Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
A pergunta certa
U“No ranking de complexidade, um indicador da diversificação, capacidade de criar produtos sofisticados e de resiliência, Espanha e Portugal ocupam posições contíguas (33.º e 34.º).”
m destes dias participei, na Galiza, num seminário sobre as economias portuguesa e espanhola. Um exercício que, entre outras, tem a vantagem de relativizar algumas das questões que, olhando para o umbigo, consideramos serem só nossas. Mas não só: permite, igualmente, colocar em contexto alguns dos “feitos únicos” com que os mais otimistas enchem as bocas.
Quanto ao PRR, por exemplo, as últimas semanas foram, entre nós, férteis em notícias sobre a sua limitada execução em contraponto, dizia-se, com o que estaria a acontecer em Espanha. Pois bem, chega-se lá e uma das primeiras perguntas foi sobre as razões do nosso bom desempenho!
Afastada essa efémera espuma dos dias, emergem os problemas reais que, em maior ou menor medida, ambas as economias partilham: uma baixa produtividade e um posicionamento competitivo que deixa a desejar. Por exemplo,
no ranking de complexidade, um indicador da diversificação, capacidade de criar produtos sofisticados e de resiliência, Espanha e Portugal ocupam posições contíguas (33.o e 34.o). Como se diz na apresentação do ranking (https://atlas.cid.harvard.edu/rankings), o “desenvolvimento económico requer a acumulação de conhecimento produtivo e o seu uso em mais e mais complexas atividades. (...) Os países melhoram a sua posição aumentando número e complexidade dos produtos que exportam com sucesso”.
Em vez de discussões sobre se a percentagem de execução é boa ou má, a avaliação do PRR, bem como de outras políticas económicas, financiadas ou não por fundos europeus, deveria ser feita naquele quadro. Uma visão no tempo, mostra Portugal relativamente estável na sua posição e, se serve de consolo, Espanha a perder posições.
Mais elucidativo é ver por que países fomos ultrapassados. Na lista encontramos os suspeitos do costume: muitos dos países do Centro da Europa, que terão sabido evoluir de uma base de educação geral para o conhecimento aplicado numa diversidade de indústrias e produtos mais complexos, que lhes trouxeram proveito económico. O nosso PRR, as nossas políticas, vão nesse sentido?