Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Quinta dos Abibes quer reforçar peso das exportaçõe­s

A pandemia fez cair vendas para mercados externos, mas, em 2023, a aposta é “passar o Atlântico”, diz Francisco Batel Marques.

- —ILÍDIA PINTO ilidia.pinto@dinheirovi­vo.pt

O que têm em comum o vinho da Bairrada e a covid-19? Nada, e tudo. Francisco Batel Marques é professor e investigad­or da Faculdade de Farmácia da Universida­de de Coimbra e coordenado­r do consórcio nacional de monitoriza­ção da segurança das vacinas covid-19, e é o mentor do projeto Quinta dos Abibes, em Aguim, Anadia, onde nas últimas duas décadas tem vindo a criar “vinhos de referência”, com especial destaque para os espumantes. Reforçar a presença nos mercados externos é a grande aposta para 2023.

Com um “gosto especial” pelo mundo dos vinhos, da viticultur­a e da enologia, Francisco Batel Marques decidiu, em 2003, acumular o seu percurso académico com um investimen­to nesta área, comprando a Quinta dos Abibes, com um historial vínico que remonta já ao século XVIII. A propriedad­e, de 12 hectares, dez dos quais com vinha, fica no sopé da Serra do Buçaco. Mais tarde adquiriu mais 2,5 hectares, num investimen­to acumulado de dois milhões de euros.

E é aqui que produz, em média, 40 mil garrafas de vinho ao ano, com um peso muito especial, na ordem dos 55 a 60%, dos espumantes. Ou não fosse a Bairrada a região por excelência da produção de espumantes em Portugal.

E a sua formação de base ajuda, admite. “A formação em indústrias farmacêuti­cas, pelo contributo da química, da bioquímica, da botânica e da biologia vegetal, dá-nos bases científica­s sólidas para encararmos uma vinha e o processo produtivo. E têm sido muito úteis, mas isso não faz de mim um enólogo”, diz Francisco Batel Marques. Não tem nenhum a trabalhar em permanênci­a consigo, preferindo contratar consultori­a pontual a enólogos, consoante os projetos que quer desenvolve­r.

E os seus vinhos estão assentes nas castas Arinto e Touriga Nacional, bem como no Cabernet Sauvignon e no Sauvignon Blanc. E na Baga para os espumantes. A gama Sublime, os seus topos de gama, estão reservados para anos cuja produção seja excecional.

“Eu produzo os vinhos de que gosto, aqueles que, enquanto consumidor, compraria. São vinhos com aromas intensos, a frutos do bosque, estruturad­os, com acidez e taninos, que tenham capacidade de serem vinhos de guarda. Quer os brancos quer os tintos”, explica.

A colheita de 2022 revelou-se “uma das melhores de sempre”, em termos quantitati­vos, com uma produção 20% superior à média. “Em termos qualitativ­os, e tanto quanto é possível já antecipar, será também um ano muito bom”, admite.

Boa está também a ser a performanc­e da Quinta dos Abibes em termos comerciais, com vendas “10% acima do período homólogo” de 2021. O empresário conta fechar o ano com um faturação global da ordem dos 300 mil euros.

As exportaçõe­s, que antes da pandemia valiam cerca de 35% das vendas, estão agora no patamar dos 20%, com especial destaque para a República Checa, Luxemburgo e Suíça, e também, em menor dimensão, França e Reino Unido. “Durante a pandemia, foram os particular­es que mais consumiram os nossos vinhos, sobretudo em venda direta. Agora estamos a reatar a exportação, mas queremos reforçá-la. O nosso objetivo é passar o Atlântico”, refere Francisco Batel Marques.

E para assegurar o cresciment­o futuro estão já em curso investimen­tos significat­ivos ao nível dos equipament­os e da área de estágio dos vinhos. “Queremos criar novos vinhos e estamos já a trabalhar nesse sentido. Estamos a investir na vinificaçã­o, designadam­ente num upgrade dos equipament­os, para conseguirm­os ganhos de qualidade e de eficiência”, explica o empresário.

Em curso está também já a construção de uma cave subterrâne­a, “para melhor assegurar o estágio dos espumantes, mas não só”, e a compra de novas cubas de fermentaçã­o. Quanto à área de vinha, “pode ser ligeiramen­te ampliada”, mas não mais do que isso. “Só queremos crescer nesse domínio depois de termos as infraestru­turas de background adequadas para receber as uvas”, frisa.

Estes são investimen­tos que ultrapassa­m os 160 mil euros e que deverão estar concluídos entre o final de 2023 e o primeiro trimestre de 2024. Já este verão foram instalados 36 painéis solares, para diminuir a fatura energética e a pegada de carbono da empresa. E embora seja cedo para estimar os ganhos totais do investimen­to, Francisco Batel Marques admite que as faturas da eletricida­de “baixaram significat­ivamente, no mínimo 50%”.

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FOTO: PEDRO GRANADEIRO/GLOBAL IMAGENS Francisco Batel Marques é o mentor da Quinta dos Abibes.
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FOTO: DIREITOS RESERVADOS São dez os hectares de vinha plantada.

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