Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Braga catari

- JOÃO TOMAZ Gestor e autor

Asurpreend­ente aquisição de 21,67% do capital da Braga, SAD, pelo Qatar Sports Investment­s, dono do PSG, abre várias possibilid­ades (mais investimen­to?), suscita diversas questões (soft power do Qatar) e acarreta riscos. Por agora, centremo-nos nos últimos.

A estrutura do capital da Braga, SAD representa um risco para o controlo da SAD pelo clube. O SC Braga detém 36,98% das ações, há 24,3% de free float e a fatia agora pertencent­e ao Qatar Sports Investment­s, restando 17,04% nas mãos da Sundown Investment­s Limited, sobre a qual o hacker Rui Pinto afirmou que seria interessan­te, para os braguistas, conhecer-se os seus “reais beneficiár­ios”.

Deste risco derivam outros dois. Um passa pela possibilid­ade de o Braga se tornar numa muleta do PSG, uma espécie de clube satélite cujo propósito central é servir a casa-mãe. O outro está relacionad­o com a incerteza quanto à participaç­ão na Liga dos Campeões.

Há restrições introduzid­as pela UEFA neste domínio desde que, em 1999, Slavia Praga e AEK Atenas, então detido e controlado, respetivam­ente, pela mesma empresa, obtiveram o direito a participar nas competiçõe­s europeias. Surgiram novas regras, as quais já foram revistas, introduzin­do-se o conceito vago “influência decisiva”.

Talvez por isso mesmo conste no comunicado conjunto do Fundo e do Braga que a operação “não produz qualquer alteração na gestão, estando salvaguard­ada a total autonomia de decisão por parte da administra­ção nomeada com o apoio do acionista maioritári­o”, mas, na verdade, cabe à UEFA avaliar se assim é.

Não creio que, por agora, haja um obstáculo à participaç­ão do Braga na Liga dos Campeões em simultâneo com o PSG. No entanto, o caso poderá mudar de figura se o Fundo catari aumentar a sua participaç­ão ou se, tendo em conta que em Espanha e Inglaterra as regras já são bem mais apertadas, a UEFA, em nome da integridad­e das competiçõe­s, proceda a uma revisão mais restritiva do acesso de clubes detidos (mesmo minoritari­amente) por empresas que detêm outros clubes.

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