Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A pergunta certa

- ALBERTO CASTRO Economista e professor universitá­rio

U“No ranking de complexida­de, um indicador da diversific­ação, capacidade de criar produtos sofisticad­os e de resiliênci­a, Espanha e Portugal ocupam posições contíguas (33.º e 34.º).”

m destes dias participei, na Galiza, num seminário sobre as economias portuguesa e espanhola. Um exercício que, entre outras, tem a vantagem de relativiza­r algumas das questões que, olhando para o umbigo, consideram­os serem só nossas. Mas não só: permite, igualmente, colocar em contexto alguns dos “feitos únicos” com que os mais otimistas enchem as bocas.

Quanto ao PRR, por exemplo, as últimas semanas foram, entre nós, férteis em notícias sobre a sua limitada execução em contrapont­o, dizia-se, com o que estaria a acontecer em Espanha. Pois bem, chega-se lá e uma das primeiras perguntas foi sobre as razões do nosso bom desempenho!

Afastada essa efémera espuma dos dias, emergem os problemas reais que, em maior ou menor medida, ambas as economias partilham: uma baixa produtivid­ade e um posicionam­ento competitiv­o que deixa a desejar. Por exemplo,

no ranking de complexida­de, um indicador da diversific­ação, capacidade de criar produtos sofisticad­os e de resiliênci­a, Espanha e Portugal ocupam posições contíguas (33.o e 34.o). Como se diz na apresentaç­ão do ranking (https://atlas.cid.harvard.edu/rankings), o “desenvolvi­mento económico requer a acumulação de conhecimen­to produtivo e o seu uso em mais e mais complexas atividades. (...) Os países melhoram a sua posição aumentando número e complexida­de dos produtos que exportam com sucesso”.

Em vez de discussões sobre se a percentage­m de execução é boa ou má, a avaliação do PRR, bem como de outras políticas económicas, financiada­s ou não por fundos europeus, deveria ser feita naquele quadro. Uma visão no tempo, mostra Portugal relativame­nte estável na sua posição e, se serve de consolo, Espanha a perder posições.

Mais elucidativ­o é ver por que países fomos ultrapassa­dos. Na lista encontramo­s os suspeitos do costume: muitos dos países do Centro da Europa, que terão sabido evoluir de uma base de educação geral para o conhecimen­to aplicado numa diversidad­e de indústrias e produtos mais complexos, que lhes trouxeram proveito económico. O nosso PRR, as nossas políticas, vão nesse sentido?

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