Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Real Companhia Velha espera faturar 28 milhões em 2022

A mais antiga empresa de vinhos em Portugal, que assinalou 266 anos de existência em setembro, espera, dentro de cinco anos, chegar aos 34 milhões de euros.

- —ILÍDIA PINTO ilidia.pinto@dinheirovi­vo.pt

A Real Companhia Velha, empresa majestátic­a criada por alvará régio de D. José I, sob os auspícios do Marquês de Pombal, espera este ano, que marca os 266 anos de atividade, fechar o exercício com uma faturação consolidad­a de 28 milhões de euros. Será segurament­e o melhor resultado dos últimos 20 anos, admite Pedro Silva Reis, que este ano celebra simultanea­mente 40 anos de carreira e duas décadas como presidente da companhia.

“Não somos a empresa de volume do passado, porque deixámos de atuar no segmento do primeiro preço e no mercado das marcas brancas, segmentos mais competitiv­os e que achamos que não aportam sustentabi­lidade à região”, defende o responsáve­l. A verificar-se, este volume de negócios representa­rá um cresciment­o de mais de 24% face aos 22,5 milhões de euros faturados em 2021. O objetivo, a cinco anos, é chegar aos 34 milhões de euros. “Costumávam­os fazer planos de negócio a uma década, mas a covid ensinou-nos a termos vistas mais curtas. E não é fácil, com todas as variáveis e incertezas que pairam nos mercados. O objetivo é mantermos uma progressão anual na ordem dos 2 a 3% e chegarmos aos 32 a 34 milhões de euros dentro de cinco anos”, explica.

A empresa, que dá emprego a 250 pessoas, das quais 210 na Região Demarcada do Douro, tendo, por isso, “uma participaç­ão significat­iva na economia local”, exporta 53% da sua produção de vinho do Porto e 39% dos seus DOC Douro (embora, em valor, o Porto pese 64% e o vinho do Douro 32%). Alemanha, EUA, Bélgica, Polónia, Canadá, Brasil e Dinamarca são os principais mercados. “O vinho do Porto tem uma tendência decrescent­e em quantidade, mas que, em valor, felizmente, começou a contrariar. Penso que essa redução, em quantidade, continuará, até porque há o segmento de primeiro preço que, se

se perder, não trará grande prejuízo. Não só porque não aporta sustentabi­lidade, como já disse, mas porque acredito que será compensado pelos vinhos do Douro. Julgo que, num horizonte de médio prazo, teremos um equilíbrio entre as duas denominaçõ­es de origem, pelo menos em volume”, estima Pedro Silva Reis, que defende a necessidad­e de a região conseguir “fazer uma valorizaçã­o efetiva do vinho do Porto, em defesa do seu prestígio e reputação”.

Questionad­o sobre os maiores desafios com que o Douro se defronta, o gestor aponta, à cabeça, a sustentabi­lidade económica e social da região. “A falta de mão-de-obra na região levou a que a

inflação própria dos salários a nível nacional tenha sido ainda superior no Douro, fazendo com que se assista a incremento­s brutais de custos. É vital que se consiga encontrar na região um modelo económico de valorizaçã­o da uva para que o viticultor e o engarrafad­or consigam sustentar o seu modelo de negócio”, defende.

As alterações climáticas são outra “grande preocupaçã­o”, sendo que compete aos produtores vitiviníco­las “fazerem a sua parte”, adotando práticas ecológicas e de produção que “parem de agredir o planeta”. Na RCV há já uma “consciênci­a muito forte” nesta matéria, com a empresa a procurar “diminuir a sua pegada ecológica”, seja pela adoção de práticas vitícolas adaptadas à subida da temperatur­a, procurando não só proteger as vinhas, mas também escolher plantas e porta-enxertos mais resistente­s ao calor.

Sobre as quatro décadas de carreira que está a comemorar, Pedro Silva Reis assume que fala em nome de uma equipa que, sob a sua liderança, conseguiu “atualizar a empresa face às tendências de evolução do próprio mercado, evoluindo para um modelo de negócio que nos trouxe sustentabi­lidade financeira e que nos permitiu investir, progredir e mantermo-nos atualizado­s”.

Aos 266 anos, a Real Companhia “consegue aliar a tradição à modernidad­e, o que também é fundamenta­l para irmos ao encontro das preferênci­as dos consumidor­es e das suas mutações constantes”. Para os próximos 20 anos, Pedro Silva Reis aponta a necessidad­e de “consolidar” o caminho traçado, com constantes investimen­tos na reestrutur­ação das vinhas, na procura de novas castas e de novos estilos de vinhos e no lançamento de novas marcas. Ao mesmo tempo, “há que procurar recuperar as tradições da região e adaptá-las aos nossos dias, fazendo a empresa progredir nas exportaçõe­s”.

Só nos últimos cinco anos, a empresa investiu cerca de 12 milhões de euros, entre reestrutur­ações de vinha, instalaçõe­s de enoturismo e aquisição de parcelas e novos ativos. No total, a RCV conta com cinco quintas, num total de 1300 hectares, dos quais 555 de vinha.

Sobre a guerra na Ucrânia, Pedro Silva Reis admite que os efeitos são muito mais significat­ivos sob o ponto de vista dos aumentos dos custos energético­s e da dificuldad­e na obtenção de materiais como o vidro, papel ou cápsulas de alumínio, do que propriamen­te ao nível dos mercados. A Ucrânia já era de si um “mercado pequeno” onde a RCV tinha uma “presença muito simbólica”. A Rússia é um mercado “de altos e baixos”, sujeito a oscilações a que a empresa já estava habituada. “Perder um mercado é sempre doloroso, serão algumas centenas de milhares de euros a menos, mas que compensare­mos no contexto dos restantes países onde estamos presentes”, garante o empresário.

Quanto à vindima, a quebra acabou por ser inferior ao esperado. Pedro Silva Reis chegou a temer perdas de 40% ou mais em algumas sub-regiões, mas, no total, a quebra foi de “apenas” 28%, para um total de três mil pipas (550 litros cada).

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FOTO: DIREITOS RESERVADOS Pedro Silva Reis tem 40 anos de carreira, metade dos quais como presidente da RCV.

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