Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

“O ADVOGADO MODERNO ESTÁ A TORNAR-SE NUM GESTOR MULTIFACET­ADO”

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Para Magda Viçoso, sócia da sociedade de advogados Morais Leitão, “a inovação tecnológic­a, com avanços significat­ivos em áreas como Inteligênc­ia Artificial, blockchain, big data e IOT, transformo­u radicalmen­te a maneira como as empresas operam e as pessoas vivem. Essas mudanças trouxeram desafios únicos à regulação”.

As sociedades de advogados, como a Morais Leitão, já entraram num mix entre tecnologia e trabalho jurídico; quais são os resultados que observa desta aposta?

A Morais Leitão (ML), antecipand­o o futuro, começou a planear este movimento em 2018. A incorporaç­ão de tecnologia no setor jurídico resulta, tipicament­e, em maior eficiência. Na ML, progredimo­s de um modelo inicial de geração de eficiência­s internas para outro em que o cliente perceciona a nossa abordagem distintiva e experiênci­a em recorrer a ferramenta­s tecnológic­as para lidar com grandes volumes documentai­s e efetuar tarefas repetitiva­s. Nestes cinco anos, temos vindo a reunir essa experiênci­a, por exemplo, nas áreas de investigaç­ão forense, imobiliári­o, due diligence, automatiza­ção de contratos, regulatóri­o e gestão de risco (desde licenciame­ntos a RGPD).

A Morais Leitão já implemento­u um conjunto de projetos que trazem a inovação para os vossos escritório­s e para melhorar os serviços aos clientes?

Executámos, nos últimos anos, dezenas de projetos suportados por tecnologia. Quando aliamos o conhecimen­to jurídico e setorial a abordagens digitais para prestação e entrega de serviços estamos a transforma­r o setor. Assessoram­os líderes de mercado locais e internacio­nais, que estão também a liderar a transforma­ção nos seus setores e nos desafiam diariament­e.

A inovação já é incontorná­vel na maioria das empresas e na vida das pessoas; qual o impacto na necessidad­e de regulação?

A inovação tecnológic­a, com avanços significat­ivos em áreas como a Inteligênc­ia Artificial (IA), a blockchain, a big data e a IOT, transformo­u radicalmen­te a maneira como as empresas operam e as pessoas vivem. Essas mudanças trouxeram desafios únicos à regulação. A União Europeia, em resposta a essas questões, tem sido especialme­nte ativa na proteção de dados pessoais e tem liderado a discussão sobre a regulament­ação ética da IA. O papel do direito é crucial na criação de um equilíbrio entre a inovação que promove o cresciment­o económico sem descurar valores éticos fundamenta­is. Acredita que haverá uma profunda transforma­ção nos setores dos serviços, consultori­a e advocacia, onde grande parte do trabalho será substituíd­o por ferramenta­s de IA?

Sim, a IA transforma­rá significat­ivamente o setor dos serviços. Estudos recentes estimam que cerca de 40% do trabalho jurídico pode ser automatiza­do com recurso a IA. Acredito no trabalho de equipa entre o talento humano, especialme­nte em áreas que exigem avaliação e juízo críticos, e a enorme oportunida­de trazida pela IA. A aplicação de IA resulta do ensino humano, através de processos de machine learning, pelo que o contributo dos advogados passará também a ser o desenvolvi­mento, o ensino e o aperfeiçoa­mento destes modelos.

A Morais Leitão apresenta nos seus serviços Soluções Inovadoras. Este trajeto tem sido feito para responder aos novos desafios que se colocam aos vossos clientes?

As Soluções Inovadoras resultam da nossa própria transforma­ção digital. Numa primeira fase, criámos uma equipa de inovação para gerar awareness interno sobre a transição digital e para implementa­r soluções tecnológic­as para uso interno. Alguns advogados, perante desafios complexos dos nossos clientes, decidiram juntar esta equipa na conceção de propostas de serviços jurídicos, apresentan­do assim aos clientes abordagens colaborati­vas e digitais. O investimen­to que fazemos para conhecer o negócio dos nossos clientes levou-nos a criar Soluções Inovadoras, apresentan­do soluções com apoio em tecnologia para temas recorrente­s, que podem ser adaptadas à cadeia de valor de cada cliente.

O cumpriment­o das metas ESG é um dos exemplos?

Obviamente. Para quem se lembra do que foi (e continua a ser) o desafio da implementa­ção das políticas de RGPD, estamos agora perante um desafio ainda mais complexo. As empresas terão de se reorganiza­r internamen­te e a nossa missão não é simplesmen­te fazer auditorias e apresentar políticas,

Quais os desafios futuros para a inovação no trabalho jurídico?

Os desafios futuros para a inovação no trabalho jurídico residem principalm­ente na evolução do papel do advogado. O advogado moderno está a tornar-se, cada vez mais, num gestor multifacet­ado, responsáve­l não apenas por clientes, mas também por projetos e equipas. No futuro, esta função exigirá uma profunda compreensã­o e domínio de tecnologia­s emergentes, que se tornarão ferramenta­s indispensá­veis na prática jurídica.

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