Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Com cobranças populistas se paga o socialismo
Oabsurdo da ideia é tão grande quanta a demagogia usada para a justificar. O governo que eternizou as taxas extraordinárias (sobre banca, energéticas, farmacêuticas...) criadas para responder a momentos específicos de degradação económica – na sequência das políticas socialistas que obrigaram a chamar a troika a intervir para evitar a falência de Portugal – decidiu avançar com mais três. castigo é agora aplicado a uma energética que está a investir brutalidades para se recriar rumo à descarbonização, aos supermercados que têm alimentado os produtores e ajudado a melhorar os níveis de emprego, à indústria papeleira que ainda não fugiu para Espanha (os únicos a manter ordem na floresta neste país) para reunir fundos para limpar as áreas verdes que cabe ao Estado cuidar.
O populismo e a falta de vergonha não têm limites. A começar pela ideia subjacente de que os lucros são um pecado capital – PCP e Bloco não diriam melhor –, passando pelo óbvio desprezo por empresas que cresçam e tenham bons resultados em Portugal e terminando na vergonhosa delegação à força da função social do Estado sobre o setor privado (que já faz a sua parte voluntariamente).
Se a nova sobretaxa na energia foi imposição de fora e a das celuloses já vinha sendo adiada desde a promessa firmada com os parceiros de geringonça, é novidade – triste novidade – a gula de Costa sobre a distribuição alimentar. Apanhando a boleia da bacoca windfall tax, decretada em Bruxelas, o governo avançou sobre aqueles cujos esforços em pandemia elogiara amplamente, que têm absorvido parte da subida de preços que insuflam toda a cadeia desde a produção e que nem há um mês se comprometeram (num acordo histórico no setor) a melhorar e promover o emprego, inclusivamente com salários mínimos acima daqueles que o próprio Estado está disposto a pagar.
Como é óbvio, num setor em que as margens já estão abaixo de 1%, colher mais impostos terá como efeito um aumento nos preços que todos nós vamos pagar pelo que compramos no supermercado. Ainda assim, o governo vê uma necessidade de impor um “esforço de solidariedade adicional por parte do setor da distribuição alimentar”, pelo que “lucros excedentários” (conceito que é em si uma contradição) devem ser “canalizados para apoiar a população mais desfavorecida”, financiando instrumentos contra a fome, pagando políticas de defesa do consumidor e apoiando a transformação de outros comerciantes afetados pela inflação rumo a uma “maior resiliência”.
Resumidamente: o Estado cobra mais à distribuição; os supermercados sobem preços para fazer face à despesa adicional; e nós pagaremos mais pelo que comprarmos, incluindo mais IVA a rechear os cofres do Estado.
Mas fique descansado, porque o dinheiro que lhe vai fazer falta para comprar o que deseja vai ser distribuído por todos para compensar o que temos a menos no bolso. E as empresas às quais não chegaram os fundos da pandemia poderão agora tornar-se mais resilientes com a ajuda à força das que são saudáveis. É socialismo puro!
Ignorando (ativa ou inconscientemente) o potencial destrutivo do garrote fiscal que vai apertando para alimentar as suas políticas demagógicas – e nos cidadãos uma dependência pouco recomendável do Estado, que vai bem para lá da imprescindível dimensão social –, o executivo comandado por António Costa vai escravizando famílias e empresas à voracidade tributária para financiar a sua omnipresença.
Até quando pode a economia resistir? Até onde vão famílias e empresas aguentar e calar?