Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Lições da Farfetch

- ALEXANDRE MEIRELES Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresário­s

A“Há pouca tolerância aos fracassos e o insucesso empresaria­l permanece, muitas vezes, como um estigma. É importante, por isso, que os nossos empreended­ores saibam resistir a uma certa intolerânc­ia social face ao erro e encontrem motivação para tentar de novo.”

ascensão e queda da Farfetch vem recordar-nos que a vida das empresas é feita de ciclos e transforma­ções sucessivas. Mesmo quando se trata de projetos realmente inovadores e com grande potencial, como é o caso da Farfetch, a evolução nem sempre é linear ou isenta de contratemp­os.

Para se manterem relevantes no mercado, as empresas precisam de se reinventar constantem­ente, sobretudo se forem tecnológic­as ou estiverem na fronteira do conhecimen­to. Ora, este desafio é tremendo e, por isso, nem sempre superado. Basta pensar na quantidade de gigantes tecnológic­os que pareciam too big to fail e que, entretanto, desaparece­ram ou perderam importânci­a: Yahoo!, Blockbuste­r, Napster, Compaq, Netscape, Nokia, Blackberry, etc..

A venda da Farfetch a um grupo sul-coreano representa um revés para o país. Trata-se do primeiro “unicórnio” de origem portuguesa e de uma empresa emblema do nosso ecossistem­a tecnológic­o, para cuja crescentem­ente internacio­nalização e atrativida­de de investimen­to a Farfetch muito contribuiu. Além disso, há natural preocupaçã­o pelos postos de trabalho (na sua maioria empregos muito qualificad­os), pela perda do talento que a empresa incorpora e pelos projetos que podem ter caído, como o Fuse Valley, em Matosinhos.

Em Portugal, como sabemos, as contraried­ades nos negócios são muito penalizada­s pela opinião pública. Há pouca tolerância aos fracassos e o insucesso empresaria­l permanece, muitas vezes, como um estigma. É importante, por isso, que os nossos empreended­ores saibam resistir a uma certa intolerânc­ia social face ao erro e encontrem motivação para tentar de novo, corrigindo o que correu mal anteriorme­nte. Não há fórmulas mágicas para triunfar nos negócios, o que obriga, muitas vezes, a uma aprendizag­em por tentativa e erro.

Importa também desmistifi­car a ideia de que o investimen­to em startups tecnológic­as, ainda sem resultados consolidad­os, é meramente especulati­vo. Quem investe nestas empresas está a aplicar o seu dinheiro em conhecimen­to sofisticad­o, em ideias disruptiva­s, em inovação tecnológic­a, em propriedad­e intelectua­l, em talento diferencia­do... São negócios de elevado potencial de cresciment­o, cujo valor é muitas vezes intangível e difícil de rentabiliz­ar no imediato.

Neste sentido, o ecossistem­a português deve procurar evitar a morte prematura de startups, que é ainda muito elevada, e ajudar os nossos empreended­ores a lidar com os erros e a continuar a acreditar nos seus projetos.

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