Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Pestana tem melhor ano de sempre com receitas recorde e vai subir salários mínimos até 15% em 2023

O maior grupo hoteleiro espera receitas de 500 milhões de euros neste ano, o melhor resultado em meio século de história. No próximo ano promete aumentar a remuneraçã­o base dos trabalhado­res entre 10% e 15% acima do salário mínimo nacional.

- —RUTE SIMÃO rute.simao@dinheirovi­vo.pt

Quando Manuel Pestana comprou, em 1966, o pequeno hotel Atlântico, na cidade do Funchal, estava longe de imaginar que estas seriam apenas as primeiras linhas da história daquele que viria a ser o maior grupo hoteleiro português. O empresário, natural da pequena vila piscatória madeirense Ribeira Brava, e pai do atual chairman do grupo, Dionísio Pestana, inaugurou, seis anos depois, o Pestana Carlton Madeira. Esse foi o primeiro investimen­to de um império que conta atualmente com mais de uma centena de unidades hoteleiras espalhadas por 16 países e quatro continente­s.

O marco do meio século de vida celebra-se este fim de semana com pompa e circunstân­cia no primeiro hotel do grupo, onde a história nasceu. E ainda antes de soprar as 50 velas, o Pestana já tem motivos para celebrar mais um recorde para juntar à história. Este ano serão atingidas receitas recorde de 500 milhões de euros, o melhor resultado de sempre do grupo (50 milhões de euros acima das contas de 2019). A forte retoma do turismo no país, a elevada procura dos portuguese­s e o cresciment­o de mercados internacio­nais foram os principais impulsiona­dores de um ano sem memória, depois de, em 2020, a pandemia ter levado as contas aos prejuízos, com um resultado negativo de 32 milhões de euros – o primeiro em quatro décadas.

O CEO do grupo, José Theotónio, admite que este foi um ano de desafios, principalm­ente pela fatura mais pesada da inflação, mas o “aumento da receita” permitiu “acomodar a subida dos custos na comida e bebida, energia e nos custos com pessoal”. O responsáve­l assegura que os preços não subiram, o que aumentou foi a margem de lucro dos hotéis devido à mudança de hábitos dos clientes, que acabam por optar cada vez mais por reservas diretas ou plataforma­s online, eliminando a intermedia­ção de operadores turísticos, o que se traduz em ganhos 20% superiores nas unidades no país e de 30% na operação da Madeira.

O orçamento do próximo ano está já a ser desenhado e o grupo irá prosseguir com a política de remuneraçã­o mínima. Para 2023, a promessa é a de que o salário mínimo no Pestana esteja entre 10% e 15% acima do salário mínimo nacional e que seja aplicado durante o primeiro trimestre. Já este ano a empresa tinha implementa­do uma retribuiçã­o mínima de 750 euros aos trabalhado­res.

Do governo e do Orçamento do Estado para 2023, o responsáve­l diz não esperar nada. “O grupo Pestana é considerad­o uma grande empresa e grande empresa hoje não tem acesso a nada. Teve acesso na altura da pandemia ao lay-off, mas, de uma forma geral, estamos fora de todo o tipo de incentivos. Não esperamos nada, queremos é que mexam o menos possível e que deixem, no fundo, a economia funcionar, principalm­ente no setor do turismo”, pede.

2023: Grupo está preparado para manter hotéis encerrados

José Theotónio acompanhou mais de duas décadas da vida do Pestana. Juntou-se ao grupo em 2000, onde assumiu a pasta das contas como CFO, e há sete anos que ocupa o cargo de presidente executivo. Conhece todos os meandros da vida da empresa e fala com a serenidade de quem já se sentou à mesa com diversas crises. Uma recessão à espreita fazem do próximo ano uma incógnita e quando questionad­o sobre se a incerteza não o assusta, ri-se bem disposto e devolve: “Habituei-me. Temos de saber viver sempre neste clima de incerteza e ter cenários alternativ­os”. A estratégia para os anos menos bons não está a ser definida agora, já foi testada e é resultado da experiênci­a de quem gere mais de uma centena de hotéis e continua a crescer.

“Estamos preparados para um ano em que haja alguma diminuição da procura e a olhar muito para a nossa estrutura de custos, tornando-a variável e não só com base em custos fixos”, exemplific­a. O en

O grupo prepara já a abertura de dois hotéis na capital no primeiro trimestre do próximo ano, orçados em 10 milhões de euros: uma Pousada no bairro histórico de Alfama e um hotel na Rua Augusta.

cerramento prolongado de alguns hotéis é outra das hipóteses a considerar, caso as nuvens se adensem. Tanto em Porto Santo como no Algarve já vários hotéis fecharam portas, como é habitual durante a época baixa em destinos sazonais. “Temos alguns hotéis encerrados a partir de novembro e até fevereiro ou março. No nosso calendário, com o melhor cenário possível, esperamos voltar a abri-los na altura do carnaval e na Páscoa. Mas estamos preparados para, caso o cenário melhor não aconteça, manter as unidades encerradas mais tempo”, afiança.

Marca de Cristiano Ronaldo chega a Paris em 2025

A médio prazo irá abrir em Paris o sexto hotel da marca Pestana CR7.

“O grupo Pestana é considerad­o uma grande empresa e grandes empresas hoje não têm acesso a nada. Teve acesso na altura da pandemia ao lay-off, mas de uma forma geral, estamos fora de todo o tipo de incentivos.”

“Não esperamos nada [do governo], diz José Theotónio.

Com 2022 a chegar ao fim, os planos para o próximo ano no capítulo dos investimen­tos já estão traçados. O grupo prepara já a abertura de dois hotéis na capital no primeiro trimestre do próximo ano, orçados em dez milhões de euros: uma Pousada no bairro histórico de Alfama e um hotel na Rua Augusta. Num horizonte a médio prazo irá abrir em Paris o sexto hotel da marca Pestana CR7.

A construção do quatro estrelas, que resulta de uma joint venture entre o grupo hoteleiro e o jogador de futebol, irá arrancar no primeiro semestre de 2023 e tem um prazo de obra de entre 18 e 24 meses. Em 2025, a unidade localizada na Rive Gauche, próximo do Sena, abrirá portas depois de um investimen­to de 60 milhões de euros – o grupo de Dionísio Pestana assumirá metade do capital e o futebolist­a a outra fatia de 30 milhões de euros. Em fase final de aprovação está um hotel em Porto Santo, que poderá vir a ter até 200 quartos mas que, para já, deverá arrancar apenas com a construção da primeira fase com cem quartos. A iniciar licenciame­nto encontra-se ainda uma unidade no Funchal e José Theotónio admite que o objetivo é “manter a posição de liderança na Madeira”, embora “não esteja previsto crescer muito mais”.

O CEO atesta que o grupo quer continuar a crescer, mas não tem um plano definido. “Continuamo­s a estudar projetos, abrandámos durante a pandemia, agora retomamos. A taxa de mortalidad­e na análise de projetos é muito grande, por cada 30 que são analisados fazemos um”, diz. Sobre os próximos passos sublinha que a prioridade de análise recai nas principais cidades europeias. “Foi muito importante termos feito este teste enquanto grupo e estarmos nas cidades onde há maior competitiv­idade e concorrênc­ia como Madrid, Londres, Berlim ou Amesterdão. Estão lá todas as grandes cadeias europeias e as internacio­nais e temos conseguido comparar bem, fazer bem, ter bons desempenho­s, e continuar este trajeto é uma das prioridade­s”, adianta. Cá dentro, está nos planos “olhar mais para os Açores”.

Com meio século de vida, o grupo soma mais de 11 mil quartos no portefólio e, para os próximos 50 anos, a ambição é firme: “Continuar a crescer passo a passo, sem dar passos maiores do que as pernas”, conclui o CEO.

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FOTO: GERARDO SANTOS/GLOBAL IMAGENS José Theotónio, presidente executivo do grupo Pestana.

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