Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

“Vou pôr no mercado todos os vinhos que os meus clientes quiserem”

- —ILÍDIA PINTO ilidia.pinto@dinheirovi­vo.pt

O ano está a correr “extraordin­ariamente bem” à Van Zellers & Co, que deve crescer mais 50% em relação ao previsto. Mas 2023 preocupa e Cristiano van Zeller diz que não vai respeitar os limites de vendas que habitualme­nte se autoimpõe: “Este ano, o melhor é dinheiro no bolso e vinhos no mercado”.

Para quem celebrou, este ano, 40 anos de vindimas, seria de se esperar que o momento em si não trouxesse grandes surpresas, mas o ano de 2022, “com a maior seca de que há memória”, foi “extremamen­te penoso”, já que “com os mesmos quilos de uvas fizeram-se quase metade dos mesmos litros de 2021”, diz Cristiano van Zeller. A verdade é que o ano passado deu uma colheita generosa, pelo que o sócio-gerente da Van Zellers & Companhia estima que as perdas de 2022 rondem os 30 a 40% de um ano médio. Por esse motivo, assegura: “Este ano, o melhor é dinheiro no bolso e vinhos no mercado. Vou pôr no mercado todos os vinhos que os meus clientes quiserem”.

Em contrapart­ida, e no que à qualidade diz respeito, o empresário diz-se “muito surpreendi­do, mas muito contente” com os mostos. No caso dos vinhos do Douro, “é preciso esperar para ver como evoluem em barrica nos próximos dois anos; nos vinhos do Porto, há condições para se fazerem grandes vinhos este ano”.

Já em termos comerciais, a Van Zellers & Co vai ultrapassa­r, de longe, os objetivos, estimando que fechará o ano com 1,1 milhões de euros de faturação, mais de 50% acima dos 722 mil euros orçamentad­os. Uma performanc­e acentuada pela atribuição, em agosto, de 98 pontos (em 100 possíveis) da revista Robert Parker Wine Advocate ao CV-Curriculum Vitae tinto 2016, a pontuação mais alta atribuída por esta publicação a um vinho português não fortificad­o, e partilhada com outro vinho duriense, o Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2019.

Cristiano van Zeller fala num “impacto brutal” desta distinção e de uma feliz coincidênc­ia: habitualme­nte, os vinhos CV são lançados, no mínimo, dois anos após a colheita. O que significa que este tinto de 2016 deveria ter estado à venda em 2019, mas à data, a Van Zellers & Co estava ainda no uniexecuti­vas verso da Aveleda, “não era uma prioridade e ficou muito stock para trás”. A procura foi de tal ordem, após ser conhecida a pontuação da revista americana, que, em três dias úteis, era já 50% superior à oferta disponível, o que obrigou a um rateio pelos clientes em todo o mundo.

Além disso, ajudou a vender outros vinhos que estavam ainda na adega. “Queríamos lançar a colheita de 2019 em janeiro do próximo ano, tanto do branco como do tinto, mas vamos ter que avançar já porque o vinho que tínhamos de 2018, de 2017 e alguns ‘restos’ das vindimas de 2014 e 2015 já desaparece­ram”, explica. E acrescenta: “A procura é grande e em vez de gerir a oferta estamos a criar procura e a geri-la, criando valor ao longo do tempo e que nos permita continuar a investir, a crescer e a pagar cada vez melhor a todos os que connosco trabalham”.

O gestor esteve, ao longo da sua vida profission­al, ligado a grandes projetos no Douro, designadam­ente na Quinta do Noval, Crasto, Vallado e na Quinta Vale Dona Maria que, em 2017, foi vendida à Aveleda. Cristiano deixou as funções na Aveleda em 2020 e dedicou-se, então, ao relançamen­to da empresa familiar, a Van Zellers & Co, “fundada no século XVIII, mas com registos de negócios no ramo do vinho do Porto em 1620 e até atrás”.

Nesta “nova” vida da empresa, foi definido que só atuará nas gamas média-alta e alta, de modo a “fugir da concorrênc­ia direta da maior parte do setor”. E, por isso, se autoimpõe limites de volumes a vender anualmente, de modo “a garantir uma qualidade diferencia­dora” dos vinhos, mas também da própria marca, tornando-os raros. Por exemplo, o vinho do Porto 10 anos não tem mais de seis mil garrafas ao ano para todo o mundo.

“Produzimos vinhos que não vão ter venda nos próximos dez ou 15 anos porque estão a ser envelhecid­os. O nosso objetivo é vender um volume razoável de garrafas, de muita alta qualidade e com valor acrescenta­do”, explica, detalhando que a meta definida a longo prazo é de colocar, no máximo, 60 mil garrafas ao ano no mercado.

As exportaçõe­s variam entre os 50 e os 60%, com especial destaque para EUA, Alemanha, Itália e França, mas também Canadá, Irlanda ou Macau.

Em 2023, a empresa começa a lançar alguns dos vinhos do século XIX que tem ainda em casco. “O próximo ano é uma incógnita. A nossa previsão era de chegar aos dois milhões de euros, mas agora já não sei nada”, diz o gestor.

Em 2023, a empresa começa a lançar alguns dos vinhos do século XIX que tem ainda em casco.

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FOTO: DIREITOS RESERVADOS Cristiano van Zeller, depois da passagem por várias empresas do Douro, dedicou-se a relançar a da família.

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