Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

P&R A regulação da inteligênc­ia artificial, em nome do cidadão

O AI Act é a a legislação que quer proteger os cidadãos europeus dos abusos por parte de empresas e governos no recurso à inteligênc­ia artificial. O processo tem-se arrastado e as regras ainda longe de entrar em vigor.

- —DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE, EM BRUXELAS

O que é o AI Act?

É a lei que a União Europeia vai usar para regular os sistemas de inteligênc­ia artificial, adotando uma lógica em função do risco que cada tecnologia representa para os cidadãos. Há sistemas banidos, há sistemas de alto risco que têm de obedecer a uma legislação rigorosa e há todos os outros, que não são impactados com esta legislação (estão ainda excluídos todos os sistemas de aplicação exclusiva militar ou de investigaç­ão científica).

ChatGPT?

Este processo regulatóri­o vai abranger os grandes modelos fundaciona­is como o que deu origem ao ChatGPT, com regras próprias em função da sua dimensão.

E isso não ameaça a inovação das empresas europeias, que já andam atrás das americanas e chinesas?

Não, porque a maioria das provisões legislativ­as só se aplicam quando as empresas ganham uma determinad­a dimensão, existindo exclusões explícitas para novas marcas e produtos (são as chamadas caixas de areia, onde se podem testar livremente aplicações inovadoras).

O que se passou foi um período negocial intensivo em que as instituiçõ­es da União Europeia se viram sob pressão acrescida para chegar a um acordo: depois de a Casa Branca ter emitido uma ordem executiva sobre a IA e de ter ocorrido uma cimeira em Londres sobre segurança, ficou óbvio que a UE estava a ficar para trás. Apesar de uma ronda de mais de vinte horas consecutiv­as, nem assim o processo ficou fechado; chegou-se a um acordo provisório que deixou os detalhes para negociaçõe­s que vão decorrer em gabinetes durante mais um par de meses, pelo que só depois se poderá considerar o processo fechado.

O que está e ainda está em aberto?

As questões sensíveis que estão ainda por fechar serão determinan­tes para avaliar a qualidade do documento final. Os principais temas ainda em discussão são: a estrutura exata de governança e certificaç­ão quer a nível europeu quer a nível nacional; as exceções permitidas aos Estados em nome da segurança e das migrações, como os casos em que se poderão utilizar sistemas de identifica­ção biométrica; o grau de transparên­cia que será exigido aos sistemas de alto risco e a capacidade de autorregul­ação da indústria.

É verdade que este será o primeiro regulament­o sobre a inteligênc­ia artificial?

Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia afirmou que “a lei da IA da UE é o primeiro quadro jurídico abrangente de sempre sobre Inteligênc­ia Artificial a nível mundial”. Mas isso não é verdade, visto que a China adotou um conjunto de provisões legislativ­as sobre a inteligênc­ia artificial já em junho deste ano.

Qual será a importânci­a global deste documento?

A União Europeia tem sido pioneira na regulação de tecnologia­s que impactam a vida dos cidadãos. Ao obrigar as empresas globais a adotar uma série de regras para que possam aceder ao mercado interno da União, tem levado a que as políticas mudem a nível internacio­nal; isto ocorre não só porque as empresas preferem ter apenas um produto para o mercado global, como porque aos poucos o resto do mundo vai adotando políticas semelhante­s. É o chamado “efeito Bruxelas”, que se tornou um importante instrument­o de política externa da União, desde que o GDPR foi adaptado noutras partes do mundo (do Brasil ao Japão, passando pela Califórnia e outros estados americanos).

Afinal quando é que o AI Act vai ser assinado?

Não há uma data, visto que ainda está muita coisa em discussão. Alguns responsáve­is da Comissão apontam para o fim de janeiro, enquanto no Parlamento se estima que isso só aconteça em fevereiro de 2024.

E quando é que entra em vigor?

Se se confirmar o cenário de fevereiro ou março para assinatura, algumas provisões poderão ser adotadas já em 2025, mas o texto completo só estará em vigor em 2026. De qualquer forma as aplicações considerad­as de risco inaceitáve­l serão banidas seis meses depois da assinatura do AI Act.

E quando é que este processo começou?

Este será um dos processos legislativ­os mais longos da história da UE. Tudo começou no início de 2018, quando a Comissão nomeou um grupo de peritos e a European AI Alliance para discutir o que fazer com a nova tecnologia. O processo ficou do lado da Comissão até abril de 2021, quando se apresentou o primeiro texto para discussão pelas partes.

O Conselho adotou um texto em final de 2022, numa altura em que se esperava que o Parlamento também estivesse pronto a fechar uma versão própria. Mas o lançamento do ChatGPT, a 30 de novembro do ano passado, pôs todo o modelo em causa: o AI Act não estava preparado para uma aplicação com finalidade­s múltiplas, pelo que foi preciso repensar e reescrever grande parte do documento. Esse processo decorreu no Parlamento até ao último verão, liderado por dois comités: o do Mercado Interno e Direitos do Consumidor e o das Liberdades Civis. Quando o Parlamento Europeu fechou o texto, seguiu-se para negociaçõe­s com a Comissão Europeia (onde se sentam os comissário­s) e o Conselho Europeu (onde pontificam os governos nacionais), que levaram ao evento do último fim de semana.

que surgiu no momento a que Manoel Suhet, CEO da bTd Travel, se refere como “o céu do inferno”: o mercado de viagens parecia imobilizad­o, com a aviação comercial a cair mais de 80% e a startup americana com quebras de 56%.

A luz ao fundo do túnel surge quando o empresário se apercebe do cresciment­o de 113% na utilização de jatos privados – que não estavam sujeitos a restrições de quarentena –, e decide aprimorar a componente de concierge da plataforma, abrindo-se ao mercado de luxo. Depois de alguma turbulênci­a, a startup começou a planear a sua expansão interconti­nental e aterrou, em 2022, na Europa, onde escolheu Portugal para primeiro mercado no velho continente.

“Entre EUA, Brasil e Portugal, existe uma procura de viagens turísticas e corporativ­as muito grande, forma-se um triângulo atlântico”, explica o responsáve­l da bTd, sublinhand­o a importânci­a do território nacional no panorama da concretiza­ção da expansão europeia.

Além do posicionam­ento estratégic­o, o retângulo à beira-mar plantado também é considerad­o por Suhet como um berço da startup, que conseguiu o seu primeiro fi

Receitas chegaram aos quatro milhões de dólares em 2022 e prevê-se que atinjam os seis milhões de dólares este ano, ainda sem contar o mercado nacional.

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Manoel Suhet, CEO da bTd Travel. Carlos Pimentel/GI

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