Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Banca e fintech juntas para avançar na frente dos ativos digitais
Digitalização, blockchain e criptomoedas foram temas centrais no debate que juntou BPI, CGD e RealFevr. Os bancos “não têm estado de costas voltadas” a estas questões e o investimento feito “tem sido claro”, assegurou Madalena Talone. Fred Antunes foi mai
O mercado das criptomoedas, liderado pela Bitcoin e Ethereum, não é uma novidade, mas foi com a chegada da pandemia que a negociação destes ativos digitais assistiu a um crescimento acentuado – em valor, em número de investidores e em cobertura mediática. Esta dinâmica contribuiu para um crescente número de empresas a apostar ainda mais no blockchain,a tecnologia que suporta os cripto ativos, e tornou impossível aos bancos tradicionais ignorar a tendência. “O blockchain trouxe a noção de propriedade digital”, apontou Francisco Barbeira, administrador do BPI, durante o debate “Digitalização, blockchain e criptomoedas”, esta quinta-feira, na Money Conference 2022.
Francisco Barbeira refere-se à maneira como a tecnologia permite, de forma descentralizada e sem intervenção humana, verificar transações e seguir ativos na rede digital. Com esta ferramenta, “passou a ser possível dizer que há um ativo digital e que tem um valor [associado]”, acrescenta. Ao longo dos últimos anos, as fintech têm desbravado caminho nesta área enquanto a banca tradicional se tem mostrado resistente na forma como lida com criptoativos e, sobretudo, com clientes que procuram fazer a negociação destes ativos. Vale a pena referir, no entanto, que casos de instituições bancárias que “barraram” a entrada de fundos relacionados com este mercado aconteceram apenas em alguns bancos e são hoje raros ou mesmo inexistentes.
Questionada sobre uma eventual resistência ao processo de digitalização e adaptação da banca, Madalena Talone considera que as instituições “não têm estado de costas voltadas” a este tema. A administradora da Caixa Geral de Depósitos (CGD) diz mesmo que “tem sido claro o investimento” nesta área, nomeadamente em tecnologias associadas à inteligência artificial, ao tratamento de dados ou à realidade aumentada.
“A tecnologia é vista como uma parte integrante do negócio, são dois temas que estão intrinsecamente ligados”, reforça.
Francisco Barbeira concorda que o desenvolvimento tecnológico deve ser uma prioridade no setor e garante que o banco está apostado
“O talento é escasso. Para ganharmos conhecimento mais profundo temos de trabalhar em grande colaboração e verdadeiramente em ecossistema”, explica Madalena Talone
em não perder o comboio da digitalização. “No BPI temos uma visão para esta evolução tecnológica: temos de ser digital by default, AI [inteligência artificial] first e Web3 ready”, sublinha o executivo. Não tem dúvidas de que a pandemia veio acelerar todos estes processos de transformação, mas também aumentar o nível de literacia digital dos consumidores e dos trabalhadores da banca. Termos cada vez mais comuns como criptomoedas ou NFT, que são, essencialmente, representações digitais de um ativo, “vão ter de começar a fazer parte do nosso léxico”, aponta Madalena Talone.
Neste novo mundo da negociação de ativos digitais e intangíveis, o CEO da RealFevr acredita que existem três grupos de pessoas com perspetivas diferentes em relação à economia digital – aqueles que não atribuem qualquer valor ao que é intangível, os que valorizam mais o intangível e as pessoas do “modelo híbrido”. Este último grupo “reconhece valor às coisas físicas e tangíveis”, mas vê “uma oportunidade” no mercado dos cripto ativos, explica Fred Antunes. O fundador da startup portuguesa que criou o primeiro marketplace de NFT de futebol em vídeo, e que nas últimas semanas levantou 10 milhões de euros em nova ronda de investimento, reconhece que “a discussão de valor é altamente subjetiva”. Porém, lembra, até a “relação que os clientes têm com a banca tem tendência a tornar-se intangível”.
Não há, por isso, como evitar olhar para um futuro que já é presente. Ainda assim, há desafios na adaptação da banca tradicional, que não só é menos ágil do que as fintech, como também enfrenta um obstáculo transversal a todas as empresas – a escassez de talento. Madalena Talone vê na parceria entre as instituições bancárias e as fintech o caminho para avançar em matéria de digitalização, superando as dificuldades impostas pelo cada vez mais competitivo mercado de trabalho. “O talento é escasso. Para ganharmos conhecimento mais profundo temos de trabalhar em grande colaboração e verdadeiramente em ecossistema”, remata.