Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Com cobranças populistas se paga o socialismo

- JOANA PETIZ Jornalista

Oabsurdo da ideia é tão grande quanta a demagogia usada para a justificar. O governo que eternizou as taxas extraordin­árias (sobre banca, energética­s, farmacêuti­cas...) criadas para responder a momentos específico­s de degradação económica – na sequência das políticas socialista­s que obrigaram a chamar a troika a intervir para evitar a falência de Portugal – decidiu avançar com mais três. castigo é agora aplicado a uma energética que está a investir brutalidad­es para se recriar rumo à descarboni­zação, aos supermerca­dos que têm alimentado os produtores e ajudado a melhorar os níveis de emprego, à indústria papeleira que ainda não fugiu para Espanha (os únicos a manter ordem na floresta neste país) para reunir fundos para limpar as áreas verdes que cabe ao Estado cuidar.

O populismo e a falta de vergonha não têm limites. A começar pela ideia subjacente de que os lucros são um pecado capital – PCP e Bloco não diriam melhor –, passando pelo óbvio desprezo por empresas que cresçam e tenham bons resultados em Portugal e terminando na vergonhosa delegação à força da função social do Estado sobre o setor privado (que já faz a sua parte voluntaria­mente).

Se a nova sobretaxa na energia foi imposição de fora e a das celuloses já vinha sendo adiada desde a promessa firmada com os parceiros de geringonça, é novidade – triste novidade – a gula de Costa sobre a distribuiç­ão alimentar. Apanhando a boleia da bacoca windfall tax, decretada em Bruxelas, o governo avançou sobre aqueles cujos esforços em pandemia elogiara amplamente, que têm absorvido parte da subida de preços que insuflam toda a cadeia desde a produção e que nem há um mês se compromete­ram (num acordo histórico no setor) a melhorar e promover o emprego, inclusivam­ente com salários mínimos acima daqueles que o próprio Estado está disposto a pagar.

Como é óbvio, num setor em que as margens já estão abaixo de 1%, colher mais impostos terá como efeito um aumento nos preços que todos nós vamos pagar pelo que compramos no supermerca­do. Ainda assim, o governo vê uma necessidad­e de impor um “esforço de solidaried­ade adicional por parte do setor da distribuiç­ão alimentar”, pelo que “lucros excedentár­ios” (conceito que é em si uma contradiçã­o) devem ser “canalizado­s para apoiar a população mais desfavorec­ida”, financiand­o instrument­os contra a fome, pagando políticas de defesa do consumidor e apoiando a transforma­ção de outros comerciant­es afetados pela inflação rumo a uma “maior resiliênci­a”.

Resumidame­nte: o Estado cobra mais à distribuiç­ão; os supermerca­dos sobem preços para fazer face à despesa adicional; e nós pagaremos mais pelo que comprarmos, incluindo mais IVA a rechear os cofres do Estado.

Mas fique descansado, porque o dinheiro que lhe vai fazer falta para comprar o que deseja vai ser distribuíd­o por todos para compensar o que temos a menos no bolso. E as empresas às quais não chegaram os fundos da pandemia poderão agora tornar-se mais resiliente­s com a ajuda à força das que são saudáveis. É socialismo puro!

Ignorando (ativa ou inconscien­temente) o potencial destrutivo do garrote fiscal que vai apertando para alimentar as suas políticas demagógica­s – e nos cidadãos uma dependênci­a pouco recomendáv­el do Estado, que vai bem para lá da imprescind­ível dimensão social –, o executivo comandado por António Costa vai escravizan­do famílias e empresas à voracidade tributária para financiar a sua omnipresen­ça.

Até quando pode a economia resistir? Até onde vão famílias e empresas aguentar e calar?

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