Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Renault na linha da frente para a eletrificação
Marca francesa orienta as suas ambições na Europa em torno de duas tecnologias essenciais até 2035: os híbridos de elevada eficiência e os automóveis 100% elétricos. A estratégia é explicada por Fabrice Cambolive, diretor de operações.
Com a União Europeia e os próprios clientes a alinharem-se cada vez mais no sentido da eletrificação rumo à descarbonização no setor dos transportes, as marcas automóveis respondem com um número cada vez maior de propostas 100% elétricas, reorientando ao mesmo tempo as suas estratégias. A Renault é, precisamente, um desses casos, delineando um plano de médio prazo para se tornar cada vez mais eletrificada, como explicou Fabrice Cambolive, diretor de operações da Renault, para quem os dois últimos anos foram muito claros no sentido da mudança.
“Por um lado, penso que estamos a atravessar uma fase de transição que foi muito dispendiosa e, por outro lado, observamos uma mudança em termos de mercado. Quando olhamos para o que aconteceu na eletrificação nos últimos dois ou três anos, as diferenças verificadas são enormes. Se pegar no caso da Renault, nos dois últimos anos passámos de um nível de eletrificação abaixo dos 10% [nas vendas] para mais de 40% agora”, refere Cambolive, que admite que os incentivos aos veículos elétricos na Europa desempenharam um papel importante nessa tomada de posição dos elétricos, mas que “ano após ano, temos de ser cada vez mais independentes de subsídios”.
Em termos tecnológicos, a marca francesa tem vindo a apostar fortemente em duas vertentes: a dos híbridos ainda com motor de combustão e a da tecnologia 100% elétrica, naquele que foi um “enorme investimento” tendo em conta a diferente velocidade de cada mercado na aceitação dos elétricos.
“Penso que até 2035 a situação é clara: temos de ir para a eletrificação. O que é muito importante para nós é termos esta escolha dupla até lá: de um lado, os elétricos em plataformas dedicadas e, do outro, aumentarmos o mix de híbridos em todos os nossos modelos fundamentais, o que é para mim a fase de transição perfeita para cada mercado dependendo da sua maturidade em relação à adoção dos elétricos. Para mim, os híbridos vão manter-se, daqui até 2035, como um dos eixos estratégicos para ter a eletrificação de um lado e o motor de combustão com consumos extremamente baixos do outro”, assume.
Adicionalmente, advoga que o hidrogénio pode também ser uma ótima solução para a mobilidade do futuro, mas sobretudo direcionada para a área dos transportes de mercadorias, na qual a Renault tem uma divisão de negócio chamada HYVIA para o desenvolvimento de comerciais com pilha de combustível a hidrogénio.
Ambições de liderança
Com cerca de uma década de experiência na mobilidade elétrica, a Renault começa agora a abranger uma faixa cada vez maior de gamas. A mais recente foi a do Mégane E-Tech, com Cambolive a ver na sua aceitação um excelente indicador quanto ao sucesso comercial dos veículos elétricos em larga escala, tendo já mais de 40 mil encomendas na Europa. “Temos um modelo com um potencial para cem mil unidades por ano, mais ou menos, na Europa. E este modelo de segmento C será complementado no próximo ano com o Scénic também elétrico. O que esperamos é atingir a liderança do segmento C elétrico na Europa com estes dois automóveis”.
Porém, se a eletrificação é o futuro declarado, a marca quer fazer essa caminhada com uma ligação muito clara ao seu passado, fazendo regressar dois dos modelos mais icónicos da Renault, os 4 e 5, que serão retomados em formato 100% elétrico, em 2025 e 2024, respetivamente: “Com os Renault 4 e 5 estamos a voltar a pontos históricos em que fomos muito bem-sucedidos nos carros de motor de combustão, com essas duas propostas icónicas revisitadas ou reinventadas com tecnologia elétrica que é permitida por uma nova plataforma dedicada”.
Mas, se existe uma clara tentação de refazer dois dos ícones, Cambolive assegura que a Renault não tem a sua estratégia assente na nostalgia, mas sim na procura pela reinvenção.
“Creio que não se pode dizer que seja nostalgia, porque a certo ponto, quando fazemos a estratégia de uma companhia após a renovação, temos de lidar com os nossos pontos fortes e com o nosso legado. Diria que o 4 e o 5 são muito ligados à Renault e o que estamos a tentar não é refazer, mas reinventar de uma forma moderna e altamente tecnológica: se olharam para estes dois protótipos, irão ver que a forma como regressamos a estes modelos icónicos é diferente: o 5 é mais próximo do original, o 4 é mais diferente. Ou seja, o tratamento é diferenciado. Para mim, não tem que ver com a nostalgia, mas sim com o sonho da modernidade”, acrescenta, dizendo ainda que também neste segmento há uma ambição de liderança nos modelos elétricos.
Modelo Mégane E-Tech tem mais de 40 mil encomendas na Europa e é um sucesso de venda de elétricos em larga escala, diz a empresa.