Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Pedro Amaral Jorge “As negociaçõe­s no COP são sempre incrementa­is e os passos dados sempre pequenos”

- Texto: José Varela Rodrigues e José Milheiro (TSF)

Presidente da APREN espera maior clareza governamen­tal sobre o futuro energético do país. Defende acordos de regime e o fim da CESE e diz que hiato governamen­tal “é relevante” para leilões eólicos

Pedro Amaral Jorge lidera a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) há cinco anos. O gestor esteve na 28.ª Conferênci­a das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que se realizou este ano no Dubai, entre 30 de novembro e 12 de dezembro. Defende em entrevista que se avalie bem o relatório final da cimeira, mas considera haver “boas notícias”.

Tivemos nestas últimas duas semanas a Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP 28). Como é que encara estas negociaçõe­s diplomátic­as que já duram há 28 anos?

As negociaçõe­s dentro da Cimeira do Clima são sempre incrementa­is e os passos que dão em cada ano são sempre pequenos. Já demos alguns passos representa­tivos. Do ponto de vista da energia, há dois pilares importante­s que saíram desta cimeira e que estão, no fundo, dentro do enquadrame­nto daquilo que é a esfera que envolve todas as organizaçõ­es que estão lá. A primeira foi a notícia dizendo que queríamos começar a descer o consumo de combustíve­is fósseis, ou seja, além do carvão, também iríamos começar a fazer o phasing out do gás natural e do petróleo – seja ele em crude ou em gás liquefeito de petróleo – essa é uma notícia que é importante e que dá uma mudança clara de direção naquilo que tem acontecido até agora. Ou seja, podemos começar a apontar que o chamado peak oil – o consumo máximo de petróleo –, mesmo com o aumento da demografia e com o aumento da industrial­ização de alguns países, começa a acontecer.

E o segundo pilar importante?

O segundo é a meta mais concreta para 2030, que foi apresentad­a pela Global Renewables Alliance, que conseguiu que 120 países subscreves­sem o chamado Double Down, Triple Up, ou seja, que duplicasse­m a eficiência energética até 2030 e que também aumentasse­m a sua potência instalada de renováveis para a produção de eletricida­de também até 2030. Estes dois pilares, do ponto de vista da energia, acho que são boas notícias. Agora é preciso ver o relatório final da cimeira, perceber exatamente o que ficou acordado, o que é vinculativ­o, o que não é vinculativ­o, o que depende de metas concretas para implementa­r, mas penso que estes dois vetores são importante­s para nos apontar o sentido em que queremos ir.

Ainda assim, os Estados petrolífer­os recusaram definir metas concretas para o abandono dos combustíve­is fósseis, apesar do acordo alcançado. É possível um combate às questões do clima com uma agenda global de interesses múltiplos?

Não acho que seja de todo fácil. Temos de ver isso em três perspetiva­s. Os países que são grandes produtores de petróleo, estamos a pensar ali na zona do Médio Oriente, da Eurásia, a própria Rússia, ou seja, são

“É relevante [suspender para depois das eleições o leilão de eólico offshore]. Se estamos em 2024 e perdemos um ano, é relevante. Se tivéssemos 20 anos, um ano não seria crítico, mas em seis, um ano é muito.”

Essa é a primeira perspetiva. E a segunda?

O que vai acontecer é que a Europa e os Estados Unidos representa­m um mercado muito grande e esse mercado vai poder ter aqui uma ferramenta importante que vem do pacote ecológico do Green Deal, ou seja, do Pacto Ecológico Europeu, que tem a ver com a taxação do carbono à entrada das fronteiras da

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal