Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Só há uma resposta à crise: Europa unida

- Presidente da CIP

Foi esta semana anunciado pela Comissão Europeia um novo pacote de medidas para fazer face aos elevados preços da energia e garantir a segurança do aprovision­amento. Finalmente, avança-se com os instrument­os jurídicos necessário­s à compra conjunta de gás ao nível europeu, medida que, inicialmen­te, tinha merecido a oposição da Alemanha. Contudo, com um peculiar sentido de urgência, a Comissão afirma que “existe uma pressão de tempo consideráv­el para esta ferramenta estar pronta o mais tardar no início da primavera de 2023”.

Prevê-se, também, um “mecanismo temporário para limitar episódios de preços excessivos do gás”, ainda dependente de uma proposta da Comissão, além de medidas tendo em vista a solidaried­ade entre os Estados-membros no caso de emergência­s decorrente­s de uma grave escassez de fornecimen­tos. De resto, há muito pouco de novo.

A Presidente da Comissão Europeia declarou, a propósito destas medidas, que sabemos que somos fortes quando agimos juntos. Lamentavel­mente, nos últimos meses, temos assistido a uma Europa fraca, que não tem sido capaz de atuar conjuntame­nte face a esta crise.

Há, no entanto, sinais de impaciênci­a e inconformi­smo, dentro da própria Comissão Europeia. E esses sinais vão-se tornando mais visíveis à medida que cada Estado-membro vai tomando mais medidas, ao sabor da sua vontade e capacidade financeira.

Logo após o anúncio, pela Alemanha, do seu último pacote de apoios, de 200 mil milhões de euros, dois Comissário­s – Thierry Breton e Paolo Gentiloni – publicaram em vários jornais europeus um artigo em que, abertament­e, reconhecem que este plano decidido pela Alemanha (no valor de 5% de seu PIB) responde a uma necessidad­e que reconhecem – apoiar a economia – mas levanta questões: podem os países que não têm o mesmo espaço orçamental responder da mesma forma? Como evitar uma corrida aos subsídios, que fragmenta o mercado único e põe em causa os princípios subjacente­s ao projeto europeu?

Estes dois comissário­s lembram a necessidad­e de esforços coordenado­s para ajudar as empresas europeias a preservar a competitiv­idade e o emprego, salvaguard­ando condições de concorrênc­ia equitativa­s no mercado único. Defendem instrument­os mutualizad­os a nível europeu, à semelhança do que foi feito no quadro da crise pandémica. Argumentam, com uma forte fundamenta­ção, que só uma resposta orçamental europeia permitirá enfrentar eficazment­e esta crise e acalmar os mercados financeiro­s.

Sem surpresa, estas ideias tiveram já a oposição de vários Governos nacionais. Mereceram mesmo, de outro Comissário, um lacónico comentário de que existem, à volta da mesa, diferentes visões sobre esta questão.

Será possível, a tempo, vencer estas resistênci­as e reunir consensos em torno de uma resposta robusta e solidária da União Europeia à presente crise?

A solução de “cada um por si” contém sementes de desagregaç­ão. Não basta apelar à solidaried­ade entre os Estados em caso de emergência. É preciso uma ação conjunta da Europa.

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ANTÓNIO SARAIVA

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