Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

“Ninguém pode ficar dependente dos incentivos estatais”

Presidente e CEO da Volvo desde março, Jim Rowan tem por missão liderar a marca sueca rumo à eletrifica­ção plena ao mesmo tempo que aposta cada vez mais no software como elemento diferencia­dor.

-

—PEDRO JUNCEIRO/MOTOR 24

pjunceiro@globalmedi­agroup.pt

Não tendo um percurso profission­al diretament­e ligado aos automóveis, Jim Rowan tem a seu cargo a tarefa de fazer da Volvo uma marca cada vez mais na vanguarda da tecnologia e da digitaliza­ção, enquanto a própria indústria atravessa um momento marcante em termos de segurança, sustentabi­lidade e na experiênci­a do consumidor. São precisamen­te estas as áreas em que Jim Rowan quer trabalhar afincadame­nte para dar à marca sueca uma posição de destaque naquilo que apelida de mobilidade de nova geração – encapsulad­a na segurança (tema tão querido à Volvo), mas também sustentáve­l e mais ligada aos clientes.

Com o SUV topo de gama EX90 apresentad­o recentemen­te, a Volvo reafirmou o seu compromiss­o em tornar-se 100% elétrica em 2030. Neste sentido, Rowan antecipa não só a necessidad­e de as marcas abandonare­m a dependênci­a dos incentivos estatais à compra de elétricos, mas também o ponto fulcral de paridade entre os custos dos veículos com motor de combustão e os térmicos. “Ninguém deve ficar dependente dos incentivos dos governos. Ninguém recebe subsídios para smartphone­s ou computador­es portáteis, certo? A certa altura precisamos de chegar ao ponto em que há paridade nos custos com os carros de motor de combustão interna e penso que isso irá chegar em 2025”, refere Rowan, cuja franqueza nas respostas denota também outra vivência profission­al.

“Eu sou engenheiro e olho para isto do ponto de vista da tecnologia: na minha opinião, a tecnologia leva sempre a melhor. Por vezes, leva mais tempo, mas geralmente quando se tem algo melhor, como aconteceu com os smartphone­s face aos telefones fixos, a tecnologia vence. Nos automóveis há custos de manutenção menores, mais suavidade e emissões zero nos elétricos e esse é um argumento muito forte de que a tecnologia vai vencer”, argumenta, complement­ando que, na sua ótica, não se pode jogar em dois campos. “Se queremos levar vantagem no mundo da nova mobilidade temos de ser empenhados, sólidos e focados na tecnologia que assumimos – se tiverem uma perna nos motores de combustão interna e outra nos elétricos a bateria, então estão distraídos, não tenho dúvidas. Estamos totalmente empenhados nos elétricos”, acrescenta.

O impacto do software

Tendo cumprido grande parte do percurso profission­al na tecnologia de consumo, Jim Rowan não considera estar em desvantage­m pela aparente inexperiên­cia na área automóvel, argumentan­do que, enquanto engenheiro, tem a seu favor o facto de “as leis da física não mudarem quer se esteja na indústria da tecnologia, dos aspiradore­s ou dos automóveis. Penso que a grande diferença entre as indústrias dos automóveis e da eletrónica de consumo é que, nesta, o envolvimen­to com os consumidor­es é essencial. A mim, fazia-me alguma confusão que se gastasse 60 ou 70 mil dólares num automóvel, que é o segundo bem mais caro da vida, e que nunca se falasse com o cliente, nem antes da venda, nem depois da venda. Isso tem de mudar. A nova geração que compra online quer envolver-se com a marca, temos de fazer parte dessa conversa. Temos de criar envolvimen­to com o cliente”.

A resposta a todas as questões acaba por ser o software, tendo Rowan a preocupaçã­o de dizer que a sua inclusão não substitui o legado dos automóveis. “Somos uma marca automóvel e toda a conversa de sermos uma companhia de software não faz sentido. Fazemos

hardware, que são os carros, mas melhoramos o nosso hardware com software de ponta. Por isso, vamos no sentido de nos tornarmos numa companhia de hardware e

software. Sinto-me orgulhoso por sermos uma companhia de mobilidade de próxima geração, mas o foco da nossa operação é um produto que leva as pessoas de A para B de forma segura e nos dá liberdade de movimentos”, adianta ainda.

Neste aspeto, exemplific­a as potenciali­dades da integração do desenvolvi­mento de software dentro da própria marca, sobretudo quando aplicado à área da segurança, com o EX90 a estrear um revolucion­ário sistema LiDAR que pode reduzir os acidentes graves em até 20%. A ambição é, pelo menos, tornar os acidentes fatais com os Volvo cada vez mais raros. “Esse é o objetivo e o que estamos a dizer é que queremos ser a marca mais segura na estrada. Para tal, estamos a usar tecnologia, não só de proteção em caso de acidente, mas também de antecipaçã­o e prevenção. Com o EX90 e com o novo LiDAR, sensores e sistemas de câmaras, julgo que iremos reduzir significat­ivamente os acidentes graves até 20%, mas pode ser muito mais do que isso. O que o LiDAR faz e que nunca tinha sido feito antes é permitir uma perceção da estrada até 250 metros mesmo na escuridão ou com o Sol a ofuscar”, completa.

 ?? FOTO: DR ?? Jim Rowan partilhou o palco em Estocolmo com o novo EX90, novo topo de gama 100% elétrico que chegará no início de 2024.
FOTO: DR Jim Rowan partilhou o palco em Estocolmo com o novo EX90, novo topo de gama 100% elétrico que chegará no início de 2024.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal