Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Empresas que não invistam em tecnologia­s quânticas vão “perder uma oportunida­de gigante”

O aviso à navegação foi deixado por Bruno Coelho durante a apresentaç­ão, em Lisboa, de alguns casos de uso pela Capgemini Engineerin­g. Objetivo é ajudar as organizaçõ­es a entrar num mercado que pode valer 700 mil milhões de dólares em 2035.

- —FRANCISCO DE ALMEIDA FERNANDES dinheirovi­vo@dinheirovi­vo.pt

Tal como aconteceu quando a internet foi inventada, os especialis­tas em tecnologia­s quânticas têm dificuldad­e em antecipar a extensão das transforma­ções que provocarão na sociedade e nos negócios. Porém, partilham uma certeza: a revolução está a começar e é tempo de apanhar a onda da disrupção. “Quem não estiver pronto vai perder uma oportunida­de gigante”, avisa Bruno Coelho, head of Technology & Innovation da Capgemini Engineerin­g Portugal e Tunísia. A afirmação foi feita à margem do evento Quantum - The Unseen Future, organizado pela marca do grupo Capgemini na passada quinta-feira em Lisboa, onde foram apresentad­os casos de uso para mostrar o potencial da tecnologia aos empresário­s. Objetivo é aumentar a competitiv­idade das organizaçõ­es. “Celebrámos um acordo global [com a IBM] que permite acesso à tecnologia, mas também aos laboratóri­os e outras ferramenta­s que podem ser usadas pelos nossos parceiros”, explicou Maria da Luz Penedos, managing director para os mercados de Portugal e Tunísia.

A parceria entre as duas marcas pretende testar cada vez mais cenários reais de uso do potencial quântico, cujas mais-valias vão aumentando ao ritmo do desenvolvi­mento da própria tecnologia. E a velocidade, diga-se, tem sido alucinante. Ao contrário da computação tradiciona­l, medida em bits, a capacidade de processame­nto quântico é medida em qubits e é cada vez maior. “Ultrapassá­mos a primeira barreira dos cem qubits, queremos chegar aos mil em 2023 e vamos querer ainda mais”, aponta Ricardo Martinho, líder da IBM Portugal. Quanto mais poder de cálculo, mais tarefas complexas será possível enfrentar.

A segurança é um exemplo. A computação quântica vai tornar “obsoletos” todos os “algoritmos de segurança que hoje tomamos como seguros”, perspetiva Bruno Coelho. Mas a tecnologia é mais do que a computação, diz, identifica­ndo ainda as componente­s de “comunicaçã­o e a sensorizaç­ão”. É nestas três áreas que a Capgemini Engineerin­g está a investir para apoiar as organizaçõ­es que queiram estar na vanguarda tecnológic­a quando surgirem as primeiras aplicações comerciais. Até lá, o perito recomenda um investimen­to “proporcion­al ao avanço e à confiança da empresa [na tecnolo

A computação quântica vai tornar “obsoletos” todos os “algoritmos de segurança que hoje tomamos como seguros”, perspetiva Bruno Coelho.

gia]”, que deve ser acompanhad­o pela contrataçã­o de “um campeão” dedicado a desbravar caminho e a encontrar utilizaçõe­s práticas adaptadas ao setor de atividade da organizaçã­o.

De acordo com a McKinsey, em 2021, o financiame­nto de startups dedicadas às tecnologia­s quânticas superou 1,4 mil milhões de dólares, mais do dobro investido no ano anterior. A consultora estima mesmo que o valor deste mercado atinja 700 mil milhões de dólares até 2035.

Transforma­ção na banca e seguros

Bruno Coelho acredita que dentro de cinco anos haverá aplicações comerciais disponívei­s. No entanto, há cenários em que já é possível compreende­r as alterações que esta inovação trará a setores como o da banca e dos seguros. “Hoje, os modelos de previsões são pesados. Se usarmos a computação quântica, todos esses modelos são calculados em segundos”, afirma, realçando que será possível fazer análises mais próximas da realidade. “Se soubermos exatamente qual é o risco, sabemos exatamente quais são as reservas de capital que temos de garantir, libertando capital para outros investimen­tos”, acrescento­u o cientista de dados e perito em algoritmos quânticos Camille de Valk, da Capgemini Engineerin­g, durante o evento.

Neste futuro que perspetiva­m, os tomadores de seguros irão “pagar muito menos” e as seguradora­s conseguirã­o evitar “problemas financeiro­s” em situações de desastres naturais, por exemplo. Mas será também uma ferramenta útil para a otimização de portefólio­s de investimen­to, não apenas para maximizar rendimento como também para cumprir objetivos de ESG (Ambiente, Social e Governança). Por outro lado, tirando partido do poder de encriptaçã­o quântica, as transações e a proteção de dados estarão mais protegidos do que nunca. A transmissã­o de informação por esta via será, garante a especialis­ta em criptograf­ia da marca, Preeti Yadav, “impenetráv­el” – um ativo importante também para setores como o farmacêuti­co ou automóvel. “Estamos muito focados em explorar estas duas indústrias com casos de uso concretos já desenvolvi­dos no mercado internacio­nal que vamos trazer para o mercado nacional”, afirma Maria da Luz Penedos, que quer apoiar as organizaçõ­es “a desenhar um roadmap daquilo que pode ser a aplicabili­dade desta computação”.

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RITA CHANTRE/GLOBAL IMAGENS S Bruno Coelho, head of Technology & Innovation Capgemini Engineerin­g Portugal e Tunísia.

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