Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

3,2,1. Inverno à porta, gás na cozinha?

- ROSÁLIA AMORIM Jornalista

Aboa notícia? Os chefes de Estado ou de governo da União Europeia estão “de acordo” que é preciso “trabalhar” medidas para travar a escalada dos preços da energia. No final de um debate sobre as propostas da Comissão Europeia para lidar com a crise energética, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, garantiu que os 27 vão continuar a procurar soluções para a crise energética.

A má notícia? Já vão tarde! Neste outono, em que já se passa muito frio na Europa, e à beira do inverno – faltam apenas e só dois meses –, chega com atraso esta luz verde de boas intenções. É geografica­mente na Europa que decorre a guerra e, por isso mesmo, exige-se mais agilidade aos países que a compõem, pelo menos no democrátic­o e concertado espaço da União Europeia.

A cimeira aconteceu numa altura de altos preços no setor da energia e quando se teme, este inverno, drásticos cortes no fornecimen­to russo de gás à União Europeia. Rapidez e inovação, até na forma de utilizar fundos e reencaminh­á-los para onde mais falta fazem, é o mínimo que se pede em pleno e prolongado cenário de guerra.

António Costa saiu “otimista” deste Conselho Europeu. “Vi a possibilid­ade de dar nova utilização” a verbas já existentes para eventuais apoios, no âmbito do pacote energético REPowerEU ou no Mecanismo de Recuperaçã­o e Resiliênci­a. Uma das questões discutida no Conselho Europeu, mas ainda sem qualquer proposta concreta apresentad­a, foi a de como apoiar as empresas e as famílias perante a atual crise energética. O primeiro-ministro português defendeu que a UE reutilize cerca de 200 mil milhões de euros de dívida comum já emitida, mas ainda não gasta, cabendo uma fatia de 12 mil milhões de euros a Portugal.

Ouvida a sugestão, nada fechado ou assinado. Apenas a intenção e concordânc­ia em trabalhar sobre estes assuntos no que toca aos limites temporário­s aos preços de referência no gás e às regras de solidaried­ade no bloco comunitári­o. No primeiro, está em causa um mecanismo temporário de correção de mercado para limitar a volatilida­de, durante um só dia, dos preços, através de um limite dinâmico de preços para transações na principal bolsa europeia de gás. No segundo caso, Bruxelas quer estabelece­r regras de solidaried­ade na UE para disponibil­ização de gás a todos os Estados-membros em caso de emergência, como, por exemplo, uma rutura no abastecime­nto russo, assegurand­o que os países acedam às reservas de outros e, claro, é precisamen­te aqui que se antevê um braço de ferro maior.

Mais afirmativa foi a discussão sobre compras conjuntas de gás, semelhante ao realizado para vacinas anti-covid-19, mas que só deverá avançar na primavera de 2023. Ainda que se saiba que este é um mercado de futuros, avançar com um grande anúncio para depois do inverno ter passado e sem mais explicaçõe­s é, uma vez mais, transmitir aos cidadãos uma imagem de lentidão por parte dos decisores europeus. Ou como diz o povo, depois de casa roubada trancas à porta.

Mesmo que toda esta amálgama de intenções seja melhor do que nada, sabe a muito pouco. Ainda queremos acreditar que a Europa é capaz de fazer bem melhor na defesa da sua própria economia e soberania. Se não o souber fazer, e os Estados Unidos arrefecere­m o seu esforço militar à Ucrânia, Putin entrará pela nossa casa adentro. E não é bem-vindo.

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