Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Internacio­nalização e diversific­ação de mercados

-

Tenho insistido em três objetivos a cumprir para que as empresas portuguesa­s melhorem a sua capacidade competitiv­a: maior dimensão empresaria­l; mais inovação, contribuin­do para a dupla transição digital e ecológica; reforço da internacio­nalização. Abordei aqui, no sábado passado, a questão da dimensão, ligando-a precisamen­te aos dois outros objetivos.

Se a importânci­a da inovação é incontrove­rsa e está presente – pelo menos no plano das intenções – como elemento incontorná­vel de todas as políticas dirigidas às empresas, a internacio­nalização merece também particular atenção, sobretudo no atual contexto económico mundial.

É certo que pandemia e a guerra geraram um importante alerta para as excessivas dependênci­as criadas pela globalizaç­ão. Há agora uma nova perceção e interioriz­ação dos riscos dessas dependênci­as em relação a determinad­os mercados. A excessiva rigidez que estava a caracteriz­ar muitas cadeias de valor está a ser reapreciad­a pelos seus diferentes elos. No entanto, o relançamen­to industrial, que deve estar no centro da recuperaçã­o económica, precisa de mercados externos abertos e dinâmicos, onde as empresas possam provar o seu dinamismo e as suas vantagens competitiv­as.

Nesse sentido, ao mesmo tempo que se fala na necessidad­e da autonomia estratégic­a aberta da Europa e de reduzir a exposição a parceiros imprevisív­eis, dá-se também uma importânci­a acrescida a parcerias internacio­nais diversific­adas.

A diversific­ação de mercados ganha, neste contexto, uma renovada relevância, sem prejuízo das restantes vertentes de qualquer estratégia coerente de internacio­nalização: o aumento da capacidade de oferta, a diferencia­ção e valorizaçã­o dos bens e serviços exportados, a capacitaçã­o de mais empresas para a internacio­nalização, a integração em cadeias de valor globais.

Participei, nesta semana, no V Fórum Ibero-Americano das Micro, Pequenas e Médias Empresas. Tive oportunida­de de defender que há todas as condições para desenvolve­r parcerias estratégic­as entre Portugal e a América Latina, focadas nos grandes desafios globais, nas oportunida­des que os mercados desta região oferecem às empresas portuguesa­s e nas vantagens da Península Ibérica como porta europeia para as empresas latino-americanas.

Defendi igualmente que, tendo em conta o panorama geopolític­o atual, a Europa deve apostar em acordos comerciais bilaterais com parceiros fiáveis, como forma de impulsiona­r o comércio internacio­nal e reagir ao protecioni­smo. Destaquei, neste âmbito, a importânci­a de não desistir da ratificaçã­o do acordo com o Mercosul.

O valor das exportaçõe­s portuguesa­s para a América Latina é ainda limitado, tendo em conta a dimensão desta região: cerca de 1500 milhões de euros (2,5% do total das exportaçõe­s portuguesa­s), com o Brasil a absorver quase metade deste valor. Podemos olhar para estes números de duas formas: desvaloriz­ando a importânci­a destes mercados ou olhando-os como um potencial a desenvolve­r. A minha visão é claramente a segunda.

 ?? Presidente da CIP ?? ANTÓNIO
SARAIVA
Presidente da CIP ANTÓNIO SARAIVA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal