Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Competênci­as ou falta delas!

- ALBERTO CASTRO Economista e professor universitá­rio

Orçamento do Estado para 2023 não é nem bom, nem mau, antes pelo contrário. Talvez não valha a discussão que, como sempre, se gera à sua volta. Este ano, por razões específica­s: com a incerteza reinante, as previsões macroeconó­micas subjacente­s tanto podem vir a estar certas, como erradas por larga margem. Em geral, a não ser que aumentásse­mos muito a dimensão do orçamento, como pedem BE e PCP, a margem de manobra do governo, de qualquer governo, não é tão grande como, por vezes, no entusiasmo da discussão se possa fazer crer. Numa estimativa grosseira, e creio que generosa, do total do orçamento talvez só cerca de 20% correspond­a a despesa não predetermi­nada (salários, consumos intermédio­s, juros, pensões, subsídios, etc.) e, desta, mais de metade teria de ser o que é... O PR diria que ainda sobra uma pipa de massa. É parcialmen­te verdade, embora o que isto significa é que o que valeria, realmente, a pena discutir é se tem de ser assim, se aquela estrutura tem de ser tão rígida.

Voltemos, porém, ao orçamento de 2023. Mais do que debater previsões, importa avaliar a capacidade que o governo terá para lidar com os imponderáv­eis com que se possa vir a defrontar, gerando respostas rápidas e adequadas (que, porventura, poderão requerer revisões orçamentai­s). Em circunstân­cias com esta natureza, diz a experiênci­a que muito depende da liderança e da agilidade institucio­nal. Tanto numa dimensão, como na outra, as perspetiva­s não são animadoras: o primeiro-ministro tem sido mais bombeiro do que líder, criando a sensação de uma liderança errática; a máquina administra­tiva, presa na teia burocrátic­a que a justifica, está longe de ser confiável quando se pede elasticida­de. Em ambos os casos, não são as pessoas, ou as suas competênci­as, o problema principal (concedo: o elenco governamen­tal podia ser bem melhor). O nosso problema não é a capacidade individual, antes a coletiva: a habilidade de gerar um desempenho coletivo maior do que a simples soma das partes, superior ao que naturalmen­te ocorreria. É um problema institucio­nal e de gestão.

“O nosso problema não é a capacidade individual, antes a coletiva: a habilidade de gerar um desempenho coletivo maior do que a simples soma das partes, superior ao que naturalmen­te ocorreria.”

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