Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
História de uma queda anunciada nos resultados dos alunos
Esta semana, o Educar tem Ciência volta a analisar os resultados da última edição do PISA, em que o desempenho dos alunos portugueses desceu de forma significativa.
Perante os resultados dos alunos portugueses na última edição do PISA é necessária uma reflexão que permita determinar o que falhou e o que pode ser feito para retomar a tendência ascendente que marcou os primeiros anos deste século. Este foi o mote para a análise feita pelo presidente da Iniciativa Educação, Nuno Crato, e pelo investigador João Marôco no episódio desta semana do Educar tem Ciência, um projeto da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo.
“Olho para estes resultados com tristeza porque nós durante cerca de 15 anos estivemos sempre a subir. Foi um trabalho de muita gente – professores, pais, famílias, pessoas que trabalhavam no Ministério – a partir de 2015 iniciou-se uma quebra e agora esta queda é abrupta”, lamenta Nuno Crato, para quem esta inversão de tendência não aconteceu por acaso.
João Marôco, por sua vez, sublinha a necessidade de olhar com atenção para as grandes disparidades regionais reveladas pelo PISA, com especial destaque para a Região Autónoma dos Açores. “Nos Açores os alunos tiveram, em média, 408 pontos, 64 pontos abaixo da média nacional e isto é equivalente a três anos de escolaridade”, alerta o investigador, para quem “não é aceitável” que, num país de dez milhões de habitantes, exista uma região cujos alunos estão “três anos atrás dos colegas”. “Estes dados têm de ser analisados com muito cuidado, perceber o que está a acontecer nas diferentes regiões”, defende.
Focar, recuperar, avaliar
Para Nuno Crato, há quatro pontos-chave a ter em conta para que se consiga reverter o mau desempenho dos últimos anos: concentrar a atenção dos currículos nas disciplinas básicas (português e matemática), recuperar os alunos com base num apoio tutorial que privilegie uma abordagem cognitiva e ter formas de avaliar o progresso, nomeadamente através de provas nacionais. “Temos de ter um currículo centrado no conhecimento e não nas competências. E é muito importante avaliar o progresso e ter
Quando se fala de “investimento em educação” não é obrigatório que se fale de investimento financeiro.
medidas que nos permitam ver como é que estamos a avançar”, defende o presidente da Iniciativa Educação.
Para João Marôco são necessários “estudos válidos e fiáveis sobre o desempenho do sistema educativo” que possam apoiar a tomada de decisão, que deve ter por base “evidências e não ideologias”. A isto, acrescenta ainda outra preocupação: a necessidade de o sistema de ensino dar resposta à crescente população imigrante. “A percentagem de alunos filhos de imigrantes quase duplicou entre os dois ciclos do PISA e estes alunos têm um desempenho muito pior quando comparados com os alunos nativos – uma diferença de 30 pontos”, alerta o investigador, que apela a que todos estes dados sejam olhados com “seriedade”.
João Marôco e Nuno Crato sublinham que quando se fala de “investimento em educação” não é obrigatório que se fale de investimento financeiro. João Marôco dá como exemplo uma escola que visitou recentemente em Taiwan (país que se destaca pela positiva no PISA). “Os alunos têm os quadros digitais nas salas de aula e instrumentos musicais – a música é uma das disciplinas core do ensino primário em Taiwan – mas as infraestruturas físicas não eram nada de especial. As escolas não têm de estar a brilhar para os sistemas educativos terem bons desempenhos”, diz. Na verdade, como lembra Nuno Crato, investir em educação passa por uma série de aspetos, da formação dos professores ao currículo seguido passando pela avaliação. “Investimento naquilo que se traduz em melhor ensino e em melhor aprendizagem”, defende Crato.