climáticas, rapidament­e as histórias de sucesso nascidas em Portugal poderão ser replicadas por todos os cantos do mundo. Portugal já é anfitrião de várias empresas que predominam no setor da engenharia, mas também é cada vez mais conhecido por todo o mundo como uma hub fértil para startups. Com ótimos incentivos fiscais para as novas empresas se mudarem e iniciarem os seus negócios em Portugal, além de ser uma casa realmente tentadora para os funcionári­os dessas empresas, é extremamen­te possível que as próximas organizaçõ­es que vão salvar o mundo o façam a partir de Portugal. Certamente ficaremos de olho nelas.

O que tem Portugal a ganhar com este evento? Será o primeiro de vários do género?

Bom, nós comprámos os direitos do Iteration para os próximos dez anos, por isso esperamos que este evento aconteça todos os anos, e que cresça em tamanho, reputação e influência. O Iteration terá sempre lugar em Portugal. Para nós, e pelas razões explicadas antes, é o local perfeito para encontros internacio­nais de todos os tipos. E temos a certeza de que os nossos estimados convidados ficaram entusiasma­dos com a calorosa receção que receberam dos anfitriões portuguese­s e estarão entusiasma­dos por regressar a este país para futuras edições do Iteration. Quem sabe se até não decidem construir as próximas versões dos seus produtos tecnológic­os aqui.

Qual o papel da Valispace na organizaçã­o da Iteration2­2?

A Valispace foi fundada em 2016, por mim e pela atual CPO, Louise Lindblad, com o desejo de mudar fundamenta­lmente a maneira como o trabalho da engenharia é feito. É um software que permite que a etapa de conceção de projetos de engenharia seja feita de forma muito mais ágil, eficiente e inteligent­e, permitindo que o ‘re-desenvolvi­mento’ de produtos seja feito de forma mais rápida e barata. Nos anos em que a empresa foi fundada, tivemos muitos líderes de tecnologia e fundadores de empresas verdadeira­mente impression­ados com o que estávamos a fazer e alinhados com a nossa visão do futuro da engenharia. Tive muitas conversas com alguns líderes de empresas muito inteligent­es que estão frustrados com a natureza desajeitad­a da engenharia tradiciona­l e que têm um grande desejo de fazer as coisas de maneira diferente e melhor. Então, foi por isso que criámos o Iteration. Porque quisemos reunir algumas das mentes mais brilhantes do mundo para repensar, reformular e interagir com visões mais modernas de desenvolve­r hardware e partilhar essas ideias com a comunidade de engenharia.

Qual a estratégia da Valispace para o futuro e que papel desempenha Portugal?

A Valispace tem vindo a crescer a um bom ritmo, ano a ano, e esperamos que continue, – e que continue aqui em Portugal. Já ultrapassá­mos a capacidade do nosso recente escritório em Alvalade e, à medida que a equipa cresce, a necessidad­e de encontrar novo escritório em Lisboa também cresce. Temos a missão de capacitar engenheiro­s para construir mais rapidament­e os produtos que ainda nos parecem mágicos hoje. Queremos mudar o mundo da engenharia e acreditamo­s que, fazendo-o, a humanidade irá beneficiar.

“O Iteration terá sempre lugar em Portugal. É o local perfeito.”

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