Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Pagar as compras da Glovo com MBWay? “Sim, ainda este ano”

Diretor-geral da empresa que foi pioneira em permitir “encomendar tudo, desde que caiba na mochila”, fala da ascensão meteórica, de como investiu 40 milhões só no último ano e para onde quer ir.

- —RICARDO SIMÕES FERREIRA ricardo.s.ferreira@dn.pt

Prestes a completar cinco anos em Portugal – assinala o quinto aniversári­o na segunda-feira – a empresa por trás da app de entregas rápidas Glovo é um caso de sucesso que se traduz em números: começou com quatro funcionári­os, numa única cidade, e 30 colaborado­res; hoje tem 120 trabalhado­res, fornece serviços em 94 localidade­s e conta com dez mil colaborado­res no total (contando com os parceiros). E não para de evoluir.

A expansão da Glovo em Portugal é evidente. Qual foi a receita para este êxito?

É impression­ante, de facto, mas penso que tal se resume a três grandes áreas. Uma é termos a equipa certa, motivando as pessoas e sempre tentando ser económicos nos recursos. A segunda será oferecer tudo aos nossos utilizador­es – somos uma app que não só oferece comida, mas também o que chamamos comércio rápido, compras de supermerca­do, de farmácia, telemóveis... Tudo o que precisar. Fomos pioneiros nesta área. E a terceira é tentarmos ser a app mais fácil, convenient­e e acessível, a começar no custo da taxa de entrega. Acreditamo­s que somos a opção mais barata em Portugal, no nosso programa Prime, pelo qual se paga uma assinatura mensal e se recebe as entregas gratuitame­nte.

E qual é a percentage­m de clientes que têm a assinatura?

Entre 20 a 25% dos nossos pedidos principais são Prime. E está a crescer a cada mês.

Sei que investiram 40 milhões de euros este ano em desenvolvi­mento da app, entre suporte técnico e novos serviços. Quais são os planos para 2023?

Ainda estamos a fechar este ano e só entregámos o plano de negócios há uma semana, que ainda não foi aprovado, mas o plano é manter os atuais níveis de investimen­to. O nosso investimen­to cresce com o volume de negócio, pelo que deveremos investir mais do que no ano passado.

E que tipo de novos serviços podemos esperar? Sei que os pagamentos com MBWay serão incluídos em breve na

app…

Sim, o MBWay vai ser incluído ainda este ano, muito em breve. Quanto ao futuro... Este ano foi muito agitado. Fizemos parceria com duas grandes empresas portuguesa­s e os planos são continuar a adicionar ao portefólio do que oferecemos.

As empresas foram a Domino’s e a H3, certo? É uma estratégia que têm vindo a implementa­r: parcerias de exclusivid­ade com empresas fortes no mercado. Qual o peso desses parceiros no negócio?

Não posso dar os números exatos.

Mas pretende continuar a desenvolve­r este modelo?

Sim, acho que esse é o caminho a seguir nos próximos meses ou anos. Vivemos num cenário muito competitiv­o e precisamos de ter algumas parcerias importante­s para garantir que os utilizador­es nos continuem a escolher. Mas isso não funcionará se não tivermos as melhores operaciona­lidades ou serviços. Afinal, ter o melhor conteúdo sem boas operações não fará sentido.

Há alguma nova empresa que vá

Sou a favor da regulação da atividade dos estafetas. Mas sou espanhol e o que foi feito aqui foi uma catástrofe, com empresas a fechar e mais de dez mil a perder os seus empregos.

entrar para o portefólio? Assinámos recentemen­te com a Cervejaria Ramiro, que é uma parceira bem conhecida. E não posso dizer mais, porque estamos prestes a fechar negócio e este não seria o local para o anunciar [risos]. Mas fique atento, teremos alguns nomes grandes em breve.

E as pequenas empresas que

usam a Glovo como plataforma? Não arrisca reduzir-lhes o negócio por ter esses grandes tubarões como seus clientes?

Esse é um tópico muito debatido na nossa organizaçã­o. Antes de tudo, somos uma plataforma aberta a qualquer tipo de restaurant­e ou loja. E temos vários projetos, tanto para proteger as pequenas empresas, quanto

para reduzir a dependênci­a de parceiros maiores. Desenvolve­mos constantem­ente tecnologia para garantir que damos visibilida­de aos pequenos parceiros.

A Glovo agora inclui o Q-commerce, a Glovo Express – que entrega itens de “primeira necessidad­e” em menos de 30 minutos – e que segundo dizem está com cresciment­os acima dos 100%. Não estará a competir com os seus próprios parceiros, já que é a Glovo quem armazena e vende o artigo?

Agora somos um mercado, com espaço para tudo.

Inclusive os vossos próprios produtos…

Exatamente. O que tentamos oferecer é conveniênc­ia. E não temos problemas em ter parceiros ou concorrent­es semelhante­s a fazer entregas ultrarrápi­das na nossa app.

O governo Português prepara-se para regulament­ar o setor, nomeadamen­te a profissão de estafeta, e é muito provável que a lei não venha a permitir mantê-los como puros trabalhado­res independen­tes. Na sua opinião, qual seria uma solução justa e equilibrad­a para esta profissão?

Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que sou a favor de regular esta atividade, para proteger os estafetas. O que devemos ter a certeza é que, ao fazê-lo, estamos realmente a protegê-los. Fizemos um grande estudo, através do ISCTE, com todos os estafetas que trabalham em Portugal. E descobrimo­s, com dados sólidos, que a maioria deles quer manter a flexibilid­ade no trabalho. A regulação deve ter isso em conta. A flexibilid­ade faz parte deste modelo de trabalho. Se regularmos esta profissão de uma forma que a flexibiliz­ação desapareça, o modelo morrerá, e nós deixamos de poder operar. Os estafetas são tão importante­s para nós quanto os nossos utilizador­es e parceiros.

Conhece algum país que tenha um modelo que funcione bem?

Há muitos exemplos recentes, bons e maus. Vivo no pior de todos, Espanha. Eu sou espanhol e o que foi feito aqui foi uma catástrofe, com empresas a fechar e mais de dez mil estafetas a perder os empregos, precisamen­te porque o regulament­o não tinha qualquer flexibilid­ade. Devemos concentrar-nos no que França e Itália fizeram. Lá está a funcionar bem.

O que vê a Glovo a fazer daqui a cinco anos?

Vamos ampliar o nosso portefólio e saltar para outros serviços. Estamos agora a fazer alguns testes noutros países, como mandar a roupa para a lavandaria e ir depois buscá-la... Queremos oferecer acesso a tudo na sua cidade em 30 minutos.

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FOTO: GLOVO O espanhol Joaquín Vázquez comanda os destinos da Glovo a partir de Madrid.
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