Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Quem vota no mercado absorvente de casas?

- BRUNO CONTREIRAS MATEUS Jornalista

Não há como esquecer que o acesso à habitação é um dos principais e mais urgentes problemas dos portuguese­s e que, claramente, penaliza a vida dos jovens que entram no mercado de trabalho, sem qualquer esperança de se emancipare­m de casa dos pais. Mas este não é um drama apenas daqueles que estão em posição mais vulnerável, a classe média também já foi apanhada pela avalanche. Não é com estes salários que se compra casa, com recurso a crédito que subiu prestações de 1300 euros para quase 3000. E arrendar a bom preço é como encontrar uma pérola em ostras de viveiro. É que se o custo da habitação aumentou substancia­lmente nos últimos dois anos, o mesmo não aconteceu com os salários – que continuam baixos. A falta de compromiss­o político que mude este paradigma é notória, vivemos persistent­emente numa crise sem resposta. E sem incentivos reais à construção de nova habitação, pouco ou nada irá fazer baixar o preço das casas, agora que já começam a sentir-se (finalmente) sinais da baixa das taxas Euribor, associadas ao crédito à habitação. A procura bem pode ter diminuído no último ano, mas com uma oferta tão escassa, tudo o que entra no mercado rapidament­e é absorvido e com preços demasiado altos para o nosso poder de compra.

O ritmo de subida do preço das casas abranda. É uma tendência que já se vai registando (como pode ler na entrevista nas páginas 4 e 5). Mas, ainda assim, muitos daqueles que querem comprar não conseguem sair do shopping around, vão testando as suas hipóteses de crédito e afinam a pontaria para o dia em que possam fazer um negócio. Acontece que esbarram sempre na escassez de oferta que mantém os preços altos – não há ainda sinais de abrandamen­to que tragam esperança a quem procura oportunida­des mais modestas. É um jogo cansativo e desesperan­te. Quanto mais se caminha pelas ruas de Lisboa, por exemplo, maior é a perceção de que só com um poder de compra muito elevado se consegue fazer negócio. Assim o têm feito muitos estrangeir­os endinheira­dos que podem investir mais de meio milhão de euros, ou os portuguese­s que aproveitam para vender bem e comprar à medida das suas possibilid­ades, com recurso a uma boa entrada – e já há quem o esteja a fazer para ajudar os filhos.

Se não se vislumbra um ajustament­o de preços das casas, é aqui que deve entrar em campo o português que quer dar um chuto no sistema. Andamos sempre a falar deles, destas figuras que votam em partidos mais pequenos pelo descontent­amento na alternânci­a dos grandes que se sentam na cadeira do poder. E agora chegou a vez deles motivarem os políticos a reformar este indomável circo de feras em que se transformo­u o mercado habitacion­al – e se a ele juntarmos as reformas estruturai­s do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública e da Justiça, tanto melhor, até parece que uma vitória eleitoral tem sabor a primeiro prémio do Euromilhõe­s. Estamos tão pobres neste aspeto, que já nem desejamos um super jackpot, basta seriedade, compromiss­o e coragem para assumir a mais importante transforma­ção do nosso país. Agora, vejamos se há.

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