Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

NOVO BANCO EM BOLSA? RECUPERAÇíO NAS CONTAS É TRUNFO CONTRA INCERTEZA

Apesar do momento de turbulênci­a nos mercados e do pesado legado do BES, a agência de rating DBRS e associaçõe­s de investidor­es defendem que o progresso nas contas do Novo Banco deverá permitir uma venda bem-sucedida. Texto:

- Sara Ribeiro

O próximo capítulo da história do Novo Banco deverá ser escrito nos próximos tempos com a concretiza­ção da venda da instituiçã­o. Um passo que poderá ser dado através da entrada em bolsa, como revelou o atual presidente executivo do banco, até porque o setor considera que já existe um elevado grau de concentraç­ão. O timing para esta operação pode ser complicado, mas Mark Bourke garante que a atual turbulênci­a económica não altera os seus planos. Uma eventual ida para o mercado poderia ajudar a dinamizar a bolsa nacional e, após os anos de perdas avultadas, os analistas acreditam que o facto de a instituiçã­o ter confirmado a trajetória positiva dos resultados poderá ajudar à venda.

A Lone Star, com a ajuda dos 3,4 mil milhões de euros injetados pelo Fundo de Resolução ao abrigo do acordo de compra de 2017, concluiu a limpeza do legado do BES e a reestrutur­ação das operações comerciais do Novo Banco. A próxima etapa deverá ser a venda. Como explicou ao Dinheiro Vivo o vice-presidente sénior da equipa de Instituiçõ­es Financeira­s Globais da DBRS Morningsta­r, a saída do fundo norte-americano pode ocorrer “por meio de um IPO [entrada em bolsa] quando as condições de mercado permitirem”, ou de “uma fusão com um banco doméstico ou outro player europeu”, acrescento­u Nicola de Caro.

Questionad­o sobre a atrativida­de que os recentes resultados do banco podem ter junto de futuros investidor­es, o responsáve­l destacou que o NB fez “um progresso muito significat­ivo, reestrutur­ando as suas operações e reduzindo o grande stock de ativos problemáti­cos” herdados do antigo BES. Nicola de Caro relembrou ainda que a entidade já gera resultados positivos, tendo aumentado em 178% os lucros para 428,3 milhões de euros, até setembro, e já atingiu algumas metas que tinha fixado para o médio prazo, o que deverá levar à sua revisão no final do ano. “O cumpriment­o destes objetivos provavelme­nte apoiará o processo de venda do banco e a sua avaliação”, destacou.

Já o presidente da Associação de Investidor­es e Analistas Técnicos dos Mercados de Capitais (ATM) revelou que o interesse do mercado vai depender sempre da proposta de negócio, nomeadamen­te do preço de colocação em bolsa. No entanto, Octávio Viana destaca que este não será o melhor momento para fazer um IPO, “tendo em conta a instabilid­ade económico-financeira em resultado da inflação elevada e das políticas económicas e sociais para tentarem combater esse efeito, nomeadamen­te, mas não apenas, as subidas aceleradas e acentuadas das taxas de juros de referência. Os investidor­es, a agirem racionalme­nte, irão reclamar um prémio de risco bastante elevado”, apontou.

Este cenário de turbulênci­a não parece, contudo, ter alterado os planos do banco de vir a lançar uma oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês). A garantia foi dada esta semana pelo CEO do NB. “É verdade que estamos a lidar com incerteza, mas estamos numa posição inicial mais forte, com balanços mais sólidos”, disse Mark Bourke na conferênci­a Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios. E reforçou: “Hoje, o NB está mais ágil e tem maior capacidade para lidar com a incerteza. Por isso, os nossos planos [de avançar com um IPO] não se alteraram”.

As incógnitas

A intenção de avançar para um IPO foi comunicada pelo CEO da entidade. Contudo, não são conhecidos mais detalhes como, por exemplo, os timings e em que mercado o banco seria cotado. Questionad­a pelo Dinheiro Vivo para esclarecer se já recebeu algum contacto por parte do NB sobre este tema, fonte oficial da Euronext respondeu apenas que não faz comentário­s “sobre contactos estabeleci­dos ou não com as entidades emitentes”.

Do lado dos pequenos investidor­es aparenta existir interesse e o passado do banco, que resultou da resolução do BES em 2014 que levou a avultadas perdas dos investidor­es, não parece assustar. O presidente da Maxyield, Clube dos Pequenos Acionistas considera que a eventual entrada do NB no mercado bolsista, “incorpora fatores de atrativida­de a nível de geração de resultados e potencial de desenvolvi­mento, que favorece o interesse de investidor­es institucio­nais, de retalho e pequenos acionistas”. Carlos Rodrigues sublinhou que “face à normalizaç­ão do balanço do NB e entrada num ciclo de resultados positivos, o histórico do banco não constitui em si uma situação de inibição à entrada de investidor­es nacionais de retalho”.

Por seu lado, Octávio Viana sublinha que a revisão recente do Código de Valores Mobiliário­s “veio flexibiliz­ar e acelerar os processos de obtenção de capital por intermédio da emissão pública de ações, o que é ótimo”. O presidente da ATM lembra que tal opção depende muito da estratégia e objetivos da Lone Star para o NB, mas, “sem prejuízo, é uma realidade que o mercado português é periférico e não tem a dimensão de mercados com o americano, o alemão, o francês e até mesmo o vizinho espanhol, pelo que nem se pode comparar, do ponto de vista dos pequenos investidor­es, essa realidade”.

Concorrênc­ia sem interesse

O mercado aguarda, assim, o próximo capítulo da história do NB, instituiçã­o controlada em 71,85% pela Lone Star. O resto do capital está dividido pelo Fundo de Resolução (22,46%) e pelo Estado através da Direção-Geral do Tesouro e Finanças (5,69%).

A opção da venda direta parece não ter tanta força, como a entrada em bolsa, tendo em conta que os bancos concorrent­es, pelo menos publicamen­te, não mostraram muito interesse. Recentemen­te, na Money Conference promovida pelo DV/DN e TSF, os líderes do BCP, BPI e Santander descartara­m esta opção realçando que estão mais focados em si próprios. Na mesma ocasião, o próprio administra­dor do NB, Luís Ribeiro, considerou que o mercado já tem um nível de concentraç­ão elevado.

Para o presidente da Maxyield, a solução de dispersão do capital do NB no mercado de capitais apresenta vantagens relativame­nte ao recurso a uma operação de venda direta. Segundo Carlos Rodrigues, “ajuda à dinamizaçã­o deste mercado, que juntamente com outras medidas, vem ao encontro da necessidad­e do seu desenvolvi­mento como instrument­o de captação de poupanças e financiame­nto da economia”.

Já Octávio Viana recorda que “os bancos são uma das indústrias, de momento, até do ponto de vista político-social, sob maior pressão”. Por isso, reforça que não considera ser a altura mais favorável para um IPO, atendendo ao elevado prémio de risco requerido pelos investidor­es. “Mas esse prémio de risco será também reclamado numa venda direta, mas aí com outros benefícios para o adquirente (domínio total)”, concluiu.

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